Capítulo 23 - Anabela

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Sentámo-nos tranquilamente na mesa. A Rita sentou-se à minha frente, não havia como desviar o olhar dela, estava radiante, simples mas linda. Senti a mão da Sofia a acariciar-me as costas, ela devia estar a perceber algum desconforto da minha parte, pois retirou rapidamente a mão.

O jantar foi correndo tranquilamente, a Sofia e a Joana estavam entretidas a discutir umas séries de televisão, que nem se aperceberam do quanto eu e a Rita faziamos uma disputa de olhares, como tentando perceber e desafiar a outra. Desculpei-me para ir à casa de banho. Ao levantar-me oiço uma voz.

"Eu acompanho-te, também preciso de ir." E a Rita levanta-se para caminhar lado a lado comigo até à casa de banho. Assim que entramos, ela vira-se. "Ok, eu posso esquecer tudo o que aconteceu, mas tu parece que não esqueces-te, não me tratas da mesma forma. Passas-te a semana inteira a evitar-me."

"Eu não te trato de forma diferente, apenas estivemos ocupadas toda a semana, e na mesma, estás com a Joana num encontro." Desafiei-a.

"Nós marcámos este jantar antes do que aconteceu entre nós as duas. E tu, estás com a Sofia."

"Isto é um ritual que tenho com a Sofia, todas as sextas jantamos juntas sempre que podemos." Não deixa de ser verdade, mas marquei hoje jantar com a Sofia com uma única coisa em mente. Tirar a Rita da minha cabeça, aliás a Tatiana. Já não sei o que sentir, tenho a cabeça baralhada. "Sai daqui." Disse isso mais para mim própria do que para a Rita, mas tarde de mais, aquelas palavras já me tinham saído pelo boca.

"Espero então que tenhas um bom jantar. Vou avisar a Joana que preciso ir para casa." Assim que ela virou as costas pronta para sair da casa de banho, agarrei-lhe pelo braço, forçando-a a ficar até ouvir o que tinha para dizer.

"Desculpa, não era isso que eu queria dizer. Estou confusa, depois de ver a Tatiana passados estes meses todos, mesmo que de longe, criou uma angústia em mim. Não te ando a evitar de propósito, na verdade ando a evitar toda a gente, preciso de um espaço sozinha em que possa pensar."

"Sabes, naquele dia, no jantar, encontrei-a na casa de banho, ao princípio não tinha certezas de quem ela era, mas após falarmos um pouco tive a certeza." Franzi os olhos assim que ela disse isso. "Ela é linda, consigo perceber o que viste nela, e ao mesmo tempo o que te impede de esquecê-la. Tentei tocar no teu nome na conversa, mas ela acabou por sair. Não sabia que ela ainda continuava a jogar voleibol, mas por isso mesmo tens que ser forte, daqui a umas semanas jogamos contra ela. E não quero que estejas desprotegida e distraída durante o jogo."

"Eu sei, preciso ser forte, acredita, isto passa. Foi só o choque inicial. Vamos voltar para a mesa?"

"Sim vamos, elas já devem estar preocupadas por estarmos aqui algum tempo."

Assim que chegámos à mesa continuamos de forma animada o resto do jantar. Senti-me mais relaxada por ter revelado os meus pensamentos à Rita. Sugeri que acabássemos esta animação do jantar em casa, acompanhadas por uma garrafa de vinho.

Assim que chegámos a casa, fui buscar a garrafa de vinho, quando retornei à sala, a Joana estava encostada à Rita, isso fez-me ficar um pouco atordoada, mas porquê? Se calhar inveja, por ter alguém que me acolhesse assim tão carinhosamente. Imitei-as e, após servir o vinho, sentei-me da mesma forma apoiada na Sofia.

"Vamos jogar algum jogo para descontrair!" Lembrou-se a Joana.

"Já sei, vamos jogar ao Verdade ou Consequência."

"O quê? Esse jogo para crianças? Não jogo há algum tempo" Ripostei.

"Oh vamos lá, nunca deixas-te de ser uma adolescente com as hormonas descontroladas, não que eu tenha notado." Disse-me com segundas intenções, pude ver o revirar de olhos da Rita.

Um Toque de VoleibolOnde histórias criam vida. Descubra agora