Capítulo 5
"Ela era cada ponto brilhante nas sombras, indicando o caminho certo."
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Estela não apareceu na Le Palais no dia seguinte. Nem no seguinte. Nem no seguinte. Nem no seguinte. E, assim, passou-se uma semana e meia. Will sentia-se profundamente triste como se houvessem cavado um buraco em seu peito, que somente uma pessoa poderia preencher com amor e ele sabia exatamente quem era.
No entanto, sua mente lhe dizia que ele não era digno dela, embora seu coração o incitasse a procurá-la. Repetidamente, Will ouvia a voz de Estela em sua mente lhe dizendo que ele devia superar aquilo, que ele não era horrível como se via. Havia possibilidades de que ela estivesse certa, talvez.
Will levantou-se de sua cama e foi até o banheiro. Ele evitava olhar-se no pequeno espelho na parede. Odiava sua imagem. Mas talvez Estela estivesse certa e, se ele queria que as pessoas o aceitassem, o primeiro a se aceitar teria que ser ele mesmo.
Olhou para o próprio reflexo e encarou-se. Analisou a si mesmo.
Quando o acidente com o taxi aconteceu, Will não se lembrava de muita coisa. Toda a recordação que possuía era a imagem de um grande veículo vindo em direção a eles. Apesar de estar usando o cinto, vários fragmentos de vidros perfuraram seu rosto. Logo que acordou e os médicos lhe disseram que, apesar de terem reconstruído boa parte da sua face, algumas cicatrizes infelizmente permaneceriam com ele, Will sentiu seu mundo acabar.
Ele fechou os olhos por alguns segundos e tornou a abri-los. Ligou o chuveiro, e despiu-se. Enquanto a água quente escorria sobre seu corpo, ele pensou nas pessoas que o haviam rejeitado. Aqueles que o veneravam quando ele tinha tudo, afastaram-se quando descobriram sua aparência e, as poucas que se importavam com ele com sinceridade, ele repeliu de sua vida. Ele tornou tudo vazio.
Então, tudo mudou com a chegada de Estela. Aquela garota era uma estrela, como sugeria seu nome. Ela era o Sol. Ela era cada ponto brilhante nas sombras, indicando o caminho certo. Ela havia virado seu mundo do avesso e, pouco a pouco, acabara entrando no seu coração, derretendo a camada de gelo com que ele mesmo o contornara.
Estela havia ensinado muito a ele e Will chegou a conclusão de que, se alguém no mundo o amava verdadeiramente e a quem ele também amava, se havia alguém que o tornava uma pessoa melhor, ele simplesmente não podia deixá-la escapar.
Will desligou o chuveiro, pegou a toalha e, em vez de vestir seu terno e sua calça social, optou por um jeans, uma camisa escura e um boné vermelho. Ele queria aparecer para o mundo, mas faria isso aos poucos. Precisava de um tempo para se expor, embora aquele fosse um começo.
Pegando as chaves de seu carro, ele dirigiu até a Le Palais. Os funcionários não conseguiram esconder o espanto quando o viram. Geralmente, Will era o primeiro a chegar e o último a sair e era raro ter uma visão dele.
– Olá – ele saudou a recepcionista que, ainda impressionada, demorou alguns segundos para exibir um sorriso e responder.
– Olá, senhor.
– Você sabe me dizer se Estela veio hoje? – perguntou esperançoso.
– Ela não veio, senhor.
Will baixou os olhos e mordeu o lábio inferior.
– Eu posso arrumar o endereço dela para você – uma voz disse ás suas costas.
Virando-se, Will deparou-se com uma Cora visivelmente emocionada. Ele elevou os lábios timidamente para ela em sinal de gratidão.
– Eu já volto, me espere aqui.
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Para Minha Querida Amiga Secreta
Short StoryAmigo secreto é uma brincadeira bastante tradicional, que geralmente ocorre na época do Natal, que consiste em trocar presentes, entre colegas de trabalho, de escolas, e de familiares e amigos, desconhecidos. (Fonte internet) Nessa perspectiva 20 m...