Capítulo 15 - Anabela

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Alguma coisa despertou em mim assim que senti o corpo dela a cobri-me. Senti-a claramente o peito dela nas minhas costas. E não conseguia pensar em mais nada a não ser suspirar. Num instante cheguei a casa dos possíveis ladrões da bicicleta. Estavam a jogar à bola assim que estacionei a mota.

Ajudei a Rita a sair da mota e vi o quão atordoada ela estava. "Estás bem? Tiveste muito medo?"

"Desculpa, devo-te ter agarrado com demasiada força, mas estava com receio de cair."

"Não tem mal, agora vamos perguntar a estes marotos onde está a tua bicicleta."

Assim que nos aproxima-mos oiço a Rita a exclamar: "ESTÁ ALI! É AQUELA!" Viro os olhos para onde ela estava a apontar e reparei numa bicicleta encostada à prade de uma das casas. Só que as crianças também ouviram e já estavam a começar a fugir com a bicicleta. Dou por mim a correr rapidamente atrás deles. Não os ia deixar levar à melhor. Sinto outros passos atrás de mim e sei que é a Rita. "SEUS DESGRAÇADOS! A BICICLETA É MINHA!".

Assim que eles vêem que já estávamos ao seu encalce, apenas tiveram tempo de largar a bicicleta, para conseguirem correr mais rápido. Assim que nos aproximámos da bicicleta caímos no chão cansadas. "Estas crianças correm mais que nós. E a pensar que somos atletas profissionais."

Senti a gargalhada dela ao meu lado. "E somos atletas profissionais. Mas não há nenhum desporto chamado correr atrás de uma bicicleta furtada."

"E ainda bem, acho que devemos ficar pelo Voleibol, ao menos somos muito boas nisso."

"Estás a dizer que eu jogo bem capitã? Acho que ainda não tinha ouvido um elogio da tua parte. Sinto-me lisonjeada."

"Tens que jogar bem para te terem colocado nesta equipa, não precisas dos meus comentários para nada." Vi a cara dela ficar séria.

"Preciso, mais importante que a confiança da treinadora em mim, é-me mais importante ter o reconhecimento por parte das colegas de equipa, quero que confiem em mim. E se a capitã não confiar, o resto da equipa também não o fará."

"Sabes, és muito parecida com ela. Com a Tatiana. Mas ao mesmo tempo completamente diferente. Ela desafiava-me dessa maneira, necessitava da aprovação de todos da equipa, até demasiado."

"Demasiado? Vejo aí alguma amargura. Se quiseres podes desabafar comigo, dizer o que aconteceu. Já percebi que nunca contaste à Joana. Confia em mim."

"E confio. Talvez penses que não, mas confio. Não sei é se quero contar o que aconteceu. Há partes envolvidas que podem sofrer ainda mais se toda a gente souber a verdade."

"Tem a haver com a treinadora, não tem?"

"Como é que sabes?"

"Eu bem vejo o quanto vocês apenas falam de uma forma demasiado formal. Com tantos anos que estás na equipa, estaria à espera que fossem o braço direito uma da outra. Mas eu sinto que isso não acontece."

"Hum, nunca reparei nisso, criei tanto rancor a ela, que pelos vistos inconscientemente o meu relacionamento com ela também se alterou."

"Conta-me, o que a treinadora tem a haver com a história da Tatiana?"

"Elas as duas andavam envolvidas às escondidas. E eu parva e cega, nunca desconfiei. Até que uns dias antes da final, fiquei a treinar até mais tarde, de forma a conseguir estar na melhor forma para o jogo. Quando entrei no balneário, reparei que não estava sozinha e vi-as. Vi-as juntas no duche."

"Deve ter sido difícil ver a tua namorada a enrolar-se com a treinadora."

"Sim, fiz questão de sinalizar a minha presença. E elas tentaram difarçar tudo, mas não havia como. Estavam completamente entregues uma à outra."

"E porque é que a treinadora continua cá?"

"A Tatiana mudou de equipa, saíu por vontade própria. E a treinadora, faz parte da casa. Ela é a alma da equipa, foi ela que agarrou numa equipa sem esperanaças nenhumas e fez subir de divisão e ser actualmente uma das principais equipas nacionais. Mas, na verdade, elas não acabaram. Ainda permanecem juntas. Mas de forma secreta. A treinadora está a esconder tudo dos filhos, não quer que eles saibam que ela anda com uma rapariga da idade deles."

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