14 ~ "I Love You"

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Acordei decidido e tinha um plano: Liguei na recepção e pedi uma camareira que entendesse um pouco de inglês pelo menos. Tinha uma, moça novinha. Devia ter seus 20 anos e estava apavorada. Acho que ela pensou que eu queria "algo mais". Coitada... a coisa ficou pior quando eu pedi pra ela me ensinar falar "I Love You" em português.
Tive que repetir pra ela várias vezes que queria aprender para fazer uma surpresa para as fãs e fiz a coitada repetir "eu te amo" tantas vezes comigo até eu conseguir aprender... eu não posso errar! Ela deve ter achado que é algum tipo de fetiche... vai saber! Eu ainda dou risada qnd penso nisso. Lola me fez corajoso desde o primeiro dia. Ela me faz querer coisas que não eram nem mencionadas antes dela.
Me despedi da pobre camareira com um "obrigada" e ela pareceu aliviada ao deixar o quarto. Eu sei palavras básicas: obrigado, bom dia... mas nunca tinha ido atrás de aprender outras coisas se não os cumprimentos que usamos nos shows. Isso é rotina em todos os países... acho que eu sei dizer "obrigado" em mais línguas do que eu me lembro o nome.

Olhei no relógio e quase perco a hora! Liguei para o Ike a avisei que eu iria tomar café no refeitório. Ele achou estranho, mas não questionou. Justifiquei que queria conhecer lá embaixo e ele se ofereceu para ir comigo. Recusei, claro. Eu quero encontrar Lola sozinho.
Desliguei o telefone e sai repassando mentalmente as palavras que eu diria: "eu te amo".
Estaquei em frente a porta dela e perdi a coragem de bater. Estava quase dando meia volta quando a porta se abriu:

- Meu Deus! Que susto! O que vc faz aqui?! - gritou ela.

- Pensei em tomar café com você, mas não sabia se vc já tinha descido, então ia bater na porta, mas vc abriu antes... - respondi enquanto meu coração parecia que ia sair pela boca. O pânico corria nas minhas veias e eu me senti eufórico e amedrontado, se é que isso seja possível. Mas é como eu disse: Lola me faz sentir coisas que são novidades pra mim.
- Eu não tomo café no quarto... - respondeu ela colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha e me olhando com aqueles benditos olhos grandes, castanhos e com manchinhas claras.
- Eu sei. Vou até o refeitório... não tive a oportunidade de comer lá ainda. - respondi tentando parecer casual.
- Ok... - respondeu ela meio desconfiada.
E saímos andando pelo corredor até o elevador.
Ela parecia nervosa, sei lá... estava quase se contorcendo... então achei melhor não ser invasivo e perguntei de forma direta:
- Minha presença te incomoda?
- De forma alguma, pq? - disse ela me olhando com aqueles olhos grandes.
- Vc fez uma careta... - respondi.
- Oh! - sorriso sem graça e vermelhidão facial. Ela é transparente demais.
Eu ri. É delicioso deixar ela sem graça. Mas fiquei com dó e disse:
- Já sei, vc estava pensando.
E ela sorriu:
- Isso... só pensando.
Seguimos em silêncio e chegamos ao refeitório.
- É bem grande aqui, não? O que vc gosta de comer? - tentando puxar assunto, enquanto pegava um prato.
- Depende do dia. - foi oq ela respondeu, também pegando um prato e como ela não se manifestou, continuei:
- Gosto de panquecas, mas aqui não é comum...
- Não msm. Não conheço ninguém que come panquecas no café da manhã! - Respondeu ela, seguindo a fila.
Peguei bacon, torradas, ovos mexidos e um copo de suco de laranja. Fiquei de olho pra ver o que ela comia... *Como assim, de repente, até o café da manhã dela me interessa?!*
E eu tive certeza de que é amor pq td que eu penso envolve ela de alguma forma e eu fico atento e sorrio feito um idiota qnd alguém fala o nome dela e perceber que ela dissipou todas as minhas "exigências" de uma "garota perfeita", pq mesmo fora do que eu tinha como ideal, ela passou a ser minha referência de perfeição... *nuts! I know it!*
Ela pegou leite quente com achocolatado e uns pães ou sei lá oq era aquilo que ela recheou de presunto e queijo. Mas vi que ela olhou profundamente para alguns pedaços de bolo de chocolate. *Transparente demais... ela gosta de bolos e chocolate*.
Nos sentamos e começamos a comer em silêncio, pq ela parecia constrangida e eu tinha acabado de redefinir minhas certezas sobre oq é  amor. Fiquei olhando aquelas bolinhas cascudas e amarelas no prato dela... *deve ser bom, pq ela pegou mais de um...* mas eu não fazia idéia do que era aquilo. Eu deveria estar muito concentrado nisso, pq qnd vi, ela me olhava com uma cara de "está tudo bem com vc?!". E já que tinha sido pego no flagrante, achei melhor ser sincero:
- Não quero ser grosseiro, mas... - disse pensando em como dizer isso - ... o que é essa bolinha? É pão? - e apontei para o prato dela.
Ela disparou a rir. *ótimo, agora eu sou um intrometido e tapado*.
- A pergunta foi idiota?
- Não... desculpa, eu não estava rindo de vc. Estava rindo da situação... é que o nome disso é "pão de queijo" e é muito comum comer por aqui, qualquer hora do dia. É como um pão, mas é fofinho e estica, pq tem queijo na massa. Quer pegar um? - ofereceu ela apontando pra um dos tais pães no prato dela.
- "Páo de Queixo"? - arrisquei.
E ela riu de novo...
- Queijo. Queixo é outra coisa. "Queijo" é "cheese". "Pão" é "bread", alguma coisa como "cheese bread" entendeu? - corrigiu ela.
- Queixjo? - repeti *palavrinha dos infernos! Não temos essa fonética em inglês!*
- Melhorou. - disse ela com um aceno de cabeça - "Queixo" é isso - ela disse apontando graciosamente o próprio queixo. E eu perdi a força das pernas.
- Hmmm. Obrigado. *em português msm! vou gastar todo meu vocabulário!*
- Bom! Tem treinado português? - disse ela erguendo as sobrancelhas.
- Só palavras simples: "Obrigado, De nada, Por favor, Eu te amo"... essas coisas. - disse, baixando o rosto e enfiando uma porção de ovos mexidos na boca para disfarçar minha tremedeira.
*Consegui! Espero que ela entenda agora!*
E o que se seguiu foi um silêncio... *merda! isso é bom ou é ruim?*
Quando terminamos, tudo que ela disse foi:
- Vou indo... preciso me arrumar...
E subimos juntos, mas cada um pro seu andar, sem mais palavras.
Me arrumei. Hoje são 2 programas numa mesma emissora. Dizem que é a número um por aqui. *Só espero que seja melhor do que a anterior...*
Nos encontramos no quarto do Ike e eles queriam saber:
- Como foi o café? Ike falou que vc desceu. - perguntou papai.
- Tranquilo... é bem grande lá embaixo. Vcs deveriam descer qq dia... tem algumas coisas muito boas... comi até um pão feito de queijo... borrachudo e delicioso, como um bom queijo!
- Isso me interessa! - disse Zac.
- Como se chama? - perguntou Ike
E a imagem dela rindo da minha pronuncia torta me veio à mente e depois ela apontando para o próprio queixo...
- Para de rir e responde! - Zac me olhando impaciente.
- Eu estava rindo? - perguntei.
- Feito um panaca! - respondeu ele - é engraçado o tal do pão ou oq?
- É que não consigo pronunciar, mas é alguma coisa como "cheese bread" entendeu? - respondi me lembrando da pronúncia carregada dela.
- Interessante... podemos tentar qq hora - disse Ike terminando de se arrumar.
Seguimos pelos fundos e fomos até a emissora Globo na nossa van. É bem maior, mas não tinha fãs no portão.
O primeiro será um talk show e o segundo programa do dia será um outro programa de palco. *Deus tenha piedade*.
Fomos para o nosso camarim e não havia muito o que fazer, então decidi procurar a Lola. A coisa já estava feia pro meu lado mesmo, então o melhor que eu tinha a fazer era aproveitar o tempo que eu tinha e tentar melhorar as coisas para o meu lado.
- Papai, tudo bem se eu trazer a Lola pra ficar aqui? - perguntei já sabendo que ele ia deixar. Ele e meus irmãos tb tinham sido conquistados por ela.
- Claro! Só não vá atrapalhar a vida da moça. - disse ele.
- Claro... - respondi com a sensação de que meu pai sabe exatamente o que se passa dentro do meu peito.
Sai do camarim e andei um bom tanto antes de conseguir parar uma moça e perguntar:
- Oi, com licença! Onde está o pessoal da MTv?
- Duas portas no seu corredor à direita - disse ela ainda andando apressada. Acho que nem me reconheceu.
Achei a porta e bati. Ninguém me atendeu, mas dava pra ouvir vozes abafadas do lado de dentro, então eu abri a porta e olhei pra dentro, procurando um rosto conhecido. Muitas camisetas de staff iam pra lá e pra cá falando em português.
A staff dela notou minha presença e veio até mim:
- Posso te ajudar?
- Oi! Não quero atrapalhar, mas eu gostaria de conversar com a Úrsula. *ela me mata se souber que eu usei o nome de batismo; mas achei melhor não dar na cara o meu interesse.* 
- Sem problemas, eu chamo. - disse ela virando as costas e indo falar com ela.
A sala é pqna e movimentada, diferente do nosso camarim, que é espaçoso e bem decorado.
As duas pareciam discutir alguma coisa e fiquei com medo de ter metido ela em encrenca, mas ela foi dispensada pela staff com um aceno de cabeça e veio correndo, com um sorriso no rosto:
- O que vc faz aqui? - perguntou enquanto fechava a porta.
- Eu disse que eu ia cuidar de você? - respondi dando de ombros.
- Disse, mas eu não imaginei que vc estava sendo tão literal...
- Isso te incomoda?
- Na verdade não, é bom ter companhia... eu só não esperava. - disse ela tb dando de ombros.
Tenho que dizer que ela estava usando uma saínha preta de pregas e uma bolsa pqna e que ela fica linda assim.
Saímos passeando pelos corredores, comentando como são os apresentadores de hoje. Queria ter certeza do que esperar... outro cara daquele e eu vou precisar tomar umas cervejas e ficar bêbado.
Conversamos e rimos como se nos conhecêssemos desde sempre.
Ela me avisou que o do Talk Show poderia ser um pouco direto, mas não inconveniente e eu agradeci.
Uma staff da emissora nos encontrou e avisou que por protocolo, não poderíamos ficar andando por aí e que Lola não poderia me acompanhar, nem nos bastidores.
Fiquei chateado, confesso. Eu sentia necessidade de estar com ela. Então fiquei e aproveitei cada segundo, ali do lado de fora, parado no corredor mesmo.
Quando estava quase na hora, pedi:
- Fica no nosso camarim?
- Tay, isso vai dar problema.... - respondeu ela olhando para os lados.
- Relaxa... já falei com meu pai e ele disse que tudo bem.
- E se me pegarem?
- Nós damos um jeito...
- Olha as coisas que vc me obriga a fazer... - disse ela rindo.
*queria fazer mais...*
Eu ri também e nisso Ike colocou a cabeça pra fora, nos deu oi e disse:
- já vamos!
Saímos e Lola entrou.
A entrevista foi tranquila. Foi mesmo um talk show padrão, tipo a versão brasileira de Larry King, mas com um apresentador bem mais gordinho e sorridente. 
Viemos rindo aliviados pelos corredores e quando entramos, Lola estava lá e essa sensação deixou meu coração aliviado. É essa a visão que eu gostaria de ter todos os dias: o sorriso dela encontrando o meu depois do trabalho.

Never Let Go ~ E foi assim (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora