capitulo 10 - À beira da loucura

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*espero que gostem e continuem a ler. obrigada a todos!*

            Comecei por bater com o pé no chão, a seguir começaram os arrepios e os tremores, depois veio o ataque de choro e, por fim, comecei a repetir, inconscientemente, “Acorda, acorda, acorda…”. Estava definitivamente a enlouquecer.

            Quando nasceu o dia levantei-me e fechei mais a janela, não suportava a luz do sol. Nessa altura estava nervosa, histérica e hiperactiva. Comecei a andar de um lado para o outro do quarto, a seguir comecei a gritar “Acorda, acorda…!” e depois comecei a partir coisas. Atirei a roupa que estava no roupeiro para o chão, fiz o mesmo com os móveis, parti os espelhos, destrocei a aparelhagem, arranquei os cortinados, e teria continuado se Stephanie não tivesse aparecido, alarmada pelo escândalo. Segurou-me nas mãos e obrigou-me a parar de andar às voltas, a seguir abraçou-me até parar de tremer e começou a sussurrar “Calma, calma…” enquanto eu chorava e repetia “Ele não acorda”.

            Sentou-me no único cadeirão que eu não deitara abaixo, saiu do quarto a correr e, um minuto depois, voltou, ainda a correr, com um copo de água e um comprimido, deduzi que fosse um calmante. Tomei--o de bom grado, não gostava de me sentir descontrolada. Ficou comigo até às 9 horas, hora a que pedi que se fosse embora e disse que não comeria nada. Estava decidida a manter o jejum, não fosse o diabo tecê-las e eu precisasse de uma ajudinha para morrer. 

            Fiquei sentada no cadeirão. Devido ao medicamento estava tão calma que nem conseguia pensar como deve ser. Passei o resto da manhã ali sentada a sonhar acordada.

            Umas horas mais tarde, ou minutos, naquele momento era igual, o meu cérebro voltou a funcionar mais ou menos bem. Estava farta de estar ali sentada, mas não conseguia levantar-me, por isso, deixei-me escorregar pelo cadeirão até ficar sentada no chão, pelo menos a perspectiva era diferente.

            Tinha chegado a altura de admitir que era verdade, que Tay não ia voltar a acordar e, ao aceitar isso, tive de decidir o que queria da minha vida. Estava claro que aquele mundo já não significava nada, por isso tinha de seguir outra via. Então pensei “Se ele não volta, vou eu ter com ele”. Muito bem, era esse o plano, matar-me, o difícil era saber como. Pensei nas possibilidades: atirar-me pela janela – muito típico -, cortar os pulsos ou o pescoço – muito dramático -, deixar-me cair para trás e partir o pescoço – não podia ter a certeza de que ia morrer -, envenenar-me – não devia haver veneno em casa. Acabaram-se as ideias, não sabia como fazê-lo, e não acreditava que existisse ali algum livro do tipo “1001 maneiras de se suicidar”. Fechei os olhos e meditei, passaram muitas ideias pela minha cabeça mas nenhuma que pudesse executar. Até que desisti, e acabei por chegar à conclusão de que não importava a maneira como o fizesse, mas sim o resultado. Tinha de ser algo rápido, algo a que eu não tivesse resistência, assegurando assim que obteria o resultado pretendido.

            Devido a já me sentir às portas da morte, por causa do Taylor, das minhas mais de 48 horas sem dormir nem comer, e também pelo meu mais recente ataque de pânico, não foi difícil concentrar-me no meu objectivo e convencer-me de que estava a ir pelo melhor caminho.

            Fiquei sentada no chão, com a cabeça pousada nos joelhos e os olhos fechados pensando no que estava prestes a fazer. Ao levantar a cabeça a primeira coisa que vi foram os bocados de um espelho partido que estavam no chão perto de mim. Estiquei-me a agarrei num que me parecia afiado. Ao tocar-lhe abateram-se sobre mim uma série de medos e questões que toda a gente tem. Será que vai doer muito? Será que vai demorar? O que vem depois?

            A verdade é que tinha receio, mas não medo. O medo para mim já não existia, tudo o que podia correr mal já tinha corrido. Eu estava no fundo, não podia ir mais para baixo que aquilo, não tinha nada a perder. E foi com este pensamento que encostei o vidro ao pulso e, lentamente, o deslizei com todas as minhas forças, que já não eram muitas, cortando tudo o que estava no seu caminho. Surpreendentemente não senti nada, absolutamente nada, o que de certa forma me deixou desiludida pois contara com aquela dor para me aliviar da outra que sentia, todo o meu ser implorava por algo que o libertasse, nem que por um segundo, da agonia que sofrera nos últimos dias. Mas creio que o meu corpo partiu do princípio que depois do que já tinha sofrido, nem valia a pena sentir uma dorzinha insignificante daquelas.

            Repeti o mesmo umas quantas vezes, ficando com uma série de cortes em cada pulso. O sangue vermelho escorria, deixando-me atordoada. Deixei-me ficar assim, cada vez tinha mais frio, cada vez tinha mais dificuldade em respirar, cada vez me sentia mais fraca e estranhamente tranquila. Até que, finalmente, perdi os sentidos, deslizei pelo tecido do sofá e fiquei estendida no chão. Não estava morta, ainda, porque de certa forma estava consciente, mas também não estava completamente viva, porque mesmo que quisesse não conseguiria acordar. O mais provável era ter entrado em coma. Estava parcialmente morta, sem conseguir ver ou mexer-me, mas ao mesmo tempo parcialmente viva, pois conseguia sentir o chão duro por baixo de mim, conseguia ouvir o silêncio pacífico e cheirar o sangue que já me começava a rodear.

            Fisicamente tinha ido abaixo, mas psicologicamente ainda estava minimamente lúcida.

            Quando perdi os sentidos psicologicamente, não sei quanto tempo depois, já estava enregelada, sem quase respirar e tão fraca que nem sentia o meu próprio corpo.

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