Era uma vez, uma princesa que estava prestes a mudar a sua vida para melhor... Sim, esse seria o começo perfeito se isso fosse um conto de fadas, mas eu estou longe de ser uma princesa, e meu quarto, com toda essa bagunça, está a quilômetros de distância de se parecer com aposentos reais. Eu não consigo andar aqui com tantas roupas espalhadas pelo chão, mas está tudo bem, é para uma boa causa... Claro que eu já deveria ter arrumado tudo isso e todas essas peças já deveriam estar nas minhas malas, o que já teria feito se não tivesse perdido a manhã inteira mexendo no celular.
Chega. Tenho que me concentrar e terminar isso logo... Claro que a preguiça fala muito alto, mas a ansiedade grita, e eu estou tão empolgada que mal consigo descrever. A parte ruim é ter que fazer tudo isso sozinha, já que nenhuma das minhas amigas quiseram me ajudar, mas eu não as culpo, elas também têm malas para fazer. Sem alternativa, começo a dobrar minhas roupas e colocar as peças nas malas, fazendo de tudo para que caibam, o que não foi muito fácil. Era tanta coisa para organizar, que mal vi a hora passar e quando me dei conta, o céu já estava escuro e meu celular já marcava 20h00... Eu literalmente passei o dia dentro do quarto sem falar com ninguém, nem com os meus pais que saíram cedo e não voltaram até agora.
Desci as escadas morrendo de fome, mas com a sensação maravilhosa de trabalho concluído. Depois de checar que realmente não tinha ninguém em casa, fui para a cozinha ver o que tinha para comer, e como não fiz a comida, é claro que não tinha nada, então só me restou fazer um sanduíche e um café. Depois de comer,fui para a sala assistir televisão e por lá fiquei o resto da noite, pois quando me dei conta estava sendo acordada pela luz do sol atravessando o vidro da janela sem nem lembrar em que momento havia pegado no sono. Ia continuar ali deitada, mas ao lembrar que dia era hoje dei um pulo do sofá completamente animada e indo para o banheiro.
Enquanto escovava os dentes pude sentir o cheiro de café fresco invadindo a casa e fazendo meu estômago roncar. Ao chegar na cozinha vejo minha mãe sentada no balcão tomando café sozinha, tão pensativa que não me viu chegar e até tomou um susto ao ouvir minha voz.- Mãe? Bom dia... A senhora está bem?
- Oi filha, bom dia. - Ela sorriu depois de se recuperar. - Estou, só estava pensando um pouco.
- Pensando no que? - Peguei uma caneca no armário e a enchi de café, me sentando na mesa logo em seguida.
- Na sua mudança... Maya, tem certeza é isso o que você quer? - Ela não parecia brava, nem triste, estava completamente neutra. - Você ainda é muito nova, não precisa fazer isso.
- Mãe, é isso o que eu quero... - Disse decidida, esboçando um sorriso calmo. - Fica tranquila, vai dar tudo certo... E a casa já está paga, não dá para voltar atrás agora. - Brinquei conseguindo arrancar uma risada dela.
- Tudo bem... - Ela deu de ombros e voltou a se concentrar no café.
- Onde a senhora estava ontem?
- Sai com o seu pai... Fomos visitar seus avós e acabamos dormindo fora...
Dei de ombros e continuei tomando meu café, até ouvir meu pai descendo as escadas.
- Bom dia filha. - Ele sorriu e deu um beijo no topo da minha cabeça como fazia todas as manhãs e em seguida foi dar um beijo em minha mãe. - Quando terminar, liga para as meninas e vai se arrumar que eu vou levar vocês lá.
- Obrigada, pai. - Mal respondi e já mandei uma mensagem para todas elas avisando. A vantagem da minha casa é que é perto da de todo mundo, então facilita muito para nos encontrarmos.
Me levantei e corri para o banheiro para tomar uma banho e me arrumar, mesmo faltando horas para sair, eu queria estar pronta. Assim que terminei desci todas as minhas malas e já deixei perto da porta para facilitar e tentei assistir televisão, sem prestar atenção em nada, numa tentativa falha de me distrair. Quando bateram na porta me levantei o mais rápido que consegui e fui até ela, abrindo-a.
- Chegamos. - Alice gritou completamente animada, com um som estridente que fazia qualquer ouvir um zumbido depois.
- Finalmente, demoraram muito. - Disse de forma séria.
- Ai que falta de educação, Maya, não é assim que se recebe as pessoas em casa! - Ela respondeu indignada, o que me fez rir um pouco.
- Você vai deixar a gente entrar ou vamos ter que esperar aqui fora? - Manuelly perguntou em um tom que me fez sentir a pessoa mais mal educada da terra.
- Desculpa, entrem.
Assim que Manuelly, Alice e Avril que até então não havia dito uma palavra entraram, as levei até a cozinha e servi um copo de água, pois fazia um calor de quase 30°C, e logo em seguida meu pai desceu perguntando se estávamos prontas e então saímos em direção a nossa nova residência.
Sempre sonhei em morar com as minhas amigas, e agora esse sonho estava se realizando, e nossa casa era ótima, e o melhor de tudo, bem perto da faculdade.
Quando entramos na casa o sentimento de "realização" era tão grande que eu estava quase transbordando de felicidade. Eu finalmente tinha a minha casa, saindo das abas dos meus pais. Não que eles fossem pais ruins, pelo contrário, são maravilhosos, mas ter algo seu é de fato maravilhoso.
Meu pai nos ajudou a trazer as malas para dentro e foi embora, agora nós tínhamos missão de arrumar a casa inteira e deixá-la agradável para o nosso gosto, o que seria um pouco complicado, porque são quatro personalidades completamente diferentes, então o caminho mais fácil foi começarmos arrumando os quartos, já que cada uma decora o seu como bem entender. No final do dia os quatro quartos já estavam devidamente arrumados e os dois banheiros também, o que era um progresso enorme, já que agora só faltavam a sala e a cozinha, mas o cansaço era tão grande que tudo o que desejávamos era dormir.
Quando acordamos tivemos que tomar café no chão, improvisando com os lanches que cada uma havia trazido, porque a ansiedade era tão grande, que não esperamos os montadores virem montar os armários e a mesa.
Depois do café nós nos arrumamos e fomos para o shopping, comprar o básico pra nossa casa, como potes, panelas e utensílios em geral.
Passamos de loja em loja, procurando algo que agradasse às quatro, e então resolvemos almoçar. Depois de comer continuamos andando, para distrair um pouco a cabeça, até que um idiota esbarrou em mim e derrubou o sorvete que estava tomando inteiro na minha blusa, e o pior é que ele acabou pisando no meu pé e tropeçou, literalmente caindo em cima de mim.- Foi mal. - Ele respondeu se levantando.
- Foi mal? Foi péssimo! - Ele estendeu a mão pra me ajudar a levantar, mas eu não aceitei e me levantei sozinha.
- Poxa, foi sem querer. - Ele disse rindo, como se não fosse nada demais... Ou melhor, fosse uma brincadeira, o que me deixou com muita raiva.
- Você está achando graça? - Perguntei séria enquanto tentava me limpar tirando o excesso de sorvete com a mão.
- Caso não tenha percebido, você só está piorando a situação da sua roupa. - Não queria admitir, mas de fato a mancha se espalhava toda vez que eu passava a mão, então parei de tentar e cruzei os braços, esperando um pedido de desculpas decente.
- Meu nome é Alex. - Ele estendeu a mão em cumprimento, mas eu não movi um músculo para retribuir.
- Isso não me interessa. - Respondi de forma mais rude do que eu gostaria, mas só percebi depois, então não adiantou muito.
- Ok, ele já se desculpou, vamos embora... - Falou Avril, fazendo com que eu me lembrasse que estava acompanhada, já que em meio a raiva eu esqueci totalmente, e quando vi, percebi que ele também estava acompanhado por mais três rapazes que observavam tudo querendo rir.
- Pega. - Alice me estendeu alguns guardanapos para que eu pudesse me limpar, o que também não ajudou muito em vista que a blusa era clara e o sorvete era de chocolate.
- Foi mal mesmo, a gente se vê... - O idiota, digo, Alex respondeu piscando um olho e sorrindo, e foi aí que eu percebi o quão bonito ele era e acabei corando um pouco, fazendo-o rir enquanto ele ia embora com os amigos.
Quando me virei para as meninas, notei que elas me olhavam com um sorriso bobo, obrigando-me a arquear uma sobrancelha em confusão.
- Que cara de idiotas são essas?
- Que gatos! - Manu quase gritou em animação.
- Isso, fala mais alto, quem sabe eles não te escutam e voltam aqui. - Respondi ironicamente jogando os guardanapos no lixo.
- Será que funciona? - Falou ela com um brilho nos olhos, que nos fez rir.
- Tá, chega. Vamos embora porque ainda temos que arrumar um monte de coisas da mudança.
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Vítimas do Coração
Ficção AdolescenteMaya, uma jovem de 18 anos, passa a viver uma nova fase de sua vida quando entra para a faculdade e muda de residência. Tendo tantas inovações e se sentindo realizada, ela descobrirá que nem tudo são flores.