Oito

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Cecília me ensinou nesses seis anos, que nossos olhos são o relfexo da nossa verdadeira alma. Por um longo tempo, tomando um sorvete e vendo um filme, fiquei pensando na atitude daquele traste.

Seus olhos realmente diziam que ele não prestava, e vários alarmes dentro de mim gritavam dizendo para não ir até lá.

Quinta-feira chegou sem dizer bom dia, acordei toda descabelada e com olheiras profundas sem conseguir dormir.

Cheguei na loja, fiz a maquiagem obrigatória de sempre, e me pus a trabalhar, desde ontem ninguém chegava perto de mim, já estavam com medo do que eu pudesse fazer, menos a louca da Luiza que chegou me empurrando e me abraçando ao chegar no meu setor.

- O que deu em você? Tentei chamar sua atenção feito pisca-pisca de árvore de natal e nada. Que mundo você estava?

Comecei a dobrar as calças enquanto a encarava sem expressão, resolvi contar o que aconteceu e ela pirou outra vez.

- AQUELE ANIMAL... DISSE ISSO?

Suspirei.

- Como se eu já não estivesse acostumada. - Fui andando até os calçados masculinos feito um zumbi e bocejando.

- E NÃO DEVE SE ACOSTUMAR COM ISSO! - Ela me ajuda a organizar os pares. - Garota! Você tem um olhar e um rosto lindo, você deve se aceitar do jeito que é! Enquanto você não amar a si mesma, a quem você vai conseguir se entregar? - Ela me encara e segura minhas mãos sem que eu percebesse. - Você não pode continuar a ser rebaixada assim e aceitar Alana! Eu fico mais louca ainda e com raiva! Odeio quando isso acontece com você e sabe disso!

Eu sorrio ainda sonolenta.

- Ele esteve na minha casa ontem e entregou isso... - Mostro os bilhetes. - Ele quer que você vá junto.

- ... - Ela encara os bilhetes. - Tá falando sério? Isso é uma armadilha mulher!

Dou de ombros.

- A festa é formal, não tenho roupa para isso e eu sei que ele só convidou a mim e a você e não o resto dos lojistas. - Termino de organizar os sapatos e vou até as gravatas.

- Garota... Você realmente acha que não tem o que vestir? Esqueceu que você ganhou um vale presente de aniversário da loja da irmã do William? A New Moon? Cara aquela loja é tudo de bom, tem uns vestidos lindos! E usar o vale presente de R$ 250,00 vai valer a pena. A minha prima faz o teu cabelo e eu pago no próximo mês, já a maquiagem é por minha conta. Mas, nós temos que mostrar a ele quem é a Alana Mendez de verdade!

Fiquei pasma com aquela decisão de Luiza, ela apontou o dedo na minha cara dizendo que seria minha guarda-costas e que se Mikhael tentasse fazer qualquer coisa, mesmo ela sendo baixinha, ela chutaria as canelas dele.

Marcamos de ir na tal loja depois do trabalho, ela saía duas horas depois de mim e tinha que esperar ou ela enlouqueceria comigo.

Depois do expediente, minha cara parecia preocupada para quem a via, e realmente eu estava, não me sentia segura dessa decisão, mas, eu não iria sozinha. Também, eu nunca havia ido em uma festa formal de ricos.

Fiquei dando voltas no shopping, até chegar a frente da loja. Fiquei encantada com a qualidade dos vestidos, eram tão lindos. Será que o vale daria?

- Cheguei! - Luiza dá uns tapinhas no meu ombro.

- Oi... Você tem certeza?

- Não se peocupe, qualquer coisa eu tenho um plano B! - Ela mexe as duas sombrancelhas para cima e para baixo rapidamente. - Digamos que o plano B seja um presente de seu "Fado madrinho". - Ela ri alto, enquanto me puxava para dentro da loja.

Fiquei duas horas experimentando, fomos bem assistidas pela gerente, que era realmente um amor de pessoa e sua vendedora que também era fofinha como eu.

Quando eu experimentei o último, fui aplaudida.

- Meu Deus gata arrasou! - Luiza bate palmas. - Caiu feito uma luva! É esse!

- Luiza... - Sussurro. - Ele vale R$ 500,00. Não dá!

Ela faz aquele gesto de "Fale com minha mão" literamente a pondo na minha cara, e vai até o caixa.

- A entrada do vestido é um vale presente Rose, a outra parte você já sabe. - Pisca para a gerente irmã do William.

As duas pareciam estranhas, tinha algo esquisito por ai. Saímos da loja abraçadas pela gerente e a vendedora. E seguimos em direção a loja de calçados.

- Aquele perfume da J.Lo Glow, que eu te dei no seu aniversário ainda tem né? - Luiza pergunta pensativa.

- Sim, ele está praticamente cheio. - Falo enquanto chegávamos na loja de sapatos. - Ei... Eu tenho uma sapatilha para ir.

Ela me encara feito louca saida do hospício.

- SAPATILHA MINHA FILHA? - Dá uma sacudida de cabeça teatral, feito aquelas negras americanas em filme e fazendo um não na minha cara com o dedo indicador. - VOCÊ VAI SUBIR NA VIDA! E VAI SER EM SALTO AMOR!

Fiquei mais uma hora escolhendo um salto que me desse equilíbrio e combinasse com o vestido. Quando achamos, saímos dali e fomos comer um lanche na praça de alimentação.

Enquanto comíamos um subway, conversávamos sobre o meu cabelo e maquiagem. A conversa cessou após um longo suspiro meu.

- Sabe aquele frio na barriga quando sobe e desce o elevador? - Olhei para ela sugando rapidamente o refri de 500ml.

- Nunca tive... Bleeeeeerggg! - Ela arrota alto e chama atenção de bastante gente. - Pessoas, ou sai por cima ou sai pelo...- Tapo a boca dela.

- Aff! Se você fizer isso na festa de sábado, dou meia volta e volto para casa.

Ela dá risada da minha cara vermelha.

- Amor frio na barriga, ansiedade e até caganeira você terá, isso é normal. Mas, eu to contigo! Fica de boas! - Ela dá uns tapinhas no meu ombro me consolando.

- Tá... Agora quem foi o "Fado madrinho" que fez isso por mim? - Encaro ela desconfiada.

- Seu gerente amor... - Ela limpa a boca com o guardanapo despreocupada. - Contei a ele a sua situação assim que estava saindo, na verdade ele estava preocupado porque você estava feito zumbi do sono hoje. Ai, ele concedeu a magia do cartão de crédito super gold.

Fiquei boquiaberta, William é um louco, sua mulher vai pensar o que de mim?

- Antes que você proteste, a mulher dele não vai encher o seu saco porque depois que você contou a sua história toda para ele no recrutamento, ela já sabe quem você é, e ele só ligou avisando sobre o empréstimo do cartão, ela sendo um amor liberou desde que seja só dessa vez. - Ela ri. - Meu amor, seu chefe disse que gostaria de poder lhe ajudar mais, ele te vê como a filha que perdeu, então aceite o presente. Gerente como ele não vai existir em outro lugar. Seja grata.

Meus olhos se enchem de lágrimas, William realmente conhece toda a minha história, afinal no recrutamento com a psicóloga eu não havia passado, desesperada ele me viu na praça de alimentação e quis ouvir porque eu queria tanto trabalhar na sua empresa. Aquele foi nosso pequeno elo pessoal, desde então quando soube da morte da filha dele, que segundo ele, era muito parecida comigo aos vinte anos que tinha, ele passou a me "proteger" digamos assim, sem que ninguém percebesse, até Luiza descobrir, claro.

Interrompo as lágrimas e ergo meu queixo.

- Eu vou nessa festa, sim!

Luiza aplaude.

- Isso ae garota é nóis! - Dá risada enquanto me abraça.

Nosso dia termina cada uma cheia de sacolas, Luiza tinha o cartão da sua mãe emprestado para comprar as suas roupas. Nos despedimos na saída do shopping e fui direto contar para Cecília sobre o dia de hoje.

- Tenha cuidado filha... De qualquer forma estarei torcendo por você.

Meu dia se encerra com aquele sábio conselho e desejo de boa sorte. Tudo que me resta era o banheiro, uma gilete e água, afinal, eu parecia uma taturana, não iria dar esse motivo enorme para ser zoada na festa óbvio.

Eu também sou mulher! - [Pausado]Onde histórias criam vida. Descubra agora