O INÍCIO DE TUDO - INGLATERRA

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Não sabia quanto tempo estava entre os humanos, apenas tinha uma vaga noção que depois de certo tempo você já não contava e nem fazia distinção. E o perigo a qual havia sido alertada era de que a mesma deveria manter sua cabeça em Ordem, para que não sucumbisse ao mundo humano. Ela vinha tentando com todo custo, mas, por exemplo, ser acordada na madrugada com alguém esmurrando sua porta de madeira não era nada convidativo a manter a cabeça sob a Ordem. Mas, quando se levantou e olhou pela madrugada e viu o rosto do menino, sabia que aquilo não era bom.

- Precisamos de ajuda. - disse ofegante - Ela não consegue... Sozinha... Algo está mexendo dentro dela...

- Espere um segundo. - disse e bateu a porta.

Vestiu um de seus vestidos e um avental branco e simples por cima de toda aquela anágua que usava, apressou-se em amarrar um pano branco no cabelo - evitando assim que seus cabelos negros caíssem em seus olhos - e saiu mais o menino.

Ela apertou mais o cordão em seu pescoço, era um rubi lapidado e envolto em um cordão fino de ouro puro. Toda a peça havia sido banhada na água benta da fonte do grande salão. Ela clamou por ajuda, sabia que não era um bom sinal o que a esperava.



Mal notou, mas já havia chegado à frente da casa. Subiu correndo as escadas, o pai da menina e o esposo da mesma estavam na sala da casa, iluminada por velas, esperando notícias, mas pareciam estar abatidos demais para notarem que ela própria havia chegado ao recinto. Os gritos daquela criança estavam ficando mais altos, uma mulher mais magra passou aos tropeços pelo corredor. A bacia com água estava ensanguentada e tiras de lençóis brancos caiam completamente vermelhas.

Ela entrou no recinto, a menina estava deitada na cama, suas pernas já estavam posicionadas e outra mulher pedia que ela fizesse mais força. Mas algo estranho acontecia, mãos apareciam na pele da menina, como se a criança que ela estava prestes a parir estivesse procurando outros meios de sair dali.

- Graças ao meu bom Deus a Senhora chegou. - disse ela espantada.

- O que está acontecendo? - perguntou se aproximando mais da mulher.

- A criança não quer sair de dentro da minha filha - disse assustada e exausta.

A mãe da menina saiu do lugar e deu espaço a parteira eficiente. Ela sabia como proceder, apenas não sabia o que pensar depois da cena que presenciara agora pouco. Ela apenas esperava que tudo o que havia escutado naquele vilarejo fosse apenas estórias daquela gentinha ignorante, porém, agora não acreditava tanto assim. E se não fossem apenas boatos? E se... Não! Ela pensou. Era hora de se concentrar.

- Força Maria! - gritou ela - Precisamos tirar a criança de você.

- Por favor! - gritou Maria - Eu já fui avisada... Sei que não vou sobreviver... Mas minha filhaaaaaaa

Só agora ela notará como a menina parecia pálida e cansada, teria que ser rápida, ou então a criança não conseguiria fazer força. Incentivou mais.

- Mais força Maria! - disse ela - Vamos Maria.

Maria gritou e ela puxou mais a acriança que começava a sair de dentro dela. Como ela soubera o que lhe esperava? Os boatos eram verdadeiros. Como não notará? Ela era sempre tão preparada para tudo o que estava para chegar e não pressentira a presença perturbadora. Agora era tarde demais.

- Só mais um pouco Maria. - disse

- AAAAAAAhhhhh - gritou Maria.

A criança terminou de sair. Ela trouxe a menina para o pano que lhe entregaram. Maria estava com lágrimas nos olhos, e mais fraca e pálida, porém mesmo assim estendeu os braços para segurar sua filha.

A parteira levou a menina para os braços da mãe, a mais nova mãe daquele vilarejo. Colocou a menina enrolada em panos brancos nos braços de Maria e ficou ao lado da menina vendo-a embalar sua filha.

- Qual o nome dela? - perguntou

- Maria... - disse olhando para a parteira - Madalena...

Maria piscou duas vezes e parou de respirar. Seus olhos pararam de encontro aos de Lorena. A mãe da menina percebeu a filha inerte e sem vida na cama, a mesma havia perdido muito sangue e agora iria descansar para sempre. Lorena pegou Madalena nos braços e a levou próxima a janela.

Estava embalada em pensamentos, mas parou abruptamente quando a criança abriu os olhos. Gatos. Foi o que pensou antes de achar que estava enlouquecendo. Ela podia sentir o poder irradiar daquela pequena criatura, mas seus olhos estavam diferentes de segundos atrás.

Se era um bom sinal, ela não poderia dizer. Mas a sorte havia sido jogada nas mãos daquela menina que estava em seus braços e daquela a qual havia dado sua vida para salvar a da filha. O que o futuro reservava é que era uma incógnita. Ela só poderia rezar. Contudo ela sabia, ao olhar pela janela e vê-lo observar. Algo estava diferente.

MADALENA (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora