Capítulo 20 - Rita

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Deixei-a ir sozinha para casa, mas não parei o resto do jantar de pensar se ela estaria bem. A Joana não sabia o que tinha acontecido, por isso continuava entusiasticamente a falar sobre as suas parvalhices durante todo o jantar. Eu tentei sorrir, mas na verdade a minha cabeça só pensava na Anabela.

Precisava refrescar a cara para me concentrar. Pedi desculpas e fui à casa-de-banho. Quando lá entrei, vi que estava alguém a olhar-se ao espelho. Era uma mulher alta, bem vestida, requintada, de pele melata. Completamente linda. Lembrei-me da cara dela, de hoje nas bancadas. Era a Tatiana.

Não me apercebi o quanto estava a encará-la, até ela me ter dito "Precisas de usar o espelho?" Ao qual respondi que sim.

Enquanto me olhava ao espelho, ela iniciou a conversa. "És a nova atacante do Desportivo de Chaves?" Ao qual abanei a cabeça em sinal de concordância. "Vi-te a jogar hoje, és muito boa. Eu também jogo nessa posição, mas pelo Sporting de Braga. Havemos de nos encontrar nas próximas jornadas do campeonato. Chamo-me Tatiana."

"Prazer. Eu sou a Rita. Ouvi dizer que já pertenceste à minha equipa o ano passado. Por isso contrataram-me este ano para poder ocupar a vaga."

"Sim, é verdade. Então indirectamente ajudei-te a ter lugar na equipa. Ainda bem, é uma excelente equipa para começares a tua carreira. Tem jogadoras de calibre mundial."

"Sim, na verdade fiquei entusiasmada por vir para a equipa para poder jogar com jogadoras da selecção nacional, temos a melhor passadora do campeonato." Tentei picar-lhe um pouco.

"Ah sim, a Bela." Apercebi-me da correção dela. "Desculpa, a Anabela é sem dúvida a melhor passadora. Bem tenho que ir. Prazer em conhecer-te Rita. Vemo-nos brevemente." E saiu da casa-de-banho.

Quando chego junto da Joana, pretendo ir embora. Quero saber como a Anabela está. "Desculpa Joana, estou um pouco preocupada com a Anabela. Se calhar é melhor irmos para o hotel e saber se ela está bem."

"Ok, tudo bem. Continuamos a nossa conversa noutro dia." Ela agarra-me na mão por cima de mesa. "Que achas em termos um segundo encontro na próxima sexta-feira. Aceitas?"

"Claro. Vamos embora então." E retiro a minha mão da dela.

Num instante chegamos ao hotel. Entramos no quarto e lá estava a Anabela a dormir. Senti-me aliviada. A Joana acabou por aprontar-se e fomos ambas dormir. Passadas umas horas ainda não conseguia adormecer, estava estasiada com o dia de hoje. Sinto a Anabela levantar-se da cama ao lado e ir à casa-de-banho. Após uns minutos em que não voltava, decido ir perguntar se ela estava bem. Bato ligeiramente na porta da casa-de-banho que estava entreaberta. Entro e fecho a porta atrás de mim.

Ela estava sentada à beira do jacuzzi, a olhar para o vazio. Sento-me ao lado dela e tento confortá-la. "Hey, também não consegues dormir?" Ela faz sinal de não com a cabeça. "Estás bem? Queres falar sobre o assunto? Eu sei porque é que estás assim, foi por causa de a teres visto." Nisto vejo uma lágrima a cair do rosto dela. Tento limpar a lágrima com a minha mão. "Hey, não precisas de falar sobre o assunto, as coisas vão correr bem não te preocupes. Amanhã é outro dia."

Senti a cabeça dela encostar-se no meu ombro. Estava completamente vulnerável. "Conta-me o que se passa entre ti e a Joana." Surpreendo-me com esta pergunta. Mas respondo-lhe na mesma, devia estar a tentar concentrar-se noutro assunto.

"Não se passa nada, apenas estamos a nos conhecer melhor, e tentar ver no que isso pode dar."

"Ela é uma excelente pessoa e entrega-se de corpo e alma como namorada."

"Eu sei disso tudo, mas ambas estamos a tentar sarar algumas feridas, de uma forma ou de outra ambas perdemos as nossas namoradas."

"Pois, eu também perdi a minha." Ela virou-me a cabeça para eu não a poder encarar.

"Por isso sabes o quanto custa avançar a partir daí, mas não é impossível, apenas tens que dar oportunidade." Posicionei-me à frente dela, de joelhos no chão, de forma a conseguir agarrar a cara dela com as minhas mãos e poder olhá-la nos olhos.

Ficámos alguns segundos, que mais pareciam minutos, a nos encarar. A tentar olhar na alma uma da outra, quando de repente ela aproxima-se. Consigo sentir a respiração dela na minha face. Ela parou por uns momentos centímetros da minha boca, e beija-me.

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