Já fazem dois dias desde que Avril acordou do coma e ela recebe alta hoje. Estamos todos do lado de fora do hospital esperando ela com os pais, bem, quase todos... Quando Avril acordou, nós perguntamos ao medico sobre a Alice, mas ela não havia mostrado progresso nenhum. Todos ficamos chateados, mas Diego ficou arrasado, saiu do hospital as pressas e ninguém nunca mais o viu ou falou com ele desde então. Finalmente vi o Sr. Collins saindo do hospital ao lado dela com o maior sorriso do mundo, ela está usando uma cadeira de rodas por causa da perna quebrada, já que também quebrou o braço e não consegue segurar muletas.
- Oi meu amor.- Luke sorriu e foi até ela, lhe dando um selinho e a deixando vermelha. Ficamos surpresos mas depois sorrimos, felizes por eles.
- Vamos pra casa filha?- Sr. Collins perguntou.
- Ah pai, não me leva a mal, mas eu vou pra minha casa. - Ela sorri tranquila para o pai e ele assente.
- Quer que eu te leve la?
- Não precisa pai.- Ela ri.
- Então tudo bem...
Ela da um beijo na testa dele e vai embora. Colocamos ela no carro, enquanto falávamos sobre coisas aleatórias e em como estávamos felizes, mas ninguem estava animado o suficiente para uma comemoração, não com a Alice ainda internada.
- Amiga...- Chamei e Avril olhou para mim- Se importa se eu for mais tarde? Tenho que resolver uma coisa.
- Claro que não, vai lá... Eu vou tentar não chorar pelos cantos por você estar me abandonando- Ela brinca e todos riem.
Eles se despediram e foram para casa. Segui meu caminho a pé, pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo, até parar de frente para um condomínio. O porteiro logo libera a minha entrada, já que tinha acesso livre desde a primeira vez que vim. Entro no segundo prédio e subo até o quarto andar, parando de frente para a porta. Toco a campainha e espero. Nada aconteceu, então apertei o botão novamente, duas, três, quatro vezes até um Diego acabado e cheirando a álcool abrir a porta.
- O que aconteceu contigo?- Me surpreendo com sua aparência.
- Vai embora.- Ele diz e fecha a porta, fazendo com que eu volta a tocar a campainha.- O que você quer?- Ele abre a porta novamente.
Sem nem responder, passo por ele, entrando no apartamento. O lugar estava acabado, com roupas sujas espalhadas, garrafas de vodka e Whisky vazias jogadas pelo chão, objetos quebrados em cada centímetro do lugar. Ele, sem dizer nada, passou por mim e se sentou no chão, encostando-se na parede, tendo assim, vista pra janela enorme que se encontrava bem ao lado, pegou uma garrafa e Whisky e começou a beber, como se eu fosse totalmente invisivel. Fui ate ele e me ajoelhei em sua frente, olhando em seus olhos que estavam vermelhos e cheios de lágrimas.
- Diego...- Comecei, mas travei imediatamente quando vi uma lágrima escorrendo.
- Você não precisa falar nada. Eu sei que estou péssimo.
- Eu jamais diria algo assim. Só vim aqui pra você ver que tem amigos, e não precisa ficar sozinho.
- Amigos? Eu não quero amigos. Não quero ver ninguém. Eu quero ela.
- Eu sei que está sendo difícil, mas...
- Não. Você não sabe!- Ele gritou, me interrompendo e me assustando- Você não sabe porque a vida é boa com você. Você é feliz, tem tudo o que quer.
- Não é assim, Diego, Alice também é minha amiga e eu sinto tanto a falta dela quanto você.
- Eu perdi um filho, Maya. Um bebê inocente, um laço que eu teria com ela, e agora não tenho mais... Não tenho nenhum dos dois.- Ele limpa as lágrimas do rosto e bebe um gole da bebida, mas eu puxo a garrafa e ataco longe, fazendo-a se quebrar.
- E aí? Você não tem eles agora, mas a Alice vai acordar! Ela está lá lutando, enquanto você está aqui desistindo de tudo. Acorda, Diego, vai jogar tudo pro alto por que ela passou mais um dia desacordada?- Digo calmamente e ele fica em silencio.
- Você não entende...- Ele diz quebrando o silencio.- Ela é tudo pra mim, o amor da minha vida. Em alguns meses se tornou tudo o que eu precisava, e do nada, ela foi tirada de mim. Avril acordou, e estou feliz por ela, mas Alice continua lá, e cada dia que passa, as chances de ela acordar diminuem.
Uma lágrima escorreu dos meus olhos ao ouvir aquilo e senti a dor das suas palavras, apesar de saírem embargadas pelo efeito do álcool.
- E amanhã...- Ele voltou a dizer- Amanhã é o aniversário dela, e nós não vamos comemorar. O dia mais importante pra ela, vai ser o mais triste pra mim.
Ouvir aquilo dele fez com que o meu coração pesasse e eu não conseguia dizer mais nada. Ele estava certo, amanhã é aniversário dela e ela está lá, deitada naquela maca e desacordada. Não me parece nada justo.
- Diego, você tem que levantar a cabeça, ficar firme pra quando Alice acordar, ela não vai querer te ver assim.
Eu disse tentando soar de forma reconfortante, mas ele não respondeu, apenas olhou para a janela e se concentrou na vista. Estava doendo em mim, era como perder uma irmã, mas pra ele era diferente, ele estava perdendo o amor da sua vida logo depois de perder um bebê. E a Alice? Alice continua dormindo sem previsão ou despertador para acorda-la, nos deixando angustiados a cada dia que passa, pois a cada minuto, sentimos que estamos perdendo-a, mais e mais. Querendo ou não, era ela quem nos unia com toda a sua meiguice e o seu carinho. Apesar das frases idiotas, faziam com que todos sempre a quisessem por perto, por sempre estar de bom humor e nos contagiar de forma surpreendente, e por enquanto, essas memórias são as únicas coisas que nos aproximam dela.
- Você acredita nisso?- Ele disse depois de tanto tempo, me deixando confusa.- Acredita mesmo que ela vai acordar?
A pergunta me deixou surpresa e me destruiu por dentro depois que ele me encarou com os olhos brilhando: uma mistura de dor, tristeza e uma pequena gota de esperança. É notável que sua fé está acabando, mas ele ainda esperava uma resposta positiva, como se o que dissesse pudesse mudar o teu ponto de vista.
-É claro que sim.- Tento sorrir.- Eu acredito que mais cedo ou mais tarde ela vai voltar pra gente, só temos que ter paciência.
O abracei, claro que não mudou muita coisa, mas seria bom ele saber que eu estava alí pra ajudar no que precisar.
No outro dia...
Hoje é aniversário da Alice e estamos todos aqui, touxemos flores, balões, presentes e até um bolo. Claro que ela não vai comemorar conosco, mas um dia ela verá fotos e saberá que nos importamos o suficiente para trazer a festa até ela. Ela adoraria ver tudo isso, todo esse carinho. Nos sentamos em poltronas envolta da cama dela e ficamos relembrando os momentos bons que passamos juntos, piadas, brigas e etc. Diego está melhor, reclamando de dor de cabeça a cada 30 minutos, porém sóbrio. Está sorrindo, e isso é bom, mas imprevisível... Espero que isso acabe logo, seria ruim vê-lo naquele estado novamente.
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Vítimas do Coração
Teen FictionMaya, uma jovem de 18 anos, passa a viver uma nova fase de sua vida quando entra para a faculdade e muda de residência. Tendo tantas inovações e se sentindo realizada, ela descobrirá que nem tudo são flores.