Abri os olhos devagar. Piscando algumas vezes até sentir que minha visão estava ficando mais nítida. Meu primeiro contato foi com um teto branco. Um gemido baixo escapou de meus lábios. Sentia cada parte do meu corpo dolorida e pesada. O local em que estava deitada era macio e por sinal quente. Virei a cabeça para o lado observando a cama em que estava, era uma cama de casal com lençóis brancos e um edredom em tons de vermelho com detalhes dourados me cobria.
Meus braços estavam esticados, no direito havia uma seringa presa na junção entre o braço e o antebraço. Senti algo em meu nariz, lançando suaves lufadas de ar para meus pulmões. O que facilitava minha respiração. Abri minha boca, sentindo-a seca e desidratada. Passei a língua de leve por meus lábios, sentindo os repuxarem e sangrarem de tão ressecados.
Lorena sentou-se ao meu lado, afastando meu braço direito onde era injetado o soro. Pegou uma caneca branca, ajudou-me a levantar um pouco a cabeça e trouxe o objeto para meus lábios.
- Beba. – disse.
Ainda me sentia receosa em sua presença, e nada poderia fazer sentindo-me fraca daquele jeito. Deixei meus lábios ainda selados, em dúvida do que aquilo poderia ser.
- É apenas água Madalena. – disse tentando me tranquilizar.
Senti-a tombar mais a caneca fazendo o líquido frio molhar meus lábios, o frescor e a sede eram tanta que deixei minhas dúvidas de lado e tomei avidamente aquele liquido, que por sinal era água em sua forma mais pura e aconchegante.
Lorena deitou minha cabeça novamente, com cuidado. Senti um leve incomodo e uma dor chata. Ela se levantou e sentou mais próxima, agora me fazendo enxerga-la. Seus olhos mantinham o mesmo tom, um dourado e outro azul, sua expressão era de cansaço. Tudo nela exalava exaustão.
Suas mãos foram até meu rosto, retirando os tubinhos de meu nariz. Sentindo o desconforto ir embora pude sentir um cheiro diferente, camomila estava por toda parte.
- Onde estou? – perguntei.
Minha voz parecia estranha aos meus ouvidos, como se outra pessoa estivesse falando em meu lugar. Uma rouquidão saia no som que emitia quando pronunciava alguma palavra.
- Está em minha casa. – disse-me.
Seus olhos me analisavam, esperando alguma resposta, ou pergunta. – O que aconteceu...
- Não foi um sonho. – disse suspirando – Tem quinze dias que está em coma.
Senti uma agitação em meu interior. "Não podia ser" pensei comigo. "Quinze dias era muito para uma pessoa ficar desacordada". Lágrimas rolaram novamente de meus olhos, uma tristeza me embalando, uma agonia se instalando em meu peito. Aquilo não estava certo.
Senti os dedos de Lorena secando minhas lágrimas e fazendo uma leve carícia em minhas bochechas.
- Shiuuu. – começou ela – Estou aqui! Tudo está bem agora.
Fiz que não com a cabeça. – E-eu – solucei – sei que não está. – disse em sussurro – Só queria minha vida de volta. Minha vida tranquila e pacata.
Sua carícia não cessou, no entanto senti o peso de minhas palavras sobre ela. Seus olhos mostraram o quanto ela sentia e sofria minha dor. Isso apenas fez com que o meu choro se intensificasse.
Uma porta foi aberta de supetão. Cabelos ruivos tornaram-se visíveis em meu campo de visão. Uma Camila tempestiva acabava de entrar, como se tivesse correndo uma maratona para estar ali, e talvez, estivesse mesmo.
- Desculpe-me Lorena – falou uma morena atrás de Camila – mas, Camila insistiu em entrar e quando não deixei...
- Tudo bem Dalila. – respondeu Lorena – Eu assumo daqui. – completou firme.
- Estou aqui fora, se precisar. – disse em seguida retirando-se e fechando a porta atrás de si.
O olhar de Camila alternou entre mim e Lorena. Sua sobrancelha arqueando em dúvida, como se notasse que poderia ter interrompido algo.
- Espero não estar interrompendo algo. – disse ela.
- Não está. – respondeu Lorena dura e fria.
- Bom. – e completou – Podemos ir para a Inglaterra. Estou com Eva.
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MADALENA (Livro 1)
RomanceAs histórias bíblicas não passavam de estórias. Há muito tempo uma jovem nasceu para a redenção do mundo. Mas, forças das trevas não queriam a redenção, queriam que o ser-humano destruísse tudo aquilo que lhe foi dado. Séculos depois a maldição esta...