TEIAS - MENTIRAS

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Não conseguira encontrar Francisco para dizer que eu não iria almoçar com ele. Então tive que ir mesmo sem avisa-lo, apenas enviei uma mensagem de texto dizendo que tinha que investigar um pouco sobre a nova matéria, afinal, eu já tinha uma mentira para sustentar.

Fui me encontrar com Marcela, uma amiga que trabalha no IML (Instituto Médico Legal), havia ligado para ela quando ainda olhava aquelas imagens, tive o maior cuidado ao imprimi-las, pois não queria outras pessoas nesse "caso".

Antes ainda da hora do almoço eu sai, peguei meu carro no estacionamento e fui "correndo" para lá. Não era tão longe quanto muitos pensavam, ao chegar procurei por ela e logo foram chama-la. Sentei-me enquanto a esperava, as fotos estavam em minha bolsa e a única que mostrava Lorena muito bem guardada, eu precisava averiguar aquela denuncia anônima antes de tomar qualquer decisão. Sei bem que outra pessoa teria chamado a polícia, mas eu era uma jornalista e havia trabalhado bastante em jornalismo investigativo quando ainda estava na faculdade.

- Maria – disse ela vindo me encontrar.

Levantei-me e a cumprimentei com um abraço. – Marcela. – disse logo me afastando – Espero não está atrapalhando.

- Não, que isso. Em que posso ajudar? – perguntou logo.

- Bem... – comecei com um pouco de receio – Poderíamos ir para um local mais discreto e menos movimentado? – perguntei.

- Claro, claro. Vamos lá para baixo. – disse ela já andando. – Espero que não tenha problema... – e virou-se deixando a pergunta no ar.

- Não não. Tudo bem. – respondi – De certo modo eu estou acostumada.

- Ótimo. – disse ela.


Não demorou para chegarmos. Nada havia mudado ali, algumas macas de metal, onde o corpo já em estado crítico era colocado para analise e depois despachado para a funerária. Havia umas gavetas de metal anexadas a parede em frente à porta, e claro o local era frio, assim evitava que o corpo entrasse em deterioração mais rápido. Sabia bem que demorava muito para que o corpo saísse dali para a funerária, às vezes, a investigação exigia um pouco mais de provas.

- E então? – disse ela colocando o roupão verde e as luvas – O que a senhorita deseja?

- Bem, você tomou conta desse caso aqui? – perguntei entregando as fotos com o corpo do Otavio.

Ela pegou as fotos e começou a analisa-las, uma por uma até chegar à primeira das quatro. A quinta com a Lorena ao lado do corpo estava bem guardada em minha bolsa.

- Vejo que está em um caso investigativo. – disse ela.

Não era uma pergunta, apenas uma simples constatação, mesmo assim fiz que sim com a cabeça, mantendo a boca fechada. Uma mentira, sempre é uma mentira.

- Já imaginava. – disse indo em direção ao computador.

Ela se sentou no banco que ficava em frente a pequena mesa e começou a abrir alguns programas, nunca consegui entender como aquilo funcionava, apenas legistas poderiam usufruir das informações presentes ali, eu era a exceção, pois como jornalista não era permitido meu acesso até aquela área ali, então eu estava ali escondida e praticamente rezando para que nenhum supervisor antecipasse a sua chegada ali no local.

- Vejamos... – disse ela já concentrada. – Sim! Ele esteve aqui. Eu dei uma pequena olhada no corpo, quem tomou conta foi Fabricio meu parceiro aqui embaixo. Você sabe? Aqui pode ser bem solitário e assustador às vezes. Tipo sanguíneo A, foi encontrado morto pela manhã. O corpo... Isso é muito estranho. O corpo não possuía nenhuma gota de sangue sequer, ele foi completamente drenado... Se não achasse história de Crepúsculo fantasiosa demais eu até chegaria a pensar que vampiros fizeram isso, ou algum animal, já que sua jugular foi completamente danificada, cortada de uma forma bem estranha...

Parei de escuta-la no momento, as informações que ela me passava eram demais para processar. Otavio havia sido morto de uma forma totalmente inesperada e desumana, fria e calculista.

- Algum motivo? – perguntei logo acrescentando – Houve um por que para ele ter morrido?

- Aparentemente não! – disse ela com um fraco sorriso – É como disse: esse foi o primeiro crime estranho que tivemos aqui. Estamos investigando, mas... Nada dele foi roubado. Ele simplesmente morreu. Não tem ficha criminal e nem indícios de inimigos espalhados pela cidade. Pode ter sido um acerto de contas, mas, as digitais do assassino ou assassina...

Nesse momento a cortei bruscamente. – Espera! Assassina? – perguntei.

- Sim. O maior indicio que temos é de uma mulher, mas suas digitais não correspondem a ninguém dentro de nossos arquivos. – falou simplesmente.

Minha cabeça tentava encaixar tudo e saber que uma mulher poderia ter feito aquilo, apenas me deixava mais assustada. Poderia ter sido Lorena mesmo?

- Está tudo bem? – perguntou levantando-se – Você parece meio pálida.

Respirei e respondi. – Obrigada Marcela. Isso vai ser de muita ajuda. – responde me encaminhando para a saída.

- Disponha Maria. – disse e logo me chamou – Maria!

Virei-me antes mesmo de abrir a porta e vi a mesma me dando um sorriso e aquele olhar. – Você ainda tem meu número, se quiser sair qualquer dia desses...

- Até mais, Marcela! – disse sorrindo e fechando a porta atrás de mim.

Naquele exato momento mais dúvidas pairavam em minha mente. E só havia uma maneira de tira-las de lá, eu tinha que me aprofundar mais em minha "matéria". Peguei o celular dentro da bolsa quando já estava fora do pequeno prédio, puxei na lista de chamadas efetuadas e redisquei aquele número. Três toques e eu escutei a voz familiar.

- Estava pensando em te ligar. – pude sentir um leve sorriso do outro lado da linha.

- Acho que fui mais rápida Lorena. – respondi – Vamos sair hoje à noite?

Eu estava com medo, mas mesmo assim ainda precisava de provas, algo me dizia que ela não havia feito aquilo. Mas, se não ela, quem?

MADALENA (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora