capitulo 5 - O principio do fim

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*a emoção está a chegar, mas faz de conta que não vos disse :p*

O tempo passou, e chegou 1999, um ano bastante importante nesta história, um ano que prometia ser bastante feliz, mas no qual aconteceu a tragédia que afundou a minha vida.

            Aos oito anos, Taylor tinha começado a sua carreira como cantor, e agora que tinha 16, era já mundialmente famoso. Nos seus oito anos de carreira apenas cantara ao vivo cinco vezes, e nunca cantara mais que duas músicas pois Alice não deixava. Alice achava que os concertos eram demasiado cansativos para a débil saúde de Tay, e por esse motivo a carreira dele baseava-se nos CDs e em actuações pontuais.

            Aos meus 11 anos começámos a namorar. Seria de imaginar que isso iria acontecer algum dia, por isso quando contámos à nossa família, absolutamente ninguém ficou surpreendido. Aconteceu de uma maneira bastante natural. Desde que me lembro, sempre estive apaixonada por ele e ele também sempre demonstrou ver em mim mais que uma amiga. Resumindo, um dia com a maior das naturalidades ele disse-me que gostava de mim, pediu-me em namoro e eu aceitei. Claro que a situação em si foi muito mais romântica, mas não quero alongar-me muito no assunto.

            Agora ao chegar aos 16 anos Tay estava medicado e estável. Por essa razão, queria começar a dar concertos e tinha a certeza que era capaz. Depois de conversar, gritar e implorar à irmã para o deixar fazer os concertos, ela acabou por ceder e autorizar, com a condição de que ele teria calma.

            Seriam 10 concertos, pois Alice não queria arriscar, e começariam no princípio de Agosto. Mesmo assim, ele começou os ensaios em Abril, pois tinha de ir com calma e fazer poucas horas para não se cansar em excesso.

            Fiquei bastante preocupada com a possibilidade de ele perder anos de vida devido ao esforço requerido pelos concertos, mas era a decisão dele e, se ele sentia que era capaz, eu só tinha de acreditar e rezar muito para que fosse verdade.

            Como tinha aulas, não pude acompanhar os ensaios de Abril e Maio, mas nós falávamos muito por telemóvel e ele contava-me como tinham corrido. Ele acreditava mesmo que as suas tentativas de me enganar eram um sucesso mas, no meu caso, nunca utilizaria essa palavra para as descrever, sempre achei que fracasso era a mais adequada. Ele dizia-me sempre que estava tudo bem, mas eu prestava sempre especial atenção á sua voz e, assim, conseguia distinguir do mais ligeiro ao mais acentuado sentimento de cansaço e dor. Eu sabia, de cor, como ele se comportava quando se sentia mal: ficava com a respiração ofegante, aclarava muitas vezes a voz para se certificar que esta não falhava, ficava ligeiramente rouco e, a maior parte das vezes, eu tinha de repetir duas vezes a mesma frase porque ele começava a contar as pulsações e esquecia-se de com quem estava a falar.      

            Com tudo isto, estava preocupada com ele, especialmente pelo facto de Alice não estar com ele, pois estava a percorrer o mundo por causa de uma série de concertos. Acabei por ficar mais tranquila quando, em Junho, fui para Los Angeles. Assim era melhor, pois poderia controlá-lo e ser eu a cuidar dele.

            Foi a Stephanie quem me foi buscar ao aeroporto, já em Los Angeles, porque o Taylor ainda estava no ensaio.

            Era suposto eu ir para casa, mas resolvi fazer-lhe uma surpresa. Entrei muito sorrateiramente pela entrada das traseiras do Staples Center e apercebi-me que ele estava no palco a cantar. Reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Encontrava-se já no fim da música, por isso agarrei num microfone que estava pousado numa mesa à minha frente, e esperei que ele acabasse, pronta para começar a cantar logo que a próxima música começasse.

            Quando a música acabou, a outra começou de seguida e eu preparei-me. Começava com um solo de piano e, quando o piano parou, eu comecei. Fiquei satisfeita pois o som que saía da minha garganta era bastante afinado, suave e melodioso. Esperei um pouco e, quando chegou o refrão, entrei no palco. Ele ficou lá, especado a olhar para mim, e fiquei com a impressão de que ele gostava do que ouvia. A música era “I need you”, a minha favorita, o que fazia com que a minha voz estivesse melhor, estava treinada para aquela música. Quando a música acabou, eu e ele estávamos frente a frente.

            - Surpresa! – disse eu, com uma voz tímida.

            Ele não disse nada, apenas me abraçou, mas aquele gesto revelou mais que mil palavras. Queria conversar com ele, mas outros dos meus amigos que lá estavam reclamaram a minha atenção. Os nossos amigos rodearam-nos e fizeram-me perguntas das mais normais, às quais respondi quase automaticamente. Enquanto isso, Taylor manteve-se calado ao meu lado segurando-me na mão e de olhos pregados em mim.

            Como ele ainda tinha que ensaiar mais duas músicas, desci do palco e sentei-me no chão, ainda a conversar com as filhas do estilista dele, a Zoe e a Rachel, pronta a esperar pacientemente, não me importando de ouvir dez vezes a mesma música, se fosse ele a cantar. “Voz de anjo”, pensei uma vez mais.

            Nos meses de Junho e Julho fiz sempre o mesmo, criando uma nova rotina. Às oito já estava acordada e vestida, tomava o pequeno-     -almoço com o Tay e a Stephanie e, mal acabávamos, eu e ele íamos para os ensaios. Entrávamos pela porta principal, ele dirigia-se ao palco e eu ficava lá em baixo a assistir. Nem tudo era acção. Na maior parte da manhã, eles falavam sobre aspectos técnicos e adaptavam as músicas ao concerto.

            Saíamos ao meio dia para almoçar e voltávamos duas horas depois, sendo a tarde dedicada a ensaiar as músicas. Às vezes ele ficava de pé, outras sentava-se enquanto cantava. Ele sabia que se não se comportasse bem e tomasse conta da sua saúde, à noite, ia ouvir um sermão, e como já estava farto deles, obedecia às minhas condições.

            Os ensaios acabavam às quatro da tarde, então seguíamos para casa e relaxávamos. Ou íamos para a piscina, ou passeávamos no jardim, ou líamos, ou sentávamo-nos nos baloiços que ficavam em frente às roseiras e conversávamos.

            Todos os dias, às seis horas, eu falava com a minha mãe por telefone. Este ano era diferente, eu tinha conseguido convencê-la a deixar-me ficar em Los Angeles as férias inteiras, para tomar conta do Taylor. Tínhamos muitas saudades uma da outra, nunca tínhamos passado tanto tempo sem nos vermos, mas eu não ia arriscar, não me atrevia a deixar o Taylor sozinho nem um dia.

            E assim passaram dois meses.

            No dia 2 de Agosto, começamos a fazer as malas para ir para Nova Iorque, onde iam decorrer os concertos. No dia 3, apanhámos o avião e quando chegámos ao aeroporto de Nova Iorque, o produtor estava à nossa espera para nos levar à casa que Alice alugara para nós a pedido de Tay que odiava passar muito tempo em hotéis. No dia 5 foi o ensaio geral, os concertos começavam dia 15, o palco já estava todo montado e pronto para os espectáculos. Claro que fui com ele, não iria permitir exageros quanto á quantidade de energia que Tay ia dispensar.

            Afinal, a minha presença foi desnecessária já que não consegui impedi-lo. Fez tudo de seguida, mas estava lindo. Iam ser, sem dúvida, os concertos mais espectaculares do ano, mas claro que isso teve um preço. Aquele ia ser o último ensaio antes dos concertos, ele estava pronto e tudo corria às mil maravilhas, mas ele estava a pagar por isso. Reparei que ele não estava bem no fim do ensaio. Estava muito pálido, suava tanto que parecia uma cascata, parecia estar com frio, apesar de estarem 30º, e dava a impressão de que podia desmaiar a qualquer momento. Para mim era muito claro aquilo que se passava.

            Ele não disse nada até chegarmos a casa, desconfiei que seria porque nem sequer tinha forças para isso. Tudo confirmava aquilo em que eu estava a pensar, ele estava definitivamente a sofrer!

            Quando chegámos a casa, ele subiu as escadas e, já lá em cima, disse que não queria ser incomodado. Não o vi o resto do dia, ele ficou no quarto, não desceu nem para lanchar ou jantar. Cheguei a pensar em chamar uma ambulância mas, quando passei pelo seu quarto para me ir deitar, ouvi-o respirar. Fui dormir e, pela primeira vez desde que nos conhecêramos, ele não cantou até eu adormecer.

Para sempreOnde histórias criam vida. Descubra agora