QUALQUER DIA - LOUCURA?

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Essa deveria ser a pergunta básica, na verdade foi assim que comecei meu dia. Havia passado sete dias desde o meu "encontro" com aquela mulher na boate, e eu ainda sonhava com ela.

- Estou ficando louca? – perguntei-me diante do espelho do meu banheiro.

Resolvi tomar uma chuveirada. Isso sempre me aliviava antes de começar meu dia. Porém nem o banho resolvia, porque era só fechar os olhos e lembrar dos detalhes do sonhos. O corpo dela, o toque, aquele beijo (e que beijo!). Só de lembrar eu já excitava. Não! Para! O que estava de errado comigo? Eu tinha que me concentrar hoje, e deveria. Havia uma reunião importante na empresa, e eu tinha que estar presente.

Hoje optei por um look mais despojado: resolvi pegar minha calça jeans justa e de cintura alta, um scarpam preto com a ponta e o salto igualmente dourados, uma regatinha solta verde e um blazer branco para dar aquele "up". Olhei-me no espelho e gostei do que vi. Em relação à maquiagem preferi deixar no básico mesmo, peguei minha pasta de couro preta e desci para a garagem do prédio. Eu morava em um condomínio fechado aqui no Guará. Sai do estacionamento e segui caminho para a estrada park. A pista iria direto para o centro de Brasília.

Onde eu trabalhava não era exatamente no centro, ficava mais no início das principais que vão para o centro do poder daqui. Faço parte da redação do Correio Braziliense, o jornal de Brasília. Cheguei, dei entrada no meu cartão de ponto, coloquei meu crachá e subi para a reunião. Ainda não haviam começado. Estávamos discutindo sobre o jornal a ser publicado no domingo, já que no sábado não funcionava, tínhamos que deixar todas as matérias acertadas para mandar à gráfica. As matérias que eu havia elaborado iriam para a revista do Correio, era um tipo de "bônus" sobre assuntos diversos que o jornal fornecia aos domingos, vinha anexada no mesmo.

Encerrada a reunião cada um teria que voltar para seus "afazeres" do dia. Ali na redação o dia passava tão rápido que na maioria das vezes, e digam-se muitas vezes mesmo, não conseguíamos terminar tudo no mesmo dia. E mesmo quando eu achava que estava totalmente concentrada em buscar informações para minhas matérias, aquela mulher vinha a minha cabeça. Porém dessa vez foi diferente, foi mais vivido.

"– Não faça isso! – gritou alguém.

Eu não sabia quem era não conseguia vê-la, mas a presença dela estava ali.

- Você tem que acordar."

Eu acordei, a caneta que eu segurava estava caída na minha mesa, eu olhava para a tela do meu computador que já havia "partido" para o descanso de tela. Meu celular tocava desesperadamente na mesa, vibrando incansavelmente, só podia ser uma pessoa... Camila.

- Oi gata! – disse ela do outro lado. – Achei que não fosse atender.

- Não estou tão ocupada no momento. – falei tentando entender o que havia acontecido.

- Então, como amanhã é sábado e você não trabalha, pensei em sairmos. Topa? – perguntou ela.

- Para onde vamos? – perguntei um pouco animada, qualquer coisa para esquecê-la.

- Conheci uma nova boate, muito bacana, parece até um barzinho. Você vai gostar.

- Não é a Vic né? – perguntei.

- Não, não. Te pego as 21hrs. Beijos e tchau!

Vadia! Desligou na minha cara. Mas, tudo bem, ela fazia isso para que eu não pudesse mudar de ideia, sinceramente, não iria mudar de ideia. Eu precisava esquecê-la, custe o custar.



O lugar era mesmo muito bacana. A luz era vermelha e causava um clima legal, misterioso, a música que tocava era pulsante e sexy, como se estivéssemos em um local aberto ao "pecado", se assim eu pudesse expressar. Era a primeira vez que ia a um lugar assim, a nossa entrada foi vip e havia uma mesa em um canto, bem reservado. O estofado do assento parecia igualmente vermelho, mas com aquela luz intimidante não dava para saber direito.

Nos sentamos e Camila foi buscar dois Drinks. Entregou-me e sentou-se ao meu lado para tomar o dela. Ela já estava toda animada e toda gata. Sinceramente, era a primeira vez que via a minha amiga vestida dessa forma, ela estava sexy, e poderosa. Usava uma calça justa e de couro preta, um espartilho preto fazendo seus seios ficarem juntos e quase saltarem para fora, uma jaqueta de couro preta e uma bota de salto bem alto. O cabelo ruivo estava amarrado e liso. O que eu havia escolhido não se comparava ao que ela estava vestindo. Eu estava usando um look bem parecido com o que fui para o serviço, só havia trocado a calça por um short podrinho e curto, a blusa verde por uma blusinha de ceda preta, um blazer preto e o meu scarpam de hoje cedo. Optei por não prender o cabelo e não usar maquiagem.

- Nossa! Camila! – falei próximo dela. – Você resolveu arrasar hoje em. – disse a ela com um meio sorriso.

- Opa! Eu sempre arraso gata. – disse ela bem próximo do meu ouvido.

Achei provocante demais da parte dela, mas resolvi abafar o caso. Ficamos ali sentadas, algumas vezes conversando, outras só curtindo a música e tudo o mais. Certo momento me levantei e fui ao banheiro. Avisei a Camila e deixei meu celular e carteira com ela.

Passei pela pista de dança, que estava totalmente embalada pela música pulsante do DJ. O banheiro da boate ficava aos fundos, entrei e dei uma conferida no visual antes de entrar em uma das cabines. Até que não demorei muito, lavei minhas mãos e sequei-as. Tive que voltar pela pista de dança, mas dessa vez resolvi cortar pela lateral, foi bem melhor, pois tive que me espremer menos entre as pessoas. Quando cheguei ao nosso canto havia uma mulher, que se vestia como homem, as tão faladas "boyzinhas" que a Camila sempre ficava.

A menina até que era bonita (muito bonita mesmo), o cabelo bem curtinho e branco, tinha aquele sorriso de parar o trânsito e estava contando algo bem engraçado para Camila, pois a mesma não parava de rir. Sentei-me mais afastada e Camila notando minha presença logo nos apresentou.

- Madalena essa aqui é Bianca. – disse ela – Bianca essa é minha melhor amiga, Madalena.

Eu poderia estar ficando louca, mas jurei ver um brilho diferente nos olhos de Bianca, quase como se ela usasse lentes. Não! Para! Era pura coisa da minha cabeça. Bianca se levantou e me abraçou dando dois beijinhos no meu rosto e assim nos sentamos novamente.

- Bianca estava falando que veio encontrar uma amiga – começou Camila piscando para mim – e então ela me viu aqui sozinha e resolveu esperar aqui conosco.

- Pois é – começou Bianca – mas, vejo que já está acompanhada...

- Não tem problema – disse Camila logo cortando – pode esperar aqui conosco. Algum problema Madalena? – perguntou ela me olhando.

- Não, claro que pode ficar aqui. – disse eu.

Tudo bem que eu novamente iria segurar vela da minha amiga, o que não seria nenhuma novidade, mas não iria dizer à menina que ela não poderia ficar.

- Então, Bianca – comecei – onde está sua amiga? – pelo menos eu não seguraria vela sozinha.

- Ela está vindo – disse olhando a pista de dança – Olha ela ai. – apontando com o queixo.

Eu me virei para ver quem era, e agradeci a Deus por aquela luz vermelha que começava a ficar mais baixa e escura, como se estivéssemos chegando ao ponto alto da noite, era exatamente a mulher com quem eu havia sonhado a noite toda. Eu poderia dizer com todas as palavras: o mundo era pequeno mesmo e dava muitas voltas.

MADALENA (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora