PREPARADA - MORTA

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Bethânia continuou me encarando, esperando qualquer reação minha, qualquer que fosse. Não ousei correr, gritar ou sequer pegar meu celular. Notei que Lorena também me olhava com intensidade, como se esperasse qualquer reação minha. Camila mantinha-se impassível como se estudando meus próximos passos, ou procurando por eles.

- As outras eram mais divertidas, sabe? – começou Bethânia.

Ela deu a volta na cadeira, tirando a poeira do assento e se acomodando elegantemente, sua postura reta, os olhos bem abertos e selvagens e um sorriso de escárnio nos lábios.

- Mas veja. – começou novamente – Que modo os meus. Sente-se Madalena.

Uma cadeira apareceu atrás de mim e uma força invisível fez-me sentar, meus pulsos foram para o apoio de braço da cadeira e um dispositivo para prendê-los apareceu prendendo-me no lugar, meus pés também ficaram presos nas pernas da cadeira. Com um impulso invisível fui arrastada mais para frente, mais próxima de Bethânia.

- Assim está melhor. – disse ao cruzar as pernas. – Não fará nenhuma pergunta? – perguntou ela. – Realmente, - disse apontando para Lorena – as outras antes dela eram mais divertidas.

- Outras? – perguntei alternando meu olhar pelas três – Como assim outras?

- Você sabe Madalena. – falou Bethânia – Você se lembra. Quantas lembranças de suas vidas passadas?

- E-eu...

- V-você... – e começou a rir – Você é péssima. As outras eram mais divertidas mesmo. Suas outras versões. O mais engraçado é que todas elas tentaram fugir, e eu em um ímpeto de fúria acabava matando-as antes da hora. – seus olhos brilharam – Mas, você. Eu sinto seu cheiro, você carrega a ordem e a desordem no sangue. Os Grandes não poderiam imaginar o que estava para acontecer.

- Quem são Os Grandes? – perguntei curiosa.

- Oh! Desculpe querida, vocês mortais os conhecem por Deus, Alá, Buda, etc. – falou ela – Quantos nomes ganharam? Muitos! – disse exaltada – Nós os chamamos de A Ordem. São responsáveis pela criação do mundo e tudo o que nele existe, eles também destruíram o mundo várias vezes.

- Você é louca. – falei em um ímpeto de fúria.

- Acha? – disse se aproximando.

Suas pernas se levantaram, postando cada uma de um lado, sentando em meu colo. Seu rosto mais próximo do que eu poderia desejar. Engoli em seco, ao tentar puxar minha cabeça mais para trás. Tentava colocar uma distância entre nós, em vão, pois considerando minha posição não daria para me afastar mais do que já havia me afastado.

Senti seu nariz traçar uma linha da minha clavícula ao peito. – Que cheiro seu sangue possui. – falou rente a mim.

Olhando de soslaio vi Lorena trincar a mandíbula e engolir em seco. A dizer por sua postura, eu até acreditaria que ela estaria com ciúmes, caso não fosse ela quem houvesse me chamado aqui para defender Camila. Que mantinha a expressão mais calma que o de costume.

- Acho que já sei por que Lorena se apaixonou tantas vezes. – começou ela. – Mas, vou contar um segredo. – voltou a se sentar em sua cadeira – Eu lancei a maldição sobre vocês. Assim como Eva sucumbiu ao pecado de comer o fruto proibido – nesse instante uma maçã apareceu em sua mão – vocês sucumbiriam ao pecado, só não conclui que seria tão interessante assim. Vocês se apaixonariam.

- Quer dizer que... – comecei sem saber se terminava ou deixava no ar.

- Que vocês foram amaldiçoadas a se apaixonarem? – perguntou – Não foi isso que eu disse. Lembre-se que deveriam sucumbir ao pecado.

- Lorena, - olhei para ela – você sabia? – perguntei.

Saber disso fez meu coração doer. Sentia como se estivesse a ponto de enlouquecer. Aquilo só podia ser uma ceita, ou uma brincadeira muito sem graça.

- Não. – foi o que respondeu sem me olhar.

"Mentira!" falei internamente sem a coragem de pronunciar-me. "Acha mesmo?" perguntou ela em minha cabeça. Fui pega de surpresa, e tentei ao máximo não demonstrar isso em minha face. "Aja normalmente." falou-me. Fiz que sim com a cabeça, mordendo meu lábio para controlar o desespero que se apossava de mim. Eu sabia que não tinha nenhuma chance, contra elas. "Eu vou te proteger. Por isso estou aqui." tentou me tranquilizar. "Não protegeu!" disse furiosa. Não me dei ao trabalho de voltar a olha-la, encarei novamente Bethânia.

- Ela não acredita. – começou Bethânia – Como ela mesmo disse? Oh sim! "Te amarei nessa vida e nas outras que nos esperam." – disse com sarcasmo – O amor de vocês é quase instantâneo. A paixão as acomete no primeiro contato direto. Mas, já chega – disse se levantando – tenho negócios a tratar com seu sangue. E como estará morta não preciso explicar tanto. Lorena – chamou ainda me olhando – deixe-a inconsciente. Não quero ter que sacrifica-la antes da hora. É preciso que a Lua esteja no alto.

Lorena apenas fez que sim com a cabeça. Aproximou-se atrás de minha cadeira, uma arma encontrava-se em sua mão esquerda, eu notará agora, lágrimas rolaram por minha face, com o que estava prestes a acontecer. Mas, eu não ouvi ou vi nada, senti uma pancada forte em minha cabeça, e a inconsciência me dominando por completa. 

MADALENA (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora