11 ~Fake ao vivo

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Acordei cedo e me arrumei. Hoje vamos gravar uma espécie de programa de palco, que é tradicional nos domingos brasileiros. Pelo menos foi o que disseram.
Fomos para o quarto do Ike, que é nosso QG oficial.
Tomamos um café reforçado, pq nós vamos sair cedo, já que o percurso até a emissora é longo, porém tinha uma questão: eles queriam que tudo parecesse grande e realmente importante, então fomos informados de que:

1 - iriamos de van, porém chegando lá, usaríamos um helicóptero para simular nossa chegada;
2 - faríamos playback (odeio isso, sempre acabo cantando de verdade, mesmo com os microfones desligados)
3 - Tínhamos que fazer td isso parecer ao vivo;
- Pai, isso é uma merda! - retruquei entrando na van.
- Tay, eu sei que vcs não curtem nada disso, mas é assim que funcionam as coisas aqui. Os caras gostam de entreter a massa e esse programa é popular por isso... - respondeu ele.
Não havia o que argumentar. A gravadora tinha concordado, então nós tb tínhamos que concordar; a publicidade vai ser boa, de qualquer forma.
O camarim é ótimo! Pelo menos isso! Espaçoso e confortável. Acredite: já nos trocamos em tendas de lona ou nos banheiros nos nossos primeiros festivais.
Nos maquiaram e fizemos a cena do helicóptero. A próxima cena é a da entrada, mas eles ainda vão fazer boa parte do programa antes disso, então ficamos no camarim conversando sobre bobagens, pra variar. Eles podiam simplesmente gravar tudo que tinha que ser gravado conosco e nos liberar. Mas quem sou eu pra reclamar da falta de estratégia de uma emissora brasileira?
Ouvimos uma movimentação no corredor e nosso pai foi checar. Essas paredes são finas e é possível ouvir quase tudo! Então ouvi quando ele disse:
- Lola?
- Oi... - era a voz dela!
- O que você faz por aqui? Não importa. Entra! Os meninos já estão prontos, mas ainda falta muito para entrarmos. É bom ter companhia.
*Isso!*
- Eu não quero atrapalhar...
*Nooo*
- Não é nada! Entre! Aposto que você também estava entediada...
*E não é só ela...*
Ela entrou como no dia em que entrou no quarto do Zac: os olhos pareciam reconhecer cada cantinho daquele camarim.
Tentei me manter natural e continuei onde estava: jogado no sofá. Zac estava sentado todo largado em uma das cadeiras da bancada de espelhos, Ike estava "batucando" o violão num puff, no outro canto e sei que, diferente de mim, eles não precisaram se esforçar para se manter sob controle. Acho que eles nem perceberam que era Lola na porta, pq qnd ela entrou, eles foram pegos de surpresa. Eu apenas segui os 2 quando meu pai anunciou:
- Olha quem eu encontrei perdida no corredor!
Ela está claramente sem graça, com as bochechas em chamas.
- Na verdade eu já estou de saída... nem era pra eu estar aqui. A Natália vai ficar uma fera quando descobrir que eu sai... - disse ela se justificando.
- Não esquenta, a gente explica. - Disse o Zac.
- Senta, fica à vontade. Estamos matando o tempo. - Ike fez um gesto apontando o sofá.
Ela sentou na ponta oposta à mim e meu pai mal tinha sentado entre nós quando ela fechou a cara. *essas caras dela me matam*.
Acho que meu pai sentiu ela fuzilando ele, pq mal tinha se acomodado no sofá quando levantou e foi buscar um chocolate no aparador.
- Aceita um doce? - Perguntou ele.
- Não, obrigada... - respondeu ela já com um rosto mais suave e eu tive vontade de rir. Ela é sincera mesmo sem querer.
- Uma menina que não gosta de chocolate? Isso é raro! - Era o Ike.
- Eu gosto... só não quero agora... - disse ela.
- Ela não come doces antes do almoço... que menina disciplinada! - resolvi entrar na brincadeira.
- Eu como, mas... vocês estão tirando sarro na minha cara?
- Nós? Ninguém aqui faz esse tipo de coisa... até parece que você nos conheceu ontem! - Zac com a típica sobrancelha erguida e o meio sorriso. Ele se divertiu com ela desde o primeiro dia.
- Pois é... que coisa feia! - continuei e tenho certeza de que eu já sorria.
- Você nos deve desculpas... - disse papai lá do aparador, com o chocolate na mão.
Ele também entrou no jogo. Não sei como é a família dela, mas a minha é assim: grande e barulhenta.
E então ela pareceu analisar a cena e começou a rir:
- Desculpa, ok? Desculpa! Eu realmente acho melhor eu ir... - disse levantando enquanto ainda ria.
Foi um reflexo, as palavras saíram:
- Não... por favor...
*Oq é isso?! Eu estou implorando pra ela ficar?! Nada bom...*
Acho que ela percebeu, pq me olhou com cara de piedade:
- Eu...
*ótimo! Eu tinha me transformado em um mané*
Meu pai interrompeu meus pensamentos:
- Taylor, assim você deixa a menina com medo! - E olhando pra ela, continuou - Como punição por ter negado meu chocolate, vc vai ficar aqui com esses três malucos enquanto eu procuro sua responsável para avisar que vc vai ficar conosco hoje também.
E dizendo isso, saiu e fechou a porta, sem dar a qualquer um de nós uma chance para negar. Não que eu ache que alguém aqui o faria.
- Bem, tem certeza de que não quer um chocolate? - perguntei, ainda meio sem graça com a situação, só para afastar o silêncio que se formou.
- Tenho sim, obrigada mesmo. - respondeu ela, ainda sem graça.
Eu observei os lábios dela se movendo e não consegui desviar os olhos... alguma coisa naqueles lábios tão comuns me fizeram perguntar pra mim mesmo como seria beija-los e esse pensamento me deixou sem ar.
Alguns minutos constrangedores de silêncio, pernas balançando e dedos entrelaçando... Ike batucando o violão novamente. *odeio esses malditos silêncios, mas não vou puxar assunto de novo!*
- O que vocês acham de fazermos um aquecimento? - Ike.
- Ótimo! - respondi aliviado.
- Ok... - Zac tb concordou e se levantou.
Levantei e fui até o Zac e em seguida Ike se juntou à nós. Ela ficou sentada onde estava.
E então começamos o aquecimento vocal. Pra quem não está acostumado, o que estávamos fazendo eram um monte de barulho e sons sem sentido, mas quando abri os olhos (eu costumo aquecer de olhos fechados para me concentrar no meu diafragma, mas não conseguia parar de olhar pra ela...) ela estava concentrada, com os olhos fixos em nós. Terminado o aquecimento inicial, era hora de escolhermos uma música qualquer, então eu queria conhecer o gosto musical dela... queria saber mais sobre ela, então, pedi:
- Escolhe uma música.
- Eu?! - Ela surpresa.
- Sim, qualquer música. - concordei.
Ela pensou uns minutos e então disse:
- Sei que é clichê, mas queria ouvir Save me.
- Save me, então. - concordei com um aceno de cabeça para Ike e Zac.
*eu esperava mais...* Porém, eu iria cantar o que ela queria, então contei:
- 1..2..3...4... Loving you like I never have before...
Eu cantei pra ela. E não sei se ela sentiu, mas fechou os olhos e ainda assim, é possível ver que ela estava emocionada e quando acabamos, ela tinha lágrimas escorrendo pelo rosto. Ela tentou secar as lágrimas, mas nós três já tínhamos visto.
E ela, com toda desenvoltura que tinha adquirido nesses dias, disse com um meio sorriso:
- Droga, vocês fizeram eu borrar minha maquiagem!
- Tão ruim assim? - Perguntei pegando uma caixa de lenços pra ela.
- Não... foi lindo! Vocês realmente nasceram para isso.
- Obrigada. - respondi e me sentei ao lado dela, estendendo um lenço.
*é bom estar ao lado dela...*
- Se você quiser, acho que deve ter alguma maquiagem nas gavetas... sempre tem. - Zac, fuçando nas gavetas do aparador.
- Não, tudo bem... - disse ela ainda secando um restante de lágrimas com cuidado para não tirar o restante da maquiagem.
Nosso pai voltou com um staff do SBT anunciando:
- Meninos, vocês entram em 30 min.
- Ok! - respondemos juntos, ficamos de pé e juntamos as mãos num montinho, fizemos cada um nosso grito de guerra pessoal. Isso é assim desde que eu me lembre. É um ritual para nos lembrarmos de que estamos juntos nessa. Uma troca de energias.
Papai virou pra Lola e disse que tinha encontrado a Staff dela e que não tinha problema ela ficar conosco.
Ela esboçou um sorriso, mas ainda estava emocionada com a música.
*Tinha sido assim, tão bom? Nessas horas tenho orgulho de ser quem sou.*
As câmeras da MTV já estavam na porta e saímos na frente, pois precisavam nos posicionar nas costas do palco, correndo pelos corredores, como se estivéssemos descendo do helicóptero e fossemos entrar ao vivo. Lola e nosso pai ficaram pra trás.

Never Let Go ~ E foi assim (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora