Estela e a Fera - Parte 3

50 17 18
                                    


Capítulo 2

"Eu amaria um cacto como amaria uma flor"

Estela jogou as moedas sobre o balcão da cafeteria e correu até a Le Palais, com o copo de café da Starbucks nas mãos. Entrou apressada no prédio e, depositando a bolsa em cima da sua mesa, rumou até a porta do chefe. Abriu-a com cuidado e, diferente da última vez, ele não permanecia de costas, mas ela não pôde vê-lo, pois ele estava de cabeça baixa e a tela de seu notebook cobria o resto de sua face.

A jovem abaixou a cabeça e desviou os olhos para o chão, pigarreou sutilmente num gesto gentil para que ele tivesse tempo de se levantar e se virar ou fazer qualquer outra coisa para se esconder se isso fosse o que ele quisesse fazer.

Mas nenhum arrastar de cadeira ou passos foram ouvidos. Incerta, Estela se dirigiu à mesa de seu chefe com os olhos cravados no chão.

– Perdeu alguma coisa, Srta. Estela? – questionou Will com a voz cheia de sarcasmo.

Estela reprimiu o desejo de xingar a si mesma em voz alta por aquela ideia tão estúpida e ergueu a cabeça. Por um momento, enquanto seu cérebro se acostumava à imagem daquele rosto todo cicatrizado, ela vacilou. Nunca tinha visto nada como aquilo, todas aquelas linhas... Mas sua hesitação durou apenas alguns segundos, embora tivessem sido segundos suficientes para que o Will percebesse que a abalara.

– Aqui está, senhor – ela colocou o copo sobre a mesa e abriu um sorriso.

Will conhecia aquele tipo de sorriso. Geralmente, quando as pessoas olhavam para ele era com horror ou com aquele sorrisinho de pena. Ele preferia infinitamente o primeiro ao segundo. Odiava ser motivo de pena para quem quer que fosse.

– Pode ir – disse, irritado por ela ainda continuar ali.

– Com licença – pediu, mas sequer teve tempo de se virar.

– Mas o que é isso? – Will fez uma careta e fuzilou-a com o olhar. – Eu pedi com canela e açúcar mascavo, Estela, será que é tão difícil assim acertar algo tão simples?

– Eu posso buscar outro para o senhor. – Estela caminhou a passos rápidos até Will e tomou o copo das mãos dele de forma desajeitada, fazendo com que parte do líquido se derramasse em sua calça.

– Droga, garota desastrada! – reclamou e levantou-se de modo abrupto.

Estela sentiu-se estúpida pela segunda vez naquele dia. Sabia por que estava distraída. Descobriu, pela manhã, que a editora do pai ameaçava baixar as portas. Aquele negócio era parte da vida dele e da esposa. Era um sonho que ambos haviam lutado muito para conquistar. A notícia afligiu Estela quando Lilian lhe contou. Não conseguira se concentrar em mais nada depois e agora estava cometendo uma atrapalhada atrás da outra.

– Desculpa – ela pediu e reprimiu o choro que ficou entalado em sua garganta.

– Sai da minha frente – rosnou Will.

– Desculpa – sussurrou mais uma vez e saiu daquele ambiente.

Com a garganta ainda apertada, Estela sentou-se em sua cadeira, uniu as mãos e sussurrou para os céus:

– Deus, não permita que eu perca esse emprego. Não permita que Will me demita. O senhor sabe o quanto eu preciso disto por meus pais.

ღღღ

Por incrível que pareça, Estela não fora demitida. Deus certamente havia atendido suas preces, pois o dia tinha transcorrido normalmente, com o mau humor habitual de Will, mas nenhuma queixa ou carta de demissão havia parado em sua mesa.

Para Minha Querida Amiga SecretaOnde histórias criam vida. Descubra agora