Capítulo 1
A primeira coisa que Ester fazia ao chegar em casa, após a escola, era verificar seu porta-cartas. Seus olhos brilhavam em expectativa, ansiando para que a tão sonhada carta chegasse. Se isso acontecesse seria o seu maior sonho realizado. Porém, como em todas as manhãs do último mês, seus olhos brilhantes se entristeciam ao encontrar o porta-cartas vazio.
A jovem soltou um longo suspiro desanimado, não sem antes olhar para os dois lados da rua, em um ato esperançoso de encontrar algum carteiro em direção à sua casa com um envelope nas mãos.
– Eu fui uma besta por acreditar em uma baboseira daquela! – Ester suspirou, fechando o porta-cartas com mais força do que o necessário. – Jamais escolheriam a minha carta no meio de milhares. Eu deveria ter mandado um e-mail. Uns dez e-mails, talvez, seriam suficientes!
Ester encarou a tela do celular, indecisa sobre comunicar o ocorrido às suas amigas do Unidas pela Leitura. As integrantes de um grupo do aplicativo de mensagens instantâneas, além de compartilhar o amor pela leitura, escrita e variados assuntos, também aguardavam ansiosas para que a carta de Ester chegasse. Nas últimas semanas, não se falava em outra coisa e todas, sem exceção, torciam para que o sonho da jovem escritora se realizasse. Ester, entretanto, não queria que as amigas, assim como ela, ficassem decepcionadas.
Com a mochila em um dos ombros, Ester entrou em casa, sentindo como se no interior do objeto carregasse muito mais do que um caderno e três livros. Parecia que havia uns dez livros de Química na mochila listrada.
– Mãe, vou para meu quarto.
– Não vai almoçar? – Sua mãe perguntou, estendendo, logo em seguida, um envelope pardo. – Olha o que chegou hoje cedo para você. Acho que é importante.
– Mãe, por favor, não brinca comigo. É sério? Não me diga que é uma carta do programa...
– Veja você mesma.
Em dois segundos, Ester estava ao lado da mãe, observando detalhadamente o envelope, temendo não encontrar o esperado. Ignorando o nervosismo, rasgou a parte superior do envelope. Ester não podia acreditar, ela gargalhava à medida que os pedacinhos pardos se espalhavam pela mesa como uma pequena chuva.
Entre risos e lágrimas, ela se deparou com uma folha impressa. Seus olhos grandes e castanhos iam da esquerda para a direita conforme lia todo o conteúdo.
– Ai, meu Deus. É verdade mesmo! Não acredito nisso. – Ester se abanava com a carta que acabara de ler. – Mãe, eu vou morrer!
– O que houve, filha? Você está branca feito papel. É algo grave?
– Mãe, minha carta foi a escolhida. – Ester balançava a folha de um lado para o outro, afoita e animada. Não se contentando, começou a dar pulinhos por toda a sala. – Entre milhares de fãs do Jensen Ackles espalhadas por esse Brasil, eu fui a privilegiada! Eu vou morrer!
– Tem certeza que eu não preciso ir junto? Não sei se isso é confiável.
– Mãe, eu já tenho dezesseis anos, fala sério!
– Tudo bem, não se esqueça de me ligar assim que chegar lá, tome cuidado e....
– Mãe, estamos em um programa de TV! – Ester sorriu amarelo enquanto uma câmera focava do seu rosto até a limusine preta estacionada em sua porta. Os vizinhos estavam amontoados em volta de sua casa, e Ester se envergonhara pelas atitudes de algumas garotas que gritavam o nome de Jensen Ackles. Em pensamento, torcia para que as gravações fossem editadas antes de ir ao ar no programa respeitado das tardes de domingo.
– Vamos. – Uma repórter de óculos sorria exageradamente para a câmera e Ester revirou os olhos diante da ação. Eram sete da manhã e se não fosse por Jensen Ackles não acordaria tão cedo em pleno domingo. – Hoje você terá um dia especial. Um dia que marcará sua vida para sempre.
– Tenho certeza disso! Quando vou ver o Jensen? – Ester perguntou assim que entrou na limusine, onde o motorista acabara de lhe abrir a porta.
– Acalme-se, Ester, temos o dia todo. – Julia, como Ester descobriu que se chamava a repórter, sorriu mais uma vez para o rapaz atrás da câmera que acompanhava cada um dos momentos da adolescente rumo ao seu dia de princesa. Era estranho ter cada uma de suas ações gravadas por um câmera man que parecia o Homer Simpson. Ester desviou os olhos para a janela, onde pôde ver algumas crianças correndo, aos gritos, atrás da limusine. Sentindo as bochechas queimando de vergonha, ela puxou o braço da repórter que não parava de sorrir em frente às câmeras explicando ao expectador como Ester foi a escolhida para um encontro inesquecível com Jensen Ackles.
– Ei, Julia – a jovem sussurrou, cobrindo o rosto com as mãos como se o gesto a escondesse do que acabara de presenciar –, essas imagens serão cortadas, não é?
– Então, Ester, como se sente? Nossos expectadores estão curiosos para saber qual é a sensação de estar próxima a Jensen Ackles – disse Julia, em um tom animado, dando início à gravação, após um breve intervalo onde afirmara, com a câmera desligada, que Ester não deveria se preocupar com o escândalo dos vizinhos. Nada daquilo iria ao ar.
– Além do estômago embrulhando? – Ester esboçou um pequeno sorriso, revelando um par de covinhas. Ainda não acostumara com uma câmera fixa em seu rosto o tempo todo. – Estou de boa. Não vejo a hora desse carro parar e eu encontrar o Jensen. Eu vou poder tirar foto com ele e pedir autógrafo, de verdade?
- Claro, querida!
- Por que eu li o regulamento todinho, e está bem claro que eu terei um dia incrível com o Jensen, mas até agora estamos rodando por horas nesse carro. Posso pegar mais chocolate? Meu refrigerante está quente. Tem coxinha?
– Fique à vontade. – Julia encarou a câmera, respirando fundo, fazendo um sinal com a mão como se os dedos fossem uma tesoura. – Douglas, edita essa parte, ok? – A repórter abriu um sorriso largo. Um sorriso que não convenceu Ester, embora estivesse distraída com seu chocolate. – Estamos chegando.
– Chegando até o Jensen, não é?
– Sim, mas antes você terá seu dia de princesa, afinal você leu o regulamento, certo?
– Li vinte vezes seguidas! Estou muito nervosa! Você já viu o Jensen? Claro que sim, todo mundo o viu naquele seriado fantástico. Bem que vocês poderiam ter chamado o Jared Padalecki, né? Seria meu sonho duplo, mas eu me contento com o Jensen. Porque o Jensen é o Jensen! Eu vou poder tocar no cabelo loiro dele? Ele não é como aqueles caras famosinhos nojentinhos, não, né? Eu acho que não, ele parece ser muito simpático, além de lindo!
– Por que não fala sobre sua admiração por ele? Como começou?
– Eu amo o Jensen Ackles por causa do seriado! Até tenho um personagem que é a cara dele.
– Nossa produção disse que você é escritora. Tão novinha e tão talentosa!
- Pois é! Todos me dizem isso, mas não me considero uma grande escritora assim.
– Bom, li alguns trechos dos seus livros no Wattpad e são ótimos. Você tem um futuro promissor na escrita. Tenho certeza que Jensen Ackles ficará orgulhoso em ter uma fã tão brilhante!
Com aquelas palavras, Ester sentiu-se ainda mais emocionada. Passara a contar cada um dos segundos para que, finalmente, encontrasse com Jensen Ackles.
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Para Minha Querida Amiga Secreta
Historia CortaAmigo secreto é uma brincadeira bastante tradicional, que geralmente ocorre na época do Natal, que consiste em trocar presentes, entre colegas de trabalho, de escolas, e de familiares e amigos, desconhecidos. (Fonte internet) Nessa perspectiva 20 m...