UM CONVERSA - CURIOSIDADE

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- Então, você veio de onde? – perguntei do outro lado da bancada.

Meu apartamento não era tão grande e nem tão pequeno. Mas não havia espaço o suficiente para que houvesse uma cozinha grande. O que me dava à opção de uma cozinha americana. Enquanto ela estava do lado de dentro da bancada mexendo no fogão, panelas e etc (ela disse que eu não iria cozinhar), eu ficava do lado de fora da bancada e assim tinha a oportunidade de descobrir algo a mais sobre ela.

Ela parou de picar o tomate e me olhou arqueando a sobrancelha. Eu a havia visto fazer isso no meu sonho e novamente parecia que eu estava tendo algum tipo de D'javu.

- Vim da Inglaterra. – respondeu. – Mais especificamente de Londres.

- E por que saiu de lá? – perguntei.

Ela tirou os olhos da tábua e me encarou. Senti seus olhos buscarem minha alma, se isso fosse possível.

- O que eu buscava não estava lá. – ela respondeu e voltou seus olhos para tábua.

- E está aqui em Brasília? – perguntei curiosa.

- Ainda estou tentando descobrir. – ela falou tão baixo que por um momento achei que mais estivesse falando para si mesma, do que para mim.

O que era tão importante a ponto de fazer uma pessoa sair de outro país, muito mais desenvolvido do que o Brasil? Tinha que ser uma prioridade muito grande viu?

- E por que escolheu Brasília? – continuei.

- Bem, tenho família por aqui. É mais fácil recomeçar em um local quando... – ela pareceu ponderar essa parte – quando não se conhece ninguém.

- Quer dizer que você passou muito tempo morando sozinha na Inglaterra?

- Não é tanto tempo assim depois de alguns anos. – disse ela dando de ombros.

- Quanto tempo especificamente? – perguntei incrédula.

- Não lembro. – disse suspirando – Isso é importante mesmo? – perguntou me olhando e apoiando as mãos na bancada da pia.

- Sim... – comecei a responder – Eu não sei nada sobre você. E você não parece se interessar em saber algo sobre mim.

- Talvez, eu já saiba alguma coisa sobre você.

- Impossível. – disse me controlando para não deixar o incomodo me controlar. – Eu nunca falei nada de relevante sobre mim.

- Você detesta quando as pessoas dizem que lhe conhecem só por te olhar. Afinal de contas você não acredita que os olhos sejam as janelas da alma. – disse sorrindo de lado.

- Está errada. – disse

- Quando está nervosa você bate com os dedos em qualquer superfície e começa a morder a lateral do lábio inferior. Já chegou a sangrar por fazer tanto isso.

Eu de fato estava começando a me sentir um pouco incomodada, e notei que meus tics começaram. Eu logo tentei refreá-los. Não queria dar a ela o gostinho de ter razão (e não daria o braço a torcer).

- Sempre orgulhosa e teimosa. – disse ainda mais perto.

- Como conseguiu chegar tão rápido até mim? – perguntei desconcertada. – E espera, - falei enquanto colocava uma certa distância entre nós – como você sabe que minha boca já sangrou de tanto mordê-la?

- Posso deduzir, distraída – falou logo me beijando.

Com toda aquela conversa ela havia conseguido me distrair do mais importante naquela hora. Eu só tinha que tomar as rédeas novamente. Coloquei minhas mãos na cintura dela e a afastei devagar, tentando não deixar uma má impressão.

MADALENA (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora