AMEDRONTADA - CHOQUE

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Ao me jogar no sofá senti minha cabeça rodar, deixando-me tonta. Eu queria me encolher, dormir e acordar no dia seguinte achando que tudo não passara de um pesadelo. Camila ainda estava ali na outra ponta do sofá, o peso de seus olhos caiam em meus ombros, eu conseguia me sentir pior do que já estava.

- Pode falar. – ri amargamente. – Pode dizer que avisou! Pode dizer que eu deveria ter confiado em você quando disse que não confiava nela. – minha voz foi ficando mais alta até me levantar de supetão do sofá e ir até meu quadro de anotações – PODE DIZER QUE EU FUI UMA IDIOTA! – arranquei a foto da Lorena e a rasguei. – PODE DIZER... – lágrimas escorriam desordenadamente dos meus olhos.

Senti Camila enlaçar minha cintura e o ombro puxando-me de encontro ao seu corpo, eu vire-me em seus braços e deixei que minha cabeça se acomodasse em seu ombro. Minhas lágrimas continuavam a descer enquanto meu coração ficava menor e mais sufocante. Eu queria que aquele desespero cessasse. Queria que a saudade que sentia de Lorena acabasse, gostaria de sentir seus braços me consolando. Mas, ela era uma assassina. Havia tirado a vida de Otávio. A troco de quê? "Não há explicação." Bethânia havia dito.

- Eu a amo! – disse entre soluços – Como ela pode?

Camila apertou-me mais. – Eu sei! – disse levemente – Nós vamos dar um jeito.

Assim fiquei até sentir-me mais calma, até entender que aquela dor era suportável. Até que tudo pudesse passar, cessar por completo. Mas, não cessaria e eu tinha que entrega-la.


Sai do chuveiro. Meus olhos permaneciam inchados e meu estado era deprimente. Sentia que haviam roubado minha alma. Meus olhos não estavam tão vivos quanto antes, minha pele parecia pálida, e aquelas marcas em meus braços estavam mais vivas do que mortas. Minha cabeça dava tantas voltas que cheguei a ter um enjoo. Estava sem fome.

Andei até a sala, o cabelo pingando água pelo chão os pés sentindo o frio do piso branco. Camila me esperava ao final do corredor, na sua mão direita meu celular e não mão esquerda o telefone da delegada. Do outro lado da sala havia papéis e fotos ao chão, eu ainda havia revirado minha caixinha de joias em busca do anel de Rubi, pensei que o tivesse perdido, mas lá estava ele em minha mão. Eu o havia estudado por um longo tempo, observando seu tom mudar conforme meu rosto era refletido. "Como não notará?" perguntei-me.

Retornei ao presente, Camila ainda permanecia com seus braços estendidos para mim, passando-me os objetos que o segurava. Eu só olhava para aquilo tudo inerte, sabendo que a vida continuava normalmente lá fora, mas dentro de mim tudo parecia um caos sem fim.

Camila suspirou, foi até a mesa de centro deixando os objetos ali em cima, retornando em seguida. – Eu vou sair para comprar algo para comermos. – disse segurando cada lado dos meus ombros – Você terá que ligar para a Delegada e avisar que conhece Lorena.

Apertei mais o anel em minha mão, deixando que meus dedos o amassassem de encontro à carne da minha palma, um leve ardor desponto ali do centro onde um pequeno e fino corte se formava.

- Não demoro. – disse antes de me soltar e sair.

Dei-lhe um mínimo aceno e sentei-me no sofá de frente para os objetos, acrescentei o anel de Rubi entre o celular e o papel com o número da delegada. Fiquei encarando o anel até sentir que tudo ao meu redor girava e que eu era sugada para dentro daquela pedra, sugada pelo meu reflexo, sugada para minha alma perdida. Indo de encontro ao inesperado.

Tudo ali parecia nebuloso. Havia uma onda onírica rondando o ambiente em que me encontrava, eu estava sonhando, sabia disso. Olhei ao redor em busca de saber por que estava ali, sem sucesso, pois apesar do sentimento de D'javú eu não sabia dizer por que havia ido parar no século passado. Escutei risadas vindas atrás de mim, e ao virar-me senti meu corpo ser atravessado por duas garotas. Ambas estavam com dois vestidos de baile belíssimos. Olhei ao redor novamente, mas a porta havia se fechado atrás de mim.

MADALENA (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora