Após certo tempo parei de procurar aqueles mesmos olhos em Camila, os mesmos da boate. Tudo nela parecia normal e não havia uma áurea selvagem que eu pudesse identificar. Ela continuava dirigindo tranquilamente pela via, eu havia marcado com a delegada alegando ser apenas uma entrevista, além de investigar e procurar o verdadeiro assassino, eu acreditava que meu diretor do Correio Brasiliense iria gostar do que eu conseguira.
Continuei meus afazeres no celular até sentir o carro estacionar na frente da delegacia. Olhamos uma para a outra como se buscássemos coragem. Os olhos de Camila continuavam com a mesma coloração esverdeada que possuíam. Tão verdes quando a água mais límpida do oceano, no entanto eu notei, mesmo que imperceptível para alguém, havia uma coloração dourada presente ao redor de sua pupila.
- Pronta? – perguntou-me.
Fiz que sim com a cabeça e saímos do carro. Do lado de fora haviam algumas pessoas sentadas, e alguns policiais também conversando. Os distintivos estavam presos em uma corrente ao redor do pescoço e pareciam tranquilos com suas risadas e brincadeiras. Entrei no local, as cadeiras enfileiradas pelo espaço encontravam-se em ordem, a frente da primeira fileira de cadeiras havia uma mesa de madeira, dividida em quatro cabines de atendimento. Cada uma possuía um computador, as três primeiras estavam vazias então nos aproximamos da quarta, onde um rapaz estava sentado.
- Em que posso ajudar? – perguntou olhando-nos.
- Como faço para falar com a delegada da instituição? – perguntei logo completando – Tenho uma hora marcada para entrevista-la.
- Só um minuto. – disse se retirando.
Ele andou um pouco mais para o lado oposto ao da parede onde sua cabine estava, próximo ao fim da mesa com cabines, havia outro balcão da mesma madeira e mais alto, abaixo dele havia uma placa escrita "INFORMAÇÕES" em preto.
- Bom, - começou após ter retornado – ela a está esperando em sua sala, só aguardar um momento que aquela moça ali – referiu-se apontando para o outro lado – irá acompanha-las até lá.
- Obrigada! – disse e saímos ali da frente.
Sentei-me em um assento, Camila ao meu lado e esperamos até sermos chamada, ou melhor, até que eu fosse chamada. Entreguei um caderno de anotações para Camila, para que a mesma pudesse fingir estar anotando o que a delegada falava, enquanto eu gravava com o celular. Aqueles míseros minutos tornaram-se a eternidade para mim, caso fosse confirmado que Lorena era a assassina de Otávio o que eu iria fazer? Entrega-la? Se já não a tivessem pegado, pois a mesma ainda não dera nenhuma notícia após sair do meu apartamento naquele dia.
Senti a mão de Camila em minha coxa, dando um leve aperto, encorajando-me. Virei o rosto para ela e dei um sorriso mínimo, pelo menos minha melhor amiga estava ali comigo. Eu conseguiria passar por isso.
- Senhora Madalena? – uma mulher alta e elegante perguntou firme.
Levantei-me de imediato, notando a figura que brotará do chão a minha frente, ela aparentava ter seus quarenta anos, os cabelos negros estavam impecavelmente amarrados para trás, seu distintivo pendia na frente do seu corpo, preso a mesma corrente. Era uma mulher alta e esguia, magra na medida certa. Eu e Camila nos aproximamos para cumprimenta-la.
- Fico feliz em ver que pode nos receber Delegada. – disse em tom firme apertando-lhe a mão.
- E você é? – perguntou alternando seu olhar entre eu e Camila.
- Essa é Camila – apresentei – minha assistente no jornal. Eu sou Madalena.
Seus olhos avaliaram-me sem serem discretos. Senti um arrepio em minha espinha ao notar o brilho que emanava de suas lentes de contato. Não sei explicar por que, mas ela usava lentes para encobrir suas verdadeiras órbitas.
Minha mente ainda girava com todas as informações que acabara de receber, a minha frente à tela do computador continuava virada para que eu pudesse ver a imagem de sua assassina. Tive que recobrar o choque no mesmo instante que o levei, pois a delegada analisava-me constantemente como se quisesse sondar minhas expressões em busca de uma brecha para saber o que se passava em minha cabeça. Eu nem sequer conseguia acreditar no que estava vendo ali. Suspirei, mantendo minha expressão neutra e retornei meu olhar para Camila.
Havia uma preocupação que apenas eu era capaz de sondar naquele instante, eu conhecia aqueles olhos há sete anos, e sabia bem que me perguntavam internamente como eu estava. A resposta era clara: decepcionada e assustada. Eu estava apaixonada por uma assassina.
- Anotou tudo? – perguntei-lhe.
Ela apenas fez que sim com a cabeça, fechando o caderno e tampando a caneta. Dei-lhe um sorriso mínimo e falso e voltei a olhar para a Delegada.
- Bom - comecei – isso é tudo, obrigada...
- Bethânia. – ela disse – Pode me chamar de Bethânia.
- Obrigada, Bethânia! – estendi-lhe a mão para cumprimenta-la. – Obrigada por nos receber!
- O prazer foi meu, Madalena. – disse ela com um sorriso. – Ah! – apertou com mais força prendendo-me no lugar ainda – Caso saiba do paradeiro da Senhorita Lorena, peço-lhe que me informe, tem meu contato.
Novamente lá estava aquele brilho por baixo de suas lentes. Suas palavras possuíam um peso enorme em meus ombros e tive que me controlar para não desmoronar ali em sua frente, pois sabia bem que apenas levantaria suspeitas. Naquele momento eu possuía o desfecho de uma ótima matéria, merecedora de primeira página, e do meu final feliz. Só havia um problema, eu ainda não acreditava que Lorena era realmente a assassina.
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MADALENA (Livro 1)
RomanceAs histórias bíblicas não passavam de estórias. Há muito tempo uma jovem nasceu para a redenção do mundo. Mas, forças das trevas não queriam a redenção, queriam que o ser-humano destruísse tudo aquilo que lhe foi dado. Séculos depois a maldição esta...