Capítulo 3
"Esse era o preço por ter aberto seu coração."
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Estela não o havia conquistado com uma rosa, mas ela não havia desistido. Sempre havia algo novo para ele. Num dia uma torta, noutro um bolo e até mesmo livros. Will já havia reparado como ela gostava de livros e como tinha um ótimo gosto para eles.
Embora ele estivesse sempre sério, Estela jamais deixava de sorrir para ele e ser doce. Odiava admitir, mas havia se habituado àquilo. No dia em que Estela não apareceu para trabalhar, Will foi tomado de um sentimento pouco conhecido para ele.
Soube que ela estava doente e sentiu sua falta. Ele sentiu falta da alegria e da luz que ela emanava. Apesar de ser manhã e o sol despontar no sol, parecia tudo muito nublado sem Estela.
Quando Estela retornou e voltou ao trabalho, ela surpreendeu-se ao encontrar, em cima da sua mesa, um embrulho. O papel que envolvia o presente parecia um espelho dourado. Ela abriu-o com cuidado, pois queria conservar o papel intacto. Ficou maravilhada ao ver que se tratava de uma edição rara e antiga. Lembrou-se de ter comentado aquilo apenas com Cora, mas sabia que certamente não havia sido ela que o comprara. Isso significava que Will havia perguntado sobre ela para amiga e um sorriso surgiu em seus lábios ao pensar que, nem que fosse um pouquinho, Will se importava com ela.
Entrou toda sorrisos e com o café em mãos na sala do chefe apara agradecê-lo.
– Obrigada, senhor, pelo presente! – ela disse, alegre.
Will não respondeu. Em vez disso juntou as sobrancelhas e franziu o nariz. Estela soltou o ar e revirou os olhos.
– Já vi que não está de mau humor, mas sim de péssimo humor!
– Desculpe, Estela – suspirou Will.
Alguns segundos se passaram até que Estela se desse conta de que, sim, Will havia mesmo pedido desculpas. Ele nunca pedia desculpas. O fato era um progresso e tanto, mas ela não usou aquilo contra ele como teria feito a um amigo. Ainda temia que ele a levasse a mal e interpretasse sua brincadeira de forma errada.
– Tenho muito trabalho e não sei se vou conseguir terminá-lo a tempo. Vou acabar levando Le Palais a falência – concluiu e Estela viu verdadeiro pesar nos olhos dele.
– Eu posso ajudar, posso ficar além do meu horário – ofereceu-se.
Will não sabia como podia ainda ficar surpreso com a generosidade de Estela. Ela era assim, sempre querendo fazer mais pelas pessoas.
– Nós não pagamos hora extra nessa empresa – ele informou.
– Eu sei, senhor – ela riu. – Por que sempre acha que quando alguém se oferece para ajudá-lo é por que quer algo em troca? Algumas pessoas, apenas querem ser úteis e fazer um favor a um amigo.
Com a sobrancelha erguida, Will direcionou seu olhar a ela. Ele não chegou a sorrir, mas ela viu os cantinhos dos lábios dele erguerem-se sutilmente.
– Sendo assim, aceito sua ajuda, Srta. Estela.
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Não foi uma nem duas, mas várias noites Estela passou ao lado de Will, na sala dele, ajudando-o a analisar e organizar contratos e toda sorte de documentos. Apesar do cansaço, era prazeroso para ambos obter a companhia um do outro. Estela já podia sentir como o chefe se encontrava mais aberto. Às vezes se pegava pensando nas conversas que ambos tinham como quando ele lhe perguntara se ela tinha algum apelido.
– Tenho, mas o senhor vai achar bobo – ela sorrira e suas bochechas coraram.
– Estou curioso – ele lhe dissera com aquela voz rouca que fazia com que Estela precisasse reprimir um suspiro. – Eu prometo que não irei zombar de você. Agora me conte.
– Quando eu era pequena fui apelidada de Estrelinha.
– Por causa do seu nome? – ele quisera saber.
Estela corara ainda mais.
– Não exatamente. Joana – explicou ela –, a mulher que me criara no orfanato antes de eu ser adotada, dizia que me chamava assim, pois meus olhos brilhavam nas noites mais escuras.
– Ela tinha razão. – Estela ergueu os olhos para ele e, pela primeira vez, viu o brilho de um sorriso brotar naquele rosto. – Você é luz, Estela, é capaz de iluminar qualquer escuridão, até mesmo dos corações mais sombrios.
Estela pensava nisso, com os cotovelos sobre a mesa e o queixo descansando nas mãos, quando uma sombra surgiu á sua mesa, fazendo-a voltar ao presente. Ela olhou para cima e viu Gastão.
– Vim trazer isso – ele jogou uma folha em sua mesa.
Ela analisou o conteúdo das palavras e sobressaltou-se, ansiosa.
– Will estava esperando por isso com urgência, vou correndo levar para ele!
A jovem caminhou rapidamente até a sala do chefe, deixando Gastão ali. Ele aproveitou o momento para colocar sobre a mesa de Estela Romeu e Julieta. Particularmente, ele não apreciava leitura e muito menos aquela história boba e dramática, mas estava disposto a tentar todos os meios para conquistá-la.
Quando ela voltou, Gastão já não se encontrava mais lá e Will estava ao seu lado. Ela fez um muxoxo, pois teria que ir até a sala dele, já que Gastão havia redigido algumas clausulas erradas. Estrela olhou para o chefe que deu de ombros e concedeu-lhe um sorriso sutil. Ela se dirigiu ao elevador, mas, devido a demora, decidiu descer as escadas.
Will a seguiu com o olhar e achou graça na forma como ela agitava o corpo com ansiedade. Logo que ela desapareceu do seu campo de visão, ele encostou o quadril na mesa dela e sorriu para os objetos ali. Havia, agora, um quadro pequeno com a foto do que, ele julgou, serem os pais dela. A moça tinha cabelos dourados, diferente do homem que possuía cabelos escuros como a noite. Era um lindo casal. Também, um pequeno ursinho de pelúcia se encontrava encostado ao porta-canetas. Ele pegou o fofo enfeite nas mãos, depois retornou-o ao seu lugar. Em seguida, pegou o volume de Romeu e Julieta. A capa e a edição eram novas.
Curioso, Will abriu o livro. Na primeira página havia uma dedicatória.
"Para Estela, com amor. De seu querido Gastão."
Will piscou, incrédulo e sentiu seu peito arder quando, amargamente, constatou que Estela e Gastão estavam juntos e ele, como um perfeito idiota, não sabia de nada. Na verdade, até chegara a acreditar que ela gostasse um pouquinho dele.
Fora um iludido. É claro que Estela se apaixonaria por Gastão, o homem que possuía um rosto lindo e perfeito, enquanto ele era monstruoso com aquela face transfigurada.
Decepcionado, Will constatou que não havia ninguém no mundo em que pudesse confiar. Até mesmo Estela, em quem ele tinha acreditado, o apunhalara pelas costas. Esse era o preço por ter aberto seu coração.
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Para Minha Querida Amiga Secreta
Short StoryAmigo secreto é uma brincadeira bastante tradicional, que geralmente ocorre na época do Natal, que consiste em trocar presentes, entre colegas de trabalho, de escolas, e de familiares e amigos, desconhecidos. (Fonte internet) Nessa perspectiva 20 m...