Capítulo 29

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A maioria dos acontecimentos na nossa vida acontecem por uma razão; todo mundo fala isso no instante em que percebe que algo não saiu como esperado, seja porque o namoro dos sonhos está desmoronando ou porque não conseguiu aquela vaga de emprego para pagar pelo menos a conta do cartão, assim as pessoas se confortam dizendo: É né, não consegui agora, mas tudo bem, tudo acontece por um motivo, Deus vai me arranjar coisa melhor.
Outra coisa que eu odeio é quando as pessoas acobertam suas decisões idiotas com a esperança de que Deus — ou em outra coisa que acreditam — vai dar um jeito nisso. Não é bem assim, quer pedir? Peça! Mas não fique só nessa de acreditar e ponto. Tem que ir atrás, batalhar, tentar resolver as besteiras que foi feita,  porque só pedir não vai adiantar porra nenhuma.
Eu percebi isso do jeito mais cruel que existe, magoei muitas pessoas que eu amava, praticamente desistir da minha carreira como médica por imbecilidade, só pensava em mim — agora eu percebo isso — e pra que? Aparentemente por nada, porque agora eu estou perdendo tudo, porque eu fui incapaz de pedir desculpas, engoli o meu orgulho e tentar resolver as atrocidades que eu fizera. Isso é castigo. Mas era disso que eu precisava, levar uma rasteira da realidade e ver o quão mal eu estava fazendo para todos ao meu redor, pessoas que só queriam me dar o amor que eu não pude dar à eles.
Não sei porque, mas algo dentro de mim achou que mereceu o tapa que levara agora da senhora Begot, na verdade acho que eu merecia muito mais.
Relaxo os meus punhos e olho para uma Alícia desesperada na minha frente, essa não é a mulher doce e singela que fora me buscar no aeroporto, ela está fora de si, olhando-me como se eu tivesse usurpado o seu bem mais precioso. Diego a segura com força pois ela quer com toda a veracidade me atacar, do mesmo modo que um leão faz com sua presa.

— Sua vagabunda! — Alícia rosna para mim. — Você é uma mulher desprezível! Como você pode fazer isso?! — Ela tenta avançar em mim, porém é bloqueada por seu marido.

— Mas do que a senhora tá falando? — Instigo alheia a todo aquele ódio repentino de mim.

— Eu to falando do seu casinho com o meu marido! — Arregalo os olhos chocada. — É, querida, eu vi vocês dois juntos de madrugada!

— A gente só estava conversando, nada mais. — Defendo-me ainda em choque devido essa acusação insana.

— Vadiazinha mentirosa! Eu vi as marcas de batom no pescoço dele! Do seu batom!

A mulher não consegue parar de gritar, ela esta muito fora de si. Essa sim é da equipe das mulheres que amam demais.

— Que porra de história é essa, mãe?

Alessandro pergunta. Merda! Tinha esquecido que a gente estava trocando chumbo agora pouco, e ainda vem mais essa história para rechear a raiva dele pela minha pessoa.

— É isso mesmo que você escutou, meu filho. Essa sua namorada, sei lá o que vocês são, está tendo um caso com o seu pai. — Alícia tem sua voz mais calma agora, porém ainda carregada de raiva.

— Isso é verdade? — Alessandro pergunta-me segurando forte em meu braço.

— Mas é claro que não. — Minha voz oscila de leve. — Você não vê que essa acusação não tem o menor sentido?!

Alícia rir debochadamente.

— Então o que diabos você estava fazendo sozinho com o meu pai no meio da madrugada, porra? — Ele esbraveja.

Foi VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora