Para Minha Querida Amiga Secreta

LIBERDADE DE VIVER - Capítulo 3

Celi era a garota, e o homem, meu avô, falecido há dois anos. Nunca vi um casal mais lindo que eles. Nem meus pais, com todo aquele cuidado um com o outro conseguiam ser tão lindos quanto meus avôs.
Vovô tinha muito talento com a música, sua voz era maravilhosa. Lembro quando ele cantava para mim sempre que ia visitá-los. Insistiu para que eu aprendesse a tocar violão, me ensinava passo a passo com a maior paciência do mundo.
Vovó deixava de fazer o que tivesse fazendo apenas para escutá-lo. E eu admirava a forma como se olhavam. Um brilho tão intenso e cheio de vida sempre estava ali, presente em seus olhos. Transmitiam uma cumplicidade tão verdadeira e pura que ficava difícil de não se derreter e sonhar com um amor parecido com o deles. 
​Eles desistiram de tudo para cuidar de meu pai. Então eu...
​- Não estou dizendo isso.
​- O quê? Não disse nada.
​- Você é exatamente como eu era na sua idade meu anjo. Seus olhos e expressões dizem tudo.
​- Então não quer que eu desista do meu curso para cuidar do meu bebê?
​- Claro que não! Você deve continuar. Naquela época não tínhamos toda a tecnologia que temos hoje. E também, você tem a nós para apoiá-la. Meus pais me ajudaram muito quando precisei deles, mas minha saúde não me permitiu continuar meu curso, e claro naquela época uma gravidez antes do casamento não era tão aceitável assim.
- Quero que você faça o que não pude fazer, termine seu curso, case-se com seu noivo. Realize aquilo que você sonhou.  Já têm vinte e três anos, pode fazer isso. Esse bebê lhe trará muita alegria meu amor. Ao contrário de mim, você já está quase concluindo o curso. Adiará apenas o seu ingresso na profissão.
​- Você se arrepende de não ter continuado? De ter conhecido meu avô? De não ter escutado seus pais?
​- Nunca! Nem mesmo nos momentos mais difíceis. Eu amei e sempre vou amar o seu avô. Ele foi mais que um presente que a vida me deu, que Deus me deu. Vocês são meus bens mais preciosos. Jamais poderia me arrepender dessa felicidade.
Seus olhos mostravam toda a verdade em suas palavras, com certeza Celi seria uma ótima atriz. Não que eu ache que ela esteja encenando. Nunca! Mas por ela se dedicar e viver cada palavra dita. Ela brilharia em qualquer papel a ela oferecido. Não me admira o vovô ter se apaixonado tão intensamente por ela.
​- Obrigada vovó.
​Digo já não segurando as lágrimas em meus olhos.
​- Seu noivo já sabe?
​- Sim... Ele queria vir falar com vocês ontem. Mas preferi sondar como você estava. Na verdade não era para eu contar, mas você não deixa passar nada né?!
​- Conheço minha neta, tanto quanto ela me conhece. Seu pai, seus tios e vocês são tudo para mim. Nunca duvide ou se sinta sozinha. Conte conosco para todos os momentos. Até o último dia em que eu respirar.
​- Você sabe que estou sensível pare de dizer essas coisas.
​Digo abraçando-a com cuidado para não machucá-la. Ela me afasta e vejo que também está emocionada. Coloca a mão em minha barriga e diz:
- Que ele seja a luz de sua vida assim como seu pai foi na minha.

​Eu já estava algum tempo sentada sem comprar nada e a égua da atendente tinha vindo duas vezes perguntar se eu iria fazer o pedido. Era muito injusto... Estava no finalzinho... Não estava com mais dinheiro... Um real se quer no bolso... Meu Deus!!! Somente o epílogo...
​- Acho que minha amiga não vem... – respondi com a cara mais deslavada – vou ver se encontro com ela... Depois volto... – saí do mesmo jeito que entrei...
​Saí da loja... Voltei sorrateiramente e sentei do lado de fora, bem na entrada da loja de modo que as atendentes não me viam pelo lado de dentro. O sinal estava ruim. Mas consegui carregar a página. Ufa!!!