Ela dirigia bem, tão bem quanto pilotava moto. Mesmo assim era estranho aquele carro. Ela tinha aquele carro com que dinheiro? Trabalhava? Minha cabeça apenas rodava com tantas perguntas às quais havia perdido tempo em não fazer. Ainda assim, aquela saída era minha "deixa" em descobrir quem era Lorena.
- Não sabia que tinha um Jipe. – disse tentando puxar assunto.
Ela sorriu de lado antes de responder e olhar para o retrovisor, tendo certeza se poderia fazer a curva. – Acha que não trabalho? Ou algo do tipo? – virou rapidamente para mim com um olhar divertido.
Fiquei sem jeito com a resposta, mesmo assim continuei. – Não foi isso que eu quis dizer. – falei calmamente antes de continuar – Eu apenas não sabia que possuía um carro além da sua moto.
Continuava fitando a pista a sua frente, que estava até certo modo, movimentada. Sexta-feira a noite era realmente dias de "saidera" para os moradores de Brasília.
Ela continuou calada por um tempo, parecia pensar na resposta certa a me dar. Comigo sempre parecia assim, Lorena ponderava que tipo de resposta ela deveria me dar, percebia agora, esperando pacientemente enquanto ela apenas dirigia com a mão esquerda no volante e o outro braço dobrado, sua mão virada para sua boca, mordiscando o canto do dedo.
- Você hoje está fazendo muitas perguntas. – ela diz simplesmente, passando a marcha.
Dou um sorriso de lado. – Já escutei esse comentário saindo da sua boca. Você parece bem evasiva em respondê-las também.
- Ainda, - suspirou – pode não ser o momento certo para saber mais sobre mim. – virou me fitando – Você acha que sou uma psicopata? – perguntou me dando um sorriso maroto.
"Definitivamente evasiva. O que ela esconde?" pensei. – Não sei – respondi dando de ombros – É você quem tem que me dizer isso.
Ela novamente ponderou, por fim, eu simplesmente fui grossa. – Dá para parar de ponderar tudo o que me fala? – perguntei irritada – O que precisa tanto me esconder que acha... Que tem que tomar cuidado com tudo o que me fala?
Ela me encarava agora. Seu semblante mudou de surpresa para frustração. Rapidamente, voltou seus olhos para a pista. – Talvez... – começou ela – Você ainda não esteja tão preparada para meu "mundo" – respondeu fazendo aspas com a mão – Talvez... Talvez... Talvez você deva descobrir sozinha. Talvez, eu precise que descubra sozinha.
Ela não ousou me olhar novamente, mesmo assim, ainda senti o peso de suas palavras. Meu sexto sentido soou como um alarme em minha cabeça. O que tanto Lorena não poderia me responder?
- O que preciso descobrir? – saiu tão baixo que até mesmo duvidei de que tivesse dito.
- O que você quer descobrir? – dessa vez me olhou diretamente nos olhos.
E lá estava novamente, aquele brilho dourado em seu olho esquerdo e a sensação de Dejá Vu. "Quem é você Lorena? Ou eu devo perguntar o que é você?" pensei comigo mesma. Seus olhos saíram da pista e me encararam confusos, quase como se a própria tivesse ouvido meus pensamentos. Ela suspirou novamente, passou a mão pelo cabelo, retirou a jaqueta de couro preto que usava e voltou com suas mãos para o volante.
Virei para a janela bufando de frustração, pois sabia bem que não tiraria nada dela ali naquele momento. Sua mão direita deixou o volante e pousou em minha coxa nua. Senti um leve aperto e uma formigação familiar.
Eu queria muito detesta-la naquele momento, sentir nojo pelo que havia visto naquela foto, ou até mesmo retirar sua mão dali de forma abrupta. No entanto, eu não sentia nada disso e não tinha nenhuma vontade de afasta-la de mim, ao contrário, era tudo o contrário. Minha mão pousou sobre a sua, enlaçando nossos dedos enquanto seu polegar acariciava o dorso da minha mão.
Eu até mesmo poderia ousar e dizer que não a entendia, mas, eu sabia que era mentira. Eu acreditava e confiava nela. Ela não me faria mal, faria? Se ela quisesse me fazer mal, poderia ter feito, pois oportunidades não faltaram. Lorena me falava a verdade, era a verdade que ela me poderia me contar, mas era a verdade.
O resto do caminho foi feito em silencia, Lorena parecia absorta em pensamentos e eu não ousava atrapalhar sua concentração. Mesmo distante seus olhos continuavam fixos na estrada, não perdendo nenhum movimento. Eu não sabia como ela conseguia, eu mesma já teria batido alguma vez.
Olhei um pouco para o lado, me ajeitando mais no banco e deixando que meu tronco se encostasse um pouco mais na porta. Ela pareceu notar o que eu estava fazendo e um meio sorriso brotou em seus lábios antes que pudesse falar alguma coisa.
Olhou-me rapidamente e voltou sua atenção para a estrada. – O que tanto olha? – perguntou com a mão no volante e a outra na marcha.
Ela estava sem sutiã, dava para ver por sua blusa que não possuía um decote frontal, mas lateral e na costa. Um cordão fino passava pelo seu pescoço e amarrava a blusa na base da sua nuca, evitando assim que a mesma caísse e mostrasse sua nudez. Vestia uma calça jeans, também preta, e com rasgos na lateral, um contraste perfeito com sua brancura. Em seus pés, uma bota de cano baixo e salto fino, como sempre.
Não pareceu se incomodar com o fato de meus olhos a estarem secando tão descaradamente. – Achei que você fosse hétero. – disse com um olhar divertido.
- Eu também – enquanto a encarava – Até você aparecer. – respondi com um meio sorriso.
Lorena, como todo o respeito da palavra, estava gostosa. Definitivamente gostosa.
- Como sabe se não provou? – perguntou ela.
- Mas, o que eu falei? – perguntei com o semblante confuso.
Lorena pareceu ficar em alerta com o que havia feito. Eu não conseguia acreditar. Havia mesmo me escutado ou tinha sido coisa da minha cabeça?
VOCÊ ESTÁ LENDO
MADALENA (Livro 1)
عاطفيةAs histórias bíblicas não passavam de estórias. Há muito tempo uma jovem nasceu para a redenção do mundo. Mas, forças das trevas não queriam a redenção, queriam que o ser-humano destruísse tudo aquilo que lhe foi dado. Séculos depois a maldição esta...