Quatro

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Que homen enjoado! Ele me fez despencar todas as roupas do estoque, somente para escolher uma única e mísera peça. Passei dez minutos dobrando novamente o resto que sobrou.

Enquanto eu dobrava as roupas, ele passeava pelo meu setor acompanhado de seu secretário magrelo de terno e gravata, que o seguia com os olhos mesmo que mexendo no tablet, e de vez enquando ajustava os óculos que insistia em cair até a ponta do nariz. O cara até que era bem apresentável, cabelos negros e olhos azuis, porém ele era pálido como um fantasma.

- Eu estou farto de modelos antigos... Preciso inovar. O que eu faço Rick? - Mikhael pergunta ao secretário, estando de costas para ele.

Como se estivesse flutuando, o homem de aparência fantasmagórica se aproxima de seu chefe.

- Senhor, o jantar é informal. Creio que uma camisa branca, um terno risca de giz, uma calça jeans e um sapa-tênis resolva toda a questão. - Rick ajusta os óculos novamente mantendo a postura extremamente profissional.

Mikhael volta a me olhar com malícia e se dirige a mim novamente.

- Traga-me a coleção nova de jeans deste ano!

- Toda? - Perguntei um pouco a contra-gosto.

- Você é surda garota? Precisa fazer exames urgêntes. Sim! Eu quero ver TODA a coleção. - Aquele olhar de nojo de novo era lançado a mim.

Sabem aquelas chaleiras de apito? Se eu fosse uma, já teria jogado a água de dentro de mim na cara desse idiota.

Eu não posso continuar assim, a dor está pior com o ar-condicionado da loja. Sinto pequenas tonturas e muita dor nas pernas, a cada pedido daquele desgraçado vai me deixando louca. Mas, se eu continuar a ser hostil dessa forma, eu vou acabar perdendo meu emprego e isto não posso me permitir. Ele está me provocando eu sei, só para ver até onde posso chegar.

Depois de vinte minutos ele escolhe as calças, as outras vendedoras só observam aquele morro de roupas em cima do balcão do meu setor.
Eu estava exausta, e ele queria ver o cansaço na minha face.

Com apenas três sacolas ele se despede, mas, retorna até a mim.

- Quando você reconhecer o seu devido lugar, já irá estar bem longe do meu shopping. Enquanto isso, irei te visitar mais vezes, até que você desista. - Ele ri maliciosamente.

Solto tudo que tenho nas mãos, agora ele me irritou.

- Você não irá ter esse prazer, isso eu garanto. - Meus olhos fuzilam os dele.

- Vamos ver. - Ele me observa de cima a baixo, dá as costas e sai da loja.

Todos me encaram, eu saio bufando e resmungando coisas inaudíveis.

Absurdo! Quem esse projeto de homem pensa que é? Ele não pode fazer o que bem entende só porque é dono desse shopping!

Vou guardando as roupas enquanto fico resmungando sozinha. Ninguém se aproximou do meu setor enquanto isso. Dobrei todas aquelas roupas com raiva. Então, quando fui dar o primeiro passo para subir a escada do estoque, minhas vistas ficaram negras e desabei. A dor estava forte demais para o meu gosto.

Ouvia uma gritaria ao fundo, e quando acordei estava em um hospital tomando soro em uma maca. Luiza estava do meu lado apavorada.

- Garota o que houve? O que aquele safado fez com você? - Ela segurava a minha mão, com uma expressão preocupada.

Meio tonta me sentei na cama.

- Pelo amor de Deus! Eu só estou com cólicas! - Faço cara feia.

Luiza suspirou.

- Descanse! O chefe vai vir te buscar depois. Vou tomar um café, to tremendo desde a hora que ouvi você caindo.

Olho para ela dessa vez com carinho.

- Obrigada. - Agradeço por ela estar comigo.

Luiza faz um gesto com a mão que me manda para "aquele lugar" e bota a língua para fora em sinal de provocação. Eu apenas dou risada.

A tontura continua, e de repente me vem o sono. A dor já não estava mais ali, mas, a raiva daquele cara sim.

Eu também sou mulher! - [Pausado]Onde histórias criam vida. Descubra agora