capitulo 14 - Uma coisa por fazer

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*aqui está mais um capitulo. espero que gostem.*

            A primeira coisa que vi quando acordei foi um relógio. Eram nove da manhã do dia doze de Agosto. Logo a seguir ouvi pessoas a aproximarem-se, fechei os olhos e fingi que ainda estava a dormir, não me apetecia falar com ninguém.

            Mal entraram, reconheci as vozes como sendo as da minha mãe e a da Stephanie.

            - Sim, já comprei os bilhetes. Passamos só em casa, apanhamos as malas dela e seguimos para o aeroporto. Acho que não é bom para ela ficar cá mais tempo. – disse a minha mãe.

            - Concordo consigo, mas ela vai ficar muito chateada connosco quando descobrir. – disse Stephanie, que não gostava de me enganar.

            - Quando descobrir já vai ser tarde demais. Daqui até ao aeroporto não há possibilidades de ela descobrir, e quando chegarmos a Portugal, se descobrir, já não vai poder fazer nada. – disse a minha mãe convicta. Dava para reparar que gastara muito do seu tempo a planear aquilo, e isso irritou-me.

            - Tem razão, nesse ponto. Mas sabendo como ela é, não tem medo que ela não volte a falar consigo? Eu nunca na minha vida lhe menti, e agora, que o vou fazer, estou cheia de medo que ela me ache uma traidora e que nem queira voltar a olhar para a minha cara. – disse Stephanie, preocupada.

            “Isto cada vez está melhor.”, pensei, “Eu nunca seria capaz de odiar assim tanto a Stephanie, fizesse ela o que fizesse. Mas, se ela tem assim tanto medo da minha reacção, de certeza que não é coisa boa.”

            - Mesmo que fique chateada ao principio, vai acabar por perceber, e depois, talvez uns anos depois, quase de certeza que nos vai agradecer. Ela não é das pessoas que ficam zangadas para o resto da vida. – disse a minha mãe, tentando tranquilizar Stephanie.

            “Eu se fosse a ti não tinha tanta certeza. Não sou das pessoas que ficam zangadas para o resto da vida quando os motivos das minhas zangas não são suficientemente bons para isso, mas quando são, garanto que sou capaz de ficar zangada até muito tempo depois do fim da minha vida.”, pensei, já farta de tanto mistério.

            - Mesmo assim, nunca se sabe. – na sua voz notava-se que a vontade de me proteger e a sua lealdade lutavam para decidir o que fazer. Eu estava a apostar na lealdade.

            - Não se preocupe mais com isso. Então e a senhora, que vai fazer da sua vida agora? – perguntou a minha mãe. Prestei atenção, aquele facto também me preocupava.

            - A menina Alice quer mudar-se para Miami e eu vou com ela. Creio que me irá fazer bem continuar a trabalhar para ela, ela e o Taylor eram muito parecidos. – disse ela. Ela também gostava muito do Tay, e trabalhava para a família dele desde que ele nascera, podia imaginar que ele lhe fazia bastante falta. – O meu avião parte para Los Angeles vinte minutos depois do vosso, encontrar-me-ei com Alice no funeral e depois seguirei com ela para Miami. – disse ela, com uma voz descontraída, parecia que lhe agradavam os seus planos.

            Nesse momento senti-me a pessoa mais estúpida do mundo. Era inconcebível não ter adivinhado do que se tratava. As peças encaixavam perfeitamente: a pressa da minha mãe em ir para Portugal, o facto de ela dizer que quando lá chegasse já ia ser demasiado tarde e o medo que Stephanie tinha da minha reacção. Estava tudo ligado, e a apontar para o mistério que elas estavam ansiosas por me esconder.

            - O funeral do Taylor, claro, é isso. – disse. Só quando as vi a olharem fixamente para mim é que me apercebi de que estava com os olhos abertos e de que o tinha dito em voz alta.

            Ficaram as duas petrificadas, a olhar para mim. Tinha-as assustado a valer, mas era bem feito. Levantei-me, sentei-me na cama e olhei para elas com uma expressão magoada e traída. Quantos mais remorsos sentissem melhor.

            - Como foram capazes de me fazer isto?! Que espécie de seres humanos são? Não podem enterrá-lo sem que eu me despeça e, além disso, tenho uma coisa para lhe dar! Têm de me levar, agora! – disse, não queria gritar com elas daquela maneira, mas não conseguia controlar-me. Eu tinha um novo plano, tinha sonhado com isso, um plano que conseguiria realizar com facilidade, mas que elas pareciam dispostas a arruinar.

            Como ainda estavam em estado de choque, não responderam logo. Foram precisos uns minutos até conseguirem responder. Durante esse tempo esforcei-me por me controlar.

            - Mas… - iam começar a argumentar, mas eu interrompi-as.

            - Mas nada! – gritei, lá se ia o meu controlo. Passados uns segundos consegui acalmar-me outra vez e prossegui. – Por favor, é importante! Eu preciso mesmo de lhe dar uma coisa. – implorei.

            - Bem…tudo bem. Mas depois voltamos para Portugal. – disse a minha mãe, com uma voz autoritária.

            - Está bem. – disse, desanimada.

            Não gostei da parte de ter de me ir embora, mas tinha a escola, a família, os amigos, tudo em Portugal, e talvez a minha mãe tivesse razão, não era bom para mim ficar ali.

            Estávamos todas ocupadas naquele momento. A minha mãe estava a falar ao telefone, tinha cancelado a nossa viagem para Portugal e agora estava a tentar marcar a viagem para Los Angeles, e quando isso estivesse tratado ia remarcar a viagem de regresso a Portugal. A Stephanie estava a arrumar as minhas coisas e eu estava a vestir-me. Quando acabei de me vestir Stephanie deu-me o colar dos corações, que estava em cima da mesa-de-cabeceira. Pôs-me ao pescoço a metade que dizia “Tay” e deu-me a outra metade para a mão; compreendi que ela sabia o que eu queria fazer. Sorriu-me, eu retribuí o sorriso e abracei-a. Ela era, sem dúvida, uma boa amiga. Estando tudo pronto, saímos do quarto, do qual nunca teria saudades. Descemos pelo elevador e quando chegámos à porta de saída do hospital, vi que o médico estava à nossa espera.

            - Boa sorte. Ainda é muito nova, vai conseguir. – disse ele, cada vez me parecendo mais simpático.

            - Farei todos os possíveis, ele não gostaria de me ver assim. – disse-lhe. – Muito obrigado, por tudo.

            - Não tem de agradecer. – declarou. – Faça boa viagem. Foi uma honra conhecê-la. – despediu-se.

            - Obrigado, e igualmente. – despedi-me também.

            Acenou-me com a cabeça e ambos fomos ao encontro dos nossos destinos. De certeza que, depois daquilo, ele seria melhor médico e eu…bem, eu tentaria refazer a minha vida, não por mim, eu pouca importância tinha, mas por Taylor, porque ele gostaria que eu tentasse e, além disso, as palavras do médico ecoavam na minha cabeça: “Lá por saber que não vai conseguir, não quer dizer que não tente.” Não sabia porquê, mas aquelas palavras faziam muito sentido para mim. Fui para o carro e, durante a viagem até casa, pensei. Pensei se depois de ele ser enterrado e de eu não o poder ver mais, o identificaria apenas como um sonho, o meu melhor sonho… Era uma possibilidade, mas eu tinha uma prova de que ele era real, ou que tinha sido.

            Quinze minutos depois chegámos a casa, saímos do carro e entrámos pelo portão pequeno. Stephanie abriu a porta de entrada e fui directamente até ao meu quarto. Eu e a minha mãe fizemos as minhas malas, enquanto Stephanie fazia as dela. Quando saímos do quarto olhei para o relógio, como já era hábito. Descemos as escadas e ficámos à espera que Stephanie descesse.

            Enquanto esperava olhei para o cimo das escadas, e então, vi Taylor.

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