PESADELO - MISTÉRIO

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- Nãããooo! – gritei em desespero.

Encontrava-me sentada e com os braços suspensos a minha frente. Minha testa estava molhada de suor e o cabelo grudado em minha nuca e rosto. Sentia-me fraca e vulnerável, uma claustrofobia apossou-se de mim e cambaleante retire-me da cama. Aquilo tudo parecia um pesadelo para mim, as coisas estavam acontecendo rápido demais. Algumas semanas atrás eu estava "normal", mas agora, algo estava estranho. Havia um mistério no ar que implorava para que eu o descobrisse e acabasse com aquele tormento.

Minha cabeça estava latejando de dor e havia um roxo suave despontando na ponta esquerda, próximo aos fios do meu cabelo, na testa. Frustrada e cansada retirei toda aquela roupa e deixei que a água quente do chuveiro deixasse minha pele fumegante, completamente vermelha. Queria que tudo aquilo passasse! Era pedir demais?

Sai do banho nua, pois havia me esquecido de pegar uma toalha e por lá não tinha nenhuma a qual eu pudesse usar. Ao entrar em meu quarto fui pega de surpresa, pois Camila encontrava-se sentada em minha cama, esperando-me. Seus olhos saíram do chão, analisando-me de cima a baixo. Aprecei-me em pegar uma toalha, em vão, pois a mesma jogava uma para mim naquele instante, enquanto me observava enrolar-me nela.

- Desculpa. – começou ela.

Não sabia dizer pelo que ela se desculpava, eu apenas pressentia que não tinha nada a ver com seu sumiço repentino após nosso beijo.

Sentei-me ao seu lado, suspirando de cansaço. – Pelo que está se desculpando? – perguntei devagar.

- Eu fui infantil. – disse olhando-me nos olhos – Você sabe... Que não gosto de ser rejeitada, certo? – fiz que sim com a cabeça, incentivando-a a continuar – Nós deveríamos ter conversado e agora... – ela parou abruptamente.

- Olha, - comecei – vamos deixar para lá. Você não quer conversar sobre e eu ando cansada dessas coisas que andam acontecendo comigo. – falei mais para mim mesma do que para ela.

Senti os olhos de Camila sobre mim, algo chamará sua atenção, e era o que havia dito. Tinha plena certeza que ela iria pedir uma explicação naquele momento. Contei até três, foi tempo suficiente para a pergunta surgir.

- Do que está falando Madalena? – perguntou curiosa.

Seus olhos pareciam mais verdes do que o de costume, e sua sobrancelha direita estava arqueada, esperando ansiosamente pela resposta.

- Venha. – chamei-a.

Andamos pelo corredor até a sala do meu apartamento, minhas pesquisas continuavam ali, cada reportagem e até mesmo imagem pregada na lousa, alguns papéis estavam espalhados pela mesa de centro, uma bagunça total.

- Veio me mostrar seu trabalho? – perguntou em tom divertido.

- Não! – disse revirando os olhos logo completando – Quase! – arranquei a foto da Lorena de lá e a dei para Camila – Recebi um e-mail "misterioso" – disse fazendo aspas com a mão – me alertando de que Lorena teria sido a assassina de Otávio.

Os olhos de Camila subiram para meu rosto no mesmo instante em que lhe passei toda aquela informação. A mesma os arregalou como se eu estivesse falando algum tipo de "abobrinha" enquanto relatava o que havia descoberto. Minha pesquisa estava surpreendentemente rápida para coletar informações.

- E você achou isso em questão de duas semanas? – perguntou incrédula, quando não respondi a mesma continuou – Você ainda não a entregou para a polícia? – perguntou-me.

- Esse é o mistério Camila. – disse eu – A mulher não se encontra na base de dados do governo ou da polícia, como se ela nunca tivesse existido, ou sequer... Ou estivesse morta. – disse jogando-me no sofá.

Deveria tomar cuidado, pois ainda estava enrolada na toalha e a preguiça daquele dia me impedia de ir buscar uma roupa para vestir.

- Eu não consegui provas o suficiente, apenas o anel de rubi. Mas eu perdi esse anel que achei quando sai com Lorena. Eu tenho, ou pelo menos, acho que era dela.

- Pode ser perigoso. – ela começou sentando-se ao meu lado – O que mais falta ainda para conseguir descobrir alguma coisa? – perguntou sem me olhar, com a foto ainda em mãos.

- Precisaria falar com a delegada que tomou conta do caso. – suspirei – No entanto, ela ainda não estava disponível para me atender. Amanhã ligarei para ela... Deve haver algo em seu banco de dados.

- E por que se preocupar com tudo isso? – perguntou – Nunca te vi tão empenhada desde a época da faculdade.

Ponderei a resposta antes mesmo de falar. – Bom... – comecei com cautela – Por alguma razão inexplicável e que o universo não me fala, eu acredito em Lorena... Quer dizer – mudei a tática – eu sei que ela não faria algo assim. Não havia motivos para fazer esse serviço.

Camila apenas acenou para mim e virou-se me encarando. – Então vou te ajudar. – disse com um sorriso.

Sorri de volta e peguei a foto da mão dela pregando a foto com tachinha no mesmo local em que estava. Todas as informações estavam ali, cada uma delas possuía algum enigma, minha cabeça soltava fumaça de tanto que trabalhava para não deixar nada passar, no entanto, eu sabia que algo estava fora daquele "jogo", algo ali não era certo e eu tinha calafrios só de imaginar o que poderia ser.

- Antes de começar a te ajudar – começou ela – Vou pedir duas pizzas e senhorita vai descansar. – disse caminhando até o telefone.

Afirmei em concordância e agradeci antes de retornar ao meu quarto. Retirei a toalha e coloquei uma roupa, sai pelo corredor direto para a cozinha, iria beber água, até ver o pedaço de vidro do meu espelho próximo à porta. Na parte de baixo da moldura, bem próximo, havia um pedaço faltando, do mesmo formato e tamanho, eu não sabia como aquilo havia quebrado. Abaixei-me para pegar o caco antes que alguém se machucasse e o pesadelo veio com força até minha cabeça. Um dor despontou da nuca até minha testa e cambaleante fui para a cozinha, apoiei-me na pia e analisei mais de perto o caco do espelho, por ele eu me via sendo arremessada de encontro ao mesmo.

- Já pedi. – disse Camila sorridente e retornando para a sala.

Peguei o caco e o joguei no lixo, aquele resto de dia eu iria descansar e esquecer o que estava me incomodando. Apressei-me na sala e aconcheguei-me ao lado de Camila, vendo TV e esperando a pizza chegar.

MADALENA (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora