Eu também sou mulher! - [Pausado]

Trinta e três

A sessão de fotos terminou em pura diversão. Izabel pegou champagne e serviu para todo mundo, inclusive os fotógrafos e maquiadores.

Raphael não comentou o motivo de Mikhael ter estado ali, ele permaneceu em silêncio sobre aquele assunto. Eu estava ainda chateada pelo meu coração ter estado ansioso e angústiado pela presença daquele idiota.

Sai daquele lugar segurando meu champagne, fui em direção a uma sala ainda cheia de caixas e o chão ainda em puro cimento. Havia um L com janelas de vidro de cima abaixo do teto ao chão que pegava uma visão inteira do bairro, era tudo lindo e "chic". Me sentei bem na frente da janela ao lado da que seria a mesa de Izabel futuramente e ali fiquei devaneando.

Senti a presença de alguém dois minutos depois, os três estavam ao meu redor, sentados no chão me observando. Eu fico completamente sem graça e eles riem.

- Não se isola chata! - Luiza me dá um empurrãozinho com o ombro. - Você é a futura capa da agência Izabel Ernandez.

Eu sorrio sem graça, quando sinto Izabel me abraçando de lado.

- Você foi perfeita Alana! E não digo isso só porque gosto de você. - Ele me faz encará-la, Izabel parecia meio vermelha por beber a segunda garrafa de champagne sozinha.

Raphael apenas observa a situação acompanhando a leve tontura de Izabel e rindo discretamente.

- Sabe... Eu vou te contar uma história... - Ela agora segura as minhas duas mãos querendo total a minha atenção.

- Faz mais ou menos quatro anos, que eu me apaixonei por um homem lindo, de alma limpa e transparente como água. Eu ainda era modelo nessa época. Nos conhecemos em um bar da cidade, quando um dos meus empresários anunciou que uma das empresas havia desistido de fazer contrato comigo. Aquilo me deixou arrasada. - Ela reflete de cabeça baixa, mas, logo continua. - Fui em um bar, um tipo de pub, ficava perto do meu apartamento naquela época. E lá eu conheci Alejandro Soledad. De família descendente de espanhóis como eu, mas, porém pobre.

Luiza parecia muito interessada na história assim como eu estava.

- Ele trabalhava de garçom, era sempre muito atencioso e querido por todos, chamava atenção de muitas mulheres que vinham as vezes só para vê-lo. Era muito gostoso também, garanto. - Ela fala rindo na última parte. - Acabamos nos envolvendo depois de vários cortes da minha parte, não queria me entregar de corpo e alma porque meu trabalho sempre fora prioridade. - Ela fica pensativa.

Reparei que Izabel ficava séria naquele momento.

- Ele me mostrou que o mundo dele poderia ser muito mais divertido que o meu, só que minha vida sempre fora muito regrada e cheia de impedimentos por parte da minha família. Eu fiquei grávida dele Alana...

Eu e Luiza nos entreolhamos impressionadas. Raphael estava sério, e beberica o último gole do champagne, ele já conhecia aquela história.

- Eu... - Ela começa a se emocionar, vejo seus olhos se encherem de lágrimas. - Eu fui expulsa de casa pelo meu pai e pela minha mãe, tive que arcar com todas as responsabilidades da minha atitude e decisão final. Eu queria ter aquela criança com o amor da minha vida, mas, nossa vida ficou deveras pior a cada dia que vivíamos juntos em um cubículo. Sem dinheiro e sem contratos de trabalho, Alejandro teve que sustentar a nós dois até que um dia... Ele fora sequestrado, espancaram ele e depois o jogaram na frente de nosso apartamento.

Vejo Izabel derramar as primeiras lágrimas e por fim acabo por começar a chorar também, Luiza começava a soluçar.

- Eu o encontrei em um dia de chuva depois que voltava do mercado com algumas poucas sacolas, eu estava de seis meses grávida de uma menina. - Ela continuava agora apertando minhas mãos. - Quando eu o vi, desesperada eu gritava, queria procurar por ajuda, mas, ninguém fazia nada, achavam que ele era bandido na vila onde a gente morava, até que quando tentei parar um carro para pedir ajuda, mas, ele não parou...

Aquilo me chocou, sabia como aquela história terminaria, não pensei duas vezes e abracei forte Izabel.

- Eu... perdi os dois... Na-naquele dia Alana... - Ela estava aos prantos.

Luiza e eu chorávamos abraçadas em Izabel agora. Raphael apenas nos observava respeitando o momento de desabafo dela. Deixei que ela chorasse até que conseguisse tirar aquela dor toda para fora de seu peito.

Por um momento o efeito do alcoól ajudou que ela estravazasse aquele segredo. Conhecer aquele lado de Izabel e ver que o meu problema não era o pior do mundo, foi o suficiente para aceitá-la como uma irmã mais velha de alma.

- Uma semana após o enterro de Alejandro e do meu aborto por causa do acidente, eu estava ainda no hospital...- Ela continua depois de pegar fôlego. - Minha mãe e meu pai reaparecem com a maior cara de pau do mundo, como se eu não soubesse que eles foram os culpados de tudo aquilo... Ele então me fazem uma proposta que se eu casasse de novo, eles deixariam sua herança para mim... Covarde e dependente de ajuda... Eu aceitei por fim. Ainda mais depois de saber que eles enterraram minha filha e meu Alejandro juntos. - Ela derrama as últimas lágrimas.

Eu estava sem saber o que dizer, mas, ela ainda segurava minhas mãos depois de todo aquele momento.

- Eu estou renovada... - Ela sorri. - Você não é a única que teve um passado ruim Alana, eu tive preconceito por amar alguém pobre, perdi uma filha e um útero incapaz de gerar outra vida. Você ainda pode ser muito feliz Alana e ter tudo isso sem ser presa a ninguém e a nenhuma família, essa é a minha mensagem que eu precisava te passar desde que te conheci. - Ela toca em meu rosto e acaricia, ela é uma pessoa cheia de amor, apesar de tudo. - Eu sinto muita simpatia por você e quero que me aceite como uma irmã mais velha, tenha certeza que eu jamais a machucaria.

Nos abraçamos e choramos mais um pouco juntas, Raphael acaba abraçando junto, e todos amontoados abraçados caimos de lado e rindo muito.

Aquela tarde e aquela sessão de fotos foram as melhores coisas que já aconteceram na minha vida. Eu agora, tinha uma irmã mais velha.

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Continua... 😉
Desculpem a demora. Espero que tenham gostado da pequena hitória de vida da Izabel.
Beijos de gordinha.