MADALENA (Livro 1)

PARAÍSO - FRUTO

Acordei com uma luz forte e quente sobre mim. Mesmo com os olhos fechados nada era tão escuro. Havia um alaranjado forte em minhas pálpebras fechadas. Lancei meu braço esquerdo sobre os olhos e vagarosamente fui abrindo-os.

Tinha razão em supor que havia uma luminosidade de cegar. A primeira visão que tive foi a de um céu tão azul e limpo, que chegava a doer minhas vistas, nuvens brancas e suaves dançavam vagarosamente. Uma brisa fresca atingiu meu corpo, causando-me calafrios. Sentia também leves cócegas ao notar que uma grama rasteira me rodeava. O ar ali era puro, o que indicava que não estava próximo de nenhuma cidade, além do mais, não havia barulhos maiores do que minha própria respiração.

"Estou morta?" perguntei-me. O que me recordava de ontem... "Será que aquilo tudo foi um sonho? Ou pesadelo? O que aconteceu? Como vim parar aqui?". Suspirei cansada enquanto minha cabeça se enchia de perguntas. Comecei a me levantar devagar. Mas só o esforço parecia ser um peso sem igual, não sabia ao certo quanto tempo havia permanecido deitada naquela posição. Vagarosamente consegui me sentar e observar melhor a cena de tirar o fôlego que se estendia a minha frente.

Caso eu desse mais dez passos eu encontraria um precipício, um fator assustador, pois eu estava dormindo na beirada de um precipício. Mais impressionante era a maravilha da natureza que meus olhos observavam: uma serra verde se chocava harmoniosamente com o azul límpido do céu. Deis mais alguns passos e descobri que ao fundo do precipício existia protuberâncias pontudas como espinhos saltando da terra.

Andei dez passos para trás, os olhos grudados e assustados na paisagem que se estendia no horizonte e abaixo de mim. Inspirei profundamente sentindo uma energia revigorante se instalar por todo meu corpo, o sol me aquecia, enquanto a sensação de estar sendo observada se apoderava de mim. Não sabia dizer desde quando, porque tudo estava confuso, mas lá estava aquela sensação. Estando a uma distância segura virei-me em busca de reconhecer o local, foi então que meus olhos pararam de encontro aos seus. Lorena estava ainda mais majestosa do que antes, seus olhos, um azul e outro dourado, me observavam o tempo inteiro. Uma brisa mais forte chicoteou meu cabelo para frente e deixou a saia do vestido dançando ao redor do meu corpo. Sua pose era despreocupada, enquanto se mantinha recostada embaixo daquela árvore com os braços cruzados a frente do seu corpo. Respirei fundo e iniciei minha caminhada até seu encontro. Não tinha motivos para não confiar nela. Ou tinha?

Sua postura não mudara, continuava ali, calmamente. Notei que atrás dela havia protuberâncias negras, eu já imaginava o que seriam, mas não sabia se estava preparada para vê-las assim tão de perto. Humedeci meus lábios, enquanto engolia em seco. Meu coração estava disparado dentro do peito, e a cada passo que eu dava mais dúvidas surgiam em minha cabeça.

Parei, mantendo uma distância segura entre nós. Não sabia que tipo de risco estava correndo só por estar ali. Sua expressão continuava impassível e insondável. Seus olhos pareciam mais vivos e brilhantes como jamais vira. A árvore era grande a alta o suficiente para criar uma cúpula de sombra em torno de nós duas. A grama embaixo de meus pés era gelada, comparada a que eu vinha pisando anteriormente.

Lorena afastou a coluna do tronco, um par de asas negras, grandes e alvas, tomou forma em sua costa. O susto foi tanto que me congelou no mesmo lugar, não tinha intenção nenhuma de sair dali. Sentia que poderia tropeçar em meus próprios pés caso tentasse dar algum passo. Ela continuou me observando atentamente até diminuir a distância entre nós, meu rosto virou-se para baixo, enquanto seus pés desciam para a grama. Era quase imperceptível, mas ela estava voando uns dez centímetros acima da grama.