SONHO? - LEMBRANÇA?

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Era bom. Na verdade, era muito mais do que bom. Era uma sensação ótima. Jamais havia sentido um êxtase como esse, caso fosse um sonho poderia continuar. Minha respiração acelerava indicando que eu estava prestes a um gozo sem igual. Eu gemi e algo me alertou, mas não tanto a ponto de fazê-lo parar. A voz não era minha, e não era ele... Era ela. Deixei meus olhos caírem sobre o cabelo a qual eu agarrava com a mão esquerda, enquanto seu rosto estava encoberto por seu cabelo rebelde, entre minhas pernas.

Ela não parava, pois sabia o quanto eu gostava quando fazia aquilo. Não suportei e em um último gemido gozei. Ela foi subindo por meu corpo, com leves beijos, até chegar a meu pescoço e por fim em minha boca. Era maravilhoso como nossos corpos se encaixavam perfeitamente, como sempre estavam em sintonia. Não tinha como não amá-la. Como não perceberá antes? Ali estava ela, em cima de mim, me enchendo de carinho.

- Te amo. – falou ela bem próxima ao meu ouvido.

Eu sorri e ri sem graça. Ainda não conseguia acreditar. Eu sabia que aquilo era errado. De todas as formas possíveis, mas ali estava ela e eu... E eu a queria e ela me queria. Eu sabia que ela esperava uma resposta minha. Ela se apoiou em seu cotovelo esquerdo, e me olhou com uma sobrancelha arqueada. Só tinha um, porém: eu adorava jogar com ela.

- Não sei do que está falando. – disse eu com cara de sonsa – Eu sei que você é boa de cama, mas como vossa senhoria espera que eu acredite em seu amor.

Rapidamente, enquanto a pegava de surpresa, eu me virei, ficando em cima dela. Suas mãos foram para as laterais do meu quadril.

- Ainda estou esperando sua declaração de amor... Senhorita. – me olhou com um sorriso sacana.

Eu ainda não tinha falado, mas amava quando ela sorria. Ela sorria de uma forma provocante e que me deixava desconcertada. Ela era linda de uma forma exótica e aqueles olhos... Esses olhos agora me olhavam angustiado. Algo estava errado. Não era o mesmo ambiente que estávamos ali não era aconchegante, a não serem seus braços.

- Você precisa acordar. – ela disse – Você tem que acordar. – implorou.

Mas meus olhos estavam pesados. Meu corpo todo estava pesado, eu só queria descansar, não sabia por quanto tempo descansaria, só sabia que não seria tempo suficiente para superá-la. Não lembrava muito apenas:

– Não faça isso! – gritou alguém.

Eu não sabia quem era não conseguia vê-la, mas a presença dela estava ali. Assim como o punhal que carregava.

Acordei em um pulo. O coração acelerado. Jamais tivera um sonho tão real como este. Nada fazia sentido ali. Por que aquele sonho? E por que com ela? Não tinha como ser ela. Lorena parecia diferente daquela época. E quem era aquela mulher com ela? Por que eu sonhará isso? Suspirei e deixei meu corpo cai na cama novamente. Olhei para o lado e não havia nada e nem ninguém. Apenas um bilhete em cima do travesseiro. Estiquei o braço e o peguei:

Desculpe não ter ficado. Você adormeceu e achei melhor deixá-la descansando. Espero que tenha dormido bem, mesmo sem mim. Para sempre sua.

Lorena

"Que estranho" pensei comigo. Aquela forma de dizer "para sempre sua" me era familiar de alguma forma. Não sei como e nem porque, mas era. Deitei-me na cama e reli o mesmo bilhete algumas vezes, queria muito que ela estivesse ali. Senti-me protegida com ela ontem à noite, senti que ela não deixaria ninguém me machucar, ou nada acontecer comigo. Só não sabia como ela tinha aparecido ontem justo quando eu mais precisava de alguém. Seria possível ela estar me seguindo? Tudo bem que a vi no restaurante Mexicano, mas... Não, não. Não devo pensar besteira. Lorena apenas apareceu na hora certa... Na hora em que eu mais precisava. Se não fosse ela... Não quero nem imaginar.

Camila não dava notícias já iria fazer dois dias. Eu não sabia o porquê dela ficar daquele jeito comigo, resolvi quebrar o gelo e mandar um what's para ela.

- Oi – comecei. – Tudo bem? – e enviei.

Deixei meu celular cair no lado vazio da minha cama e voltei a olhar para o teto. Aquele sonho ainda estava em minha mente. Quase como uma lembrança muito distante e quanto mais eu pensava nele, mais ele parecia real, como se eu estivesse estado lá. Seria possível? Fui tirada de meus devaneios quando o celular começou a tocar: no automático eu atendi.

- Alô?

- Está melhor? – perguntou ela.

Eu tive que levantar o tronco da cama. De nervoso passei a batucar os dedos no edredom e a morder o lábio inferior.

- Estou, obrigada. – disse sem jeito. – E você? Está bem? Acordei e não te vi aqui? Como vim parar na minha cama? E como você trancou a porta? Ou...

As palavras morreram. Ela parecia estar se divertindo do outro lado da linha. Eu conseguia escutar umas vozes ao fundo, vozes femininas. Mas eu não deveria me preocupar com isso? Deveria? Afinal de contas não tínhamos nada, eu nem sabia por que precisava dela por perto.

- Quantas perguntas – ela começou – difícil responder tudo por telefone. Você já comeu algo?

- Não. Acabei de acordar. E que horas são? – perguntei me tocando que não havia olhado o horário.

- São 13hrs. – respondeu – Posso preparar algo para você comer? – perguntou.

- Onde você iria preparar algo? – perguntei mesmo sabendo a resposta.

- Sempre gostou de joguinhos em Madalena. – respondeu.

Pude sentir um meio sorriso, e isso me remeteu ao sonho. Meu coração chegou a disparar com a ideia de ela passar um tempo ali comigo em meu apartamento. Eu nem a conhecia direito. Talvez, esse fosse um bom momento para saber mais dela. E como assim sempre gostei de joguinhos? Ela não me conhecia o bastante para uma afirmação assim tão íntima.

- Tudo bem. – comecei respondendo – Você pode vir aqui. Acho que tem algumas coisas na geladeira que poderão ser úteis.

- Daqui a pouco chego ai. Tchau!

- Tchau!

Ela desligou. Meu corpo amoleceu e eu novamente o deixei cair na cama. Eu sabia que deveria sair da cama, tomar um banho e vestir uma roupa apropriada, pois ela logo estaria ali. Mas, eu só não conseguia fazer isso. Eu estava louca. Meu alarme interno também apitava em relação a ela, ela era perigo. Eu tinha tido uma boa noção do que não escutar minha intuição poderia ocasionar a minha saúde mental e física. Mas tinha um ponto positivo para contrabalancear: ontem a noite ela teve a oportunidade de fazer o que quisesse comigo, e eu estava são e salva em minha casa. Não havia motivos para me preocupar.

Cansei de tanto pensar naquilo, levantei-me, e fui tomar um banho. Dessa vez não lavei meu cabelo, notando assim que talvez devesse cortá-lo um pouco, estava muito grande e difícil de cuidar. Escolhi vestir um short e uma regata preta. Adorava andar descalço pela casa, e como o chão estava limpo, nem me preocupei em procurar pelo meu par de chinelos. O interfone tocou, e o porteiro avisou que Lorena estava ali na portaria esperando para subir. Autorizei e coloquei o telefone no gancho. Peguei meu celular e olhei para ver se Camila havia visualizado minha mensagem, mas nada. Havia chegado até ela, mas... Resolvi não pensar mais nisso, porque logo escutei batidas na porta. Olhei pelo olho de vidro e lá estava ela, com mais algumas sacolas.

Ela levantou os olhos quando me viu, após abrir um pouco a porta, vindo assim ao meu encontro. Seus braços envolveram minha cintura e me fizeram subir um pouco para beijá-la. Meus braços envolveram sua nuca e há forcei um pouco para trás, deixando que nossos corpos fechassem a porta atrás de nós. 


MADALENA (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora