Eu também sou mulher! - [Pausado]

Vinte nove

Estava a caminho de casa, quando Raphael resolveu quebrar aquele silêncio.

- Por que você acha que Mikhael estaria brincando com você? - Ele me olha algumas vezes, mas, prestando atenção na direção.

Eu ainda estava em pedaços. Mas, resolvo responder.

- Você ouviu e viu tudo, não é? - Encaro ele, sabendo que ele havia espiado aquela situação. - Você conhece seu irmão a mais tempo do que eu, sabe que ele adora mexer com quem é inferior a ele. Mikhael vai sempre descontar suas frustrações em mim, pelo simples fato de estar zangado com você.

Raphael reflete.

- Alana, eu não conheço tão bem Mikhael assim, ficamos muito tempo afastados um do outro, nunca vi ele ficar ansioso por algo ou alguém. Se ele a beijou pela segunda vez, tem que haver ai uma razão. Sim, eu já estava estudando o comportamento de vocês desde a festa, eu sei que ele está agindo dessa maneira, por minha causa. Mas, eu nunca tive intenção de ocupar o lugar dele.

Viro a cara para a sua direção e respondo.

- Você não percebe que a sua presença faz com que seu pai se importe mais com você do que com ele? Porque afinal de contas, seu pai odeia seu irmão, não adimite que ele seja seu filho, mas, joga todas as empresas para cima do Mikhael. - Estava ficando irritada com Raphael por causa de Mikhael?

Ele me observa quando paramos na sinaleira.

- Você gosta dele? - Ele sorri com malícia.

Eu fico envergonhada na hora, sentindo meu peito aquecer e minhas bochechas entregar.

- Eu não disse isso em nenhum momento! - Respondo irritada por estar constrangida.

Ele ri.

- Alana, vocês dois parecem crianças birrentas. Não conseguem se compreender ainda, não entendem o que sentem e ficam confusos em negação constante. Mas, eu gosto disso. Me sentir como um gatilho de ciúme do Mikhael é muito divertido. - Ele aperta minha bochecha e volta a dirigir.

Viro a cara bufando e fico olhando a janela.

- Você sabe o que ele tem passado? - Continuo.

Ele assente com a cabeça positivamente e responde.

- Eu voltei por causa dele Alana. - Raphael afirma por fim.

Solto um longo suspiro.

- Mesmo que a gente não se entenda muito bem, eu desejo que ele seja feliz, ao menos que esqueça essa bobagem de odiar você. - Cruzo os braços ainda olhando pela janela.

Ele sorri singelamente e estaciona em frente ao meu prédio.

- Pense que tudo faz parte de uma novela, nós estamos sendo testados para nossos papéis em todos os sentidos todos os dias. Eu estou aqui fazendo o meu papel, você o seu e o Mikhael o dele. Quando você descobrir o seu verdadeiro objetivo nessa história, vai compreender melhor o que sente, vai adimitir a si mesma, vai se permitir amar e a se amar. - Ele vira meu rosto em sua direção. - Eu entendo o que você sente, sei que está com medo e querendo fugir como um gatinho assustado diante dos holofortes, mas, agora que eu sei o que Mikhael precisa, vou fazer o impossível para ajudá-lo. E eu estou lhe obrigando a participar disso. - Ele pisca para mim, me dá um beijo na testa novamente.

Eu sinto o carinho de Raphael e aquilo me conforta, ele se tornou um valioso amigo para mim, a partir do momento em que nos conhecemos na festa.

- Obrigada... Prometo que pensarei na proposta; por hora, quero distância do idiota do seu irmão. - Dou uma risada e saio do carro.