Quarenta... Quarenta e um... Quarenta e dois... Agachamento... Um... Dois... Costumava ser preguiçosa pela manhã, mas desde que tornei-me atleta profissional pelo Nacional de Chaves, acabei por aprender que para me manter numa das melhores equipas nacionais, o meu dia-a-dia teria que começar e acabar com exercício.
Já lá vão 6 anos desde a minha transferência para a primeira divisão do campeonato de voleibol nacional. Apresso-me todas as manhãs em acordar duas horas antes do suposto para conseguir fazer a minha rotina de corrida diária. Para grande parte da equipa isto não é necessário, mas tendo em conta a minha posição como distribuidora em campo, é imprescindível estar na melhor forma e sobretudo ser veloz.
Já é início de Setembro e, após uma boa época no voleibol de praia, a nova época começa com o grande objectivo de sempre e que há muito nos foge. O de vencermos o campeonato nacional da modalidade. O ano passado conseguimos ficar em 2.º lugar, mas tudo correu mal no jogo da final.
Chego cedo ao treino. Como capitã de equipa dirijo-me primeiro ao gabinete da treinadora para saber os detalhes sobre as novas jogadoras contratadas para a nova época.
"Como sabes a Tatiana saiu da equipa e o contrato da Melinha cessou o ano passado pelo que os dirigentes acharam que não deviam renovar a presença dela na equipa." A Melinha é das pessoas mais empenhadas que conheço, mas há muito estava evidente o mal estar dos dirigentes com a sua instabilidade em termos de jogo. A não renovação do contrato já era esperada.
"As contratações de início de época foram poucas. Decidimos apostar todo o orçamento proposto em duas grandes promessas juvenis. Hoje veremos a capacidade delas. Mas acredito que este seja o ano das grandes vitórias, Anabela!"
"O que preciso saber mais sobre as novas contratações?" Fui direita ao ponto.
"Apenas que uma é atacante e a outra central. Ambas têm 20 anos mas já estão aptas para jogar no nosso escalão."
Por um lado é óptimo variar a equipa, poder experimentar e adaptar novas estratégias consoante as habilidades das novas atletas. Por outro lado, conhecer a forma de jogo e habituar-se às movimentações de cada uma não me deixa entusiasmada.
Dirijo-me ao balneário. Sou a primeira a chegar. Assim posso sempre dar uns toques na bola por pura diversão, o que me faz sempre descontrair.
Ao chegar ao campo reparo que mais alguém chegou primeiro. Não a consigo reconhecer, deve ser uma das novas raparigas. Encosto-me a observá-la. Está dar toques com os pés. Mas sobretudo tem um corpo invejável. Pernas torneadas, cabelo castanho num rabo de cavalo meticuloso, feições faciais distintas. Ela é mais que linda. Assusto-me ao aperceber-me da dispersão dos meus pensamentos.
"Sabes que não podes jogar futebol com a bola!" Não queria que isto tivesse saído tão rude, mas atrapalhei-me como sempre. As minhas atitudes de nervosismo nunca me deixam mal, claro #Ironia #PararComHashtags.
Ela não respondeu. Apenas veio na minha direção com o maior sorriso que alguma vez vi.
"Alguém achou que eu sou melhor a jogar a bola com as mãos do que com os pés. Pessoalmente discordo mas aqui estou!" Não me ri da piada porque temos que levar a equipa a sério. "Pensei que não fosse estar alguém aqui antes do treino, por isso queria descontrair um pouco."
"Estás à vontade. Mas não gastes toda a energia antes do treino. Tens muito que provar hoje novata!" Novamente as minhas palavras saíram de forma bruta. Mas o que é que estou aqui a dizer? Vi a expressão de estupefacção na cara dela. Antes de poder desculpar-me oiço as vozes da treinadora e de algumas atletas. Decidi ficar em silêncio enquanto aguardava pela chegada delas.
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Um Toque de Voleibol
Ficção GeralAnabela encontra-se no auge da sua carreira desportiva. Capitã de voleibol pela equipa Nacional de Chaves há quase 6 anos, encontra-se focada e determinada em conseguir vencer o único título que lhe falta, o de campeã nacional. Tudo começa a correr...