capitulo 3 - Inseparáveis

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*ainda estamos no começo, a parte mais interessante está por vir. entretanto não desistam de ler sff :)*

No dia seguinte, fui entregue a Alice às nove da manhã e o resto da família foi de excursão. Não me lembro com muita exactidão desse dia. Lembro-me de estar feliz e de ter gostado, lembro-me de a ouvir cantar para mim e Taylor enquanto tocava piano, dos seus grandes olhos castanhos, que transmitiam nada mais que carinho, e do seu sorriso deslumbrante, que transbordava felicidade e boa disposição. Lembro-me de Taylor, dos seus olhos, do seu sorriso, de me sentir feliz com a sua felicidade.

              A partir desse dia, ficámos inseparáveis. Alice passou a ser a nossa guia particular e eu e a minha família passávamos a maioria dos almoços, lanches e serões na casa deles. Taylor e eu éramos os melhores amigos.

              Taylor vivia com a irmã e com a empregada, Stephanie. Chorava quando olhava durante muito tempo para as fotografias dos pais, e gostava de me mexer no cabelo. Desde o inicio, sempre me disse que, no seu coração, só havia espaço para mim, coisa que ainda hoje duvido, pois o seu coração era o maior que já vi.

              O tempo foi passando, todos os dias a mesma rotina, mas devo confessar que eu adorava essa rotina, pois todas as minhas actividades requeriam que Taylor estivesse comigo, e era só isso que eu queria e precisava.

              Depressa, e sem que ninguém o pudesse deter, chegou o dia 5 de Julho, dia em que voltávamos para Portugal. A despedida foi dura, não queria deixá-lo. Lembro-me de nos fartarmos de chorar e de darmos as mãos com todas as forças que tínhamos para que não me levassem. Não adiantou de nada, afinal, que podiam fazer duas criancinhas fracas e frágeis como nós contra a força dos adultos? Olhei para Alice e percebi que para ela também era muito difícil assistir àquilo, e para nossa satisfação ela foi mais esperta que nós e recorreu a outra técnica sem ser a força bruta. Assim conseguiu o nosso objectivo, um acordo com os meus pais. Segundo o acordo, eu passaria, durante todas as férias, algum tempo com eles.  

O acordo foi cumprido e todas as férias ia a Los Angeles para ver o meu melhor amigo. Cada vez éramos mais próximos.

              Eu chamava-o Tay e ele chamava-me Ni. Sempre achámos estes nomes muito queridos e, além disso, eram mais fáceis de pronunciar tendo em consideração as nossas idades iniciais.

              Lembro-me perfeitamente que nos primeiros cinco anos, os meus pais ficavam comigo na casa do Tay porque não tinha idade para andar de avião sozinha. Mas, a partir dessa idade, comecei a viajar sem eles. Às vezes a Stephanie vinha buscar-me a Portugal e outras viajava com uma assistente de bordo.

              No geral, fazíamos sempre o mesmo. Acordávamos às nove da manhã e tomávamos o pequeno-almoço, sendo o resto da manhã dedicada à música. Depois do almoço, fazíamos actividades que variavam segundo a estação do ano. À noite, jantávamos juntos. Nos dias em que Alice tinha concertos ficávamos colados ao ecrã da televisão enquanto os víamos, ficávamos sempre à espera que ela chegasse a casa. Subíamos juntos todas as noites, íamos para os nossos quartos, vestíamos o pijama e ele, a seguir, vinha ter comigo e cantava até eu adormecer. A sua voz angelical era a única coisa que me impedia de ter pesadelos.

              Lembro-me perfeitamente da sua voz, sempre me impressionou que alguém, mesmo se fosse um anjo, pudesse ter uma voz tão bela. Comigo ele utilizava sempre o mesmo tom calmo, carinhoso e compreensivo. Lembro-me de a comparar com a seda, de tão suave que era.

              Não sei porquê, mas todo o tempo que passava com ele me parecia insuficiente. Podíamos ter passado o resto da nossa vida juntos que isso parecer-me-ia pouco, pouco mas talvez suficiente. Tenho a certeza de que nunca nos teríamos farto um do outro, permaneceríamos sempre juntos mas, infelizmente, a vida não o permitiu. 

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