Conheci Teobaldo, Téo, por intermédio de uma amiga em comum.
- Vocês dois são introspectivos e gostam do mesmo tipo de música estranha, aposto que se darão muito bem! - ela disse em tom de deboche, mas eu sabia que a intenção era das melhores.
Júlia marcou o encontro numa pizzaria com outros amigos, assim não pareceria tanto com um encontro às cegas. Eu cheguei cedo demais, para variar, e pedi a mesa para onze pessoas como combinado. Mas não consegui me sentar, já que nosso grupo ainda não tinha trinta por cento de presença. Considerando que só eu havia aparecido até então, a porcentagem se parecia mais com dez, arredondando para cima.
Tudo bem, pensei comigo mesma, posso ficar observando a chuva pela entrada da pizzaria enquanto espero.
Eu gostava de momentos calmos como aquele, em que podia ouvir o barulho dos pingos batendo na marquise sobre a minha cabeça e a enxurrada no meio-fio. Aquilo me dava um pouco de tempo para pensar no que estava fazendo e no porquê de ter aceitado a ideia maluca de Júlia.
Eu saíra recentemente de um relacionamento confuso e disfuncional, e não precisava ocupar minha cabeça com outro cara por enquanto, ou pelo menos foi o que eu disse a ela. Mas Júlia dissera que Téo era uma aposta vencedora, e eu tive que rir e concordar com o absurdo daquilo tudo. Se nada do que Júlia planejara acontecesse, ao menos eu teria um novo amigo.
Um rapaz também observava o movimento naquele início de noite, e fumava um cigarro. A fumaça se dissipava rapidamente pela umidade no ar, mas o odor característico chegava mesmo assim às minhas narinas. Eu não me incomodava com o cheiro, mas ele parecia fazer o possível para soprar a fumaça para o outro lado, e eu não pude deixar de achar aquilo um tanto quanto atencioso.
Ele usava uma camisa de flanela xadrez aberta sobre uma camiseta cinza sem estampa nenhuma, e os cabelos escuros formavam pequenos cachinhos sobre sua cabeça, agora já um pouco desfeitos graças à umidade. Provavelmente também esperava os amigos, assim como eu, e era os dez por cento do seu próprio grupo ainda ausente.
Ele lançou um olhar de esguelha na minha direção, e percebi que eu o estava encarando. Voltei minha atenção para a chuva, e logo vi as galochas vermelhas de Júlia se aproximarem, espalhando respingos por toda a parte.
- Ora ora! Pelo visto nem precisaram de mim! - disse, animada, enquanto seus olhos iam de mim para o rapaz a alguns passos de distância.
E pelo olhar perdido de cachorro que caiu da mudança que lancei a ela, Júlia logo percebeu que precisávamos dela, sim.
- Tainá, esse é o Téo! – Indicou o rapaz com a cabeça, e percebi que ele nos observava com curiosidade.
Nossos olhos se encontraram, agora sem a cortina de fumaça e indiferença anônima entre nós, e notei que os dele eram de um castanho cor de Nutella. O pensamento cruzou meu cérebro e atingiu meu estômago em cheio, e eu agradeci mentalmente pelo barulho da chuva que cobrira o ruído nada gracioso saindo de meu abdômen.
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Para Minha Querida Amiga Secreta
Kısa HikayeAmigo secreto é uma brincadeira bastante tradicional, que geralmente ocorre na época do Natal, que consiste em trocar presentes, entre colegas de trabalho, de escolas, e de familiares e amigos, desconhecidos. (Fonte internet) Nessa perspectiva 20 m...