Um Aroma Sem Igual - Parte 3

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Organizo os caixotes em cima da mesa da sala antes de preparar o jantar.

Não cozinho nada muito sofisticado, só uma velha receita de família: a sopa eslava da vovó.

Enquanto preparo a sopa, lembro-me de quando Jules e eu éramos crianças e costumávamos dormir na casa de nossos avós. Vovó sempre preparava sua deliciosa sopa eslava para o jantar. Depois nós nos sentávamos perto da lareira e ouvíamos vovô contar histórias sobre os homens da Sibéria e seus trenós puxados por huskys siberianos.

Bons tempos.

Enquanto janto, aproveito para procurar em meus livros sobre arranjos de flores, alguma coisa que fale sobre coroa de rosas. E não demora muito para que eu encontre.

Preciso de um ferro e de oito rosas.

Até aí tudo bem, o problema vai ser trançar as rosas no arame.

Vasculho meu equipamento de jardinagem até encontrar um arame leve e de fácil manejo.

Com cuidado, corto oito botões de rosas vermelhas que estão plantadas no peitoril da janela e retiro seus espinhos com uma faca específica para rosas.

Delicadamente, tranço as rosas no arame. Demoro mais tempo do que imaginei para trançá-las, mas o resultado fica melhor do que o esperado, mesmo tendo de colher mais duas rosas para que a coroa fique perfeita.

Guardo a coroa junto com os outros arranjos.

E antes de subir a escada, dou uma olhada em minha casa. Há vasos de flores por todos os lados, sacos de terra preta, utensílios de jardinagem. Esse é o meu mundo, um mundo belo, porém, solitário. Não vou negar que amo estar entre as flores, mas gostaria de dividir essa paixão com alguém especial. Alguém que também ame flores.

Subo as escadas sentindo o cansaço tomar conta de mim, então decido tomar um banho antes de dormir.

A água da banheira não está nem muito quente nem muito fria, está na temperatura certa. Tiro minha roupa e entro na banheira. Cada parte do meu corpo é invadida pela sensação reconfortante que o contato com a água provoca, como se todos os meus músculos relaxassem instantaneamente.

Chega a ser inebriante.

Fecho meus olhos e me permito um tempo a mais no banho.

E então eu a vejo. Vejo seus olhos profundos e hipnotizantes, seu belo sorriso que ilumina meu dia nublado e escuto sua voz que aquece meu peito.

O que estará fazendo a essa hora da noite? Estará dormindo, trabalhando ou estudando? Como será seu nome? Será que pensa em mim tanto quanto eu penso nela?

Deito na cama, mas, embora eu me sinta cansado, não tenho sono.

Tento ler um pouco, mas não consigo me concentrar. Como passei o dia todo ocupado com os arranjos, não pensei muito nela, contudo, agora que estou deitado aqui, fitando a tinta descascada do teto do meu quarto pergunto-me se ela estará disposta a dividir o mundo dela comigo e fazer parte do meu.

Solto um suspiro pesado e passo as mãos pelo meu rosto.

Não demora muito para que eu pegue no sono.

Sonhei com ela essa noite.

Bem, é a segunda vez que sonho com ela na verdade. No primeiro sonho, eu estava na floricultura de minha irmã, fazendo a entrega da semana, quando a vi pela vitrine; ela sorriu para mim e acenou. No segundo sonho, eu estava sentado na primeira fileira de um teatro admirando ela em sua atuação; nunca havia visto uma apresentação de ballet, na verdade nunca me interessei, mas vendo-a atuar como Giselle, tão linda, tão graciosa, tão deslumbrante... Simplesmente perfeita! Eu passei a gostar de ballet.

Para Minha Querida Amiga SecretaOnde histórias criam vida. Descubra agora