"Vamos comer um gelado, estou desejosa por sair de casa." Suplicou a Joana. Tanto eu como a Rita estávamos exaustas, mas fizemos a vontade já que por dentro sentíamos um pouco de necessidade em compensar a Joana.
Estava bom tempo quando chegámos ao parque ao lado de casa, ajudei a Joana a sair do carro e assim fomos até à banca dos gelados. Acabei por pagar o gelado das três, com muita relutância por parte da Rita. Mas pisquei-lhe o olho, o que a fez dar o braço a torcer.
"Então contem-me como correu tudo."
"Graças aqui à novata, conseguimos dar a volta ao resultado, ela trouxe o seu melhor jogo ao de cima."
"Ohh queria ter estado lá para ver isso." Disse a Joana, acariciando a cara da Rita. Vi o desconforto no olhar dela, tentando pedir-me ajuda para saber como sair daquela situação. Tentei mudar de assunto.
"A praia estava óptima, ficámos a apanhar búzios. Trouxe um para ti." Agarrei num búzio que tinha na mala, e dei-lhe. Ela ficou feliz mas ao mesmo tempo triste por não ter ido connosco. "Fica para a próxima, não te preocupes."
"Eu sei, mas estava tão entusiasmada."
"Eu sei que sim, mas agora só tens que recuperar." Vi a face dela escurecer-se, como se estivesse com receio de dizer alguma coisa.
"Não sei se já viste o próximo jogo com quem é."
Virei-me para ela incentivando-a a continuar, pois não sabia o que ela queria dizer.
"Com a equipa da Tatiana." Acabou por dizer a Rita num tom mais frio que o normal. Não costumo olhar para o calendário dos jogos, apenas na própria semana, para assim preocupar-me com um jogo de cada vez. Sabia que haveria de chegar o jogo contra a Tatina, mas não esperava que fosse numa fase em que as coisas já estavam demasiado complicadas entre mim, a Rita e a Joana, que não sabia o que se estava a passar.
Vi a cara da Rita a olhar-me com um olhar preocupado. "Eu estou bem, é sempre complicado reencontrá-la, após este tempo todo. Mas garanto-vos que estou melhor." Respondi-lhe de forma a tentar acalmá-la. Houve uma altura em que falar na Tatiana trazia-me angústia, mas eu estou realmente melhor, pelo menos tento acreditar nisso.
"Se precisares, eu posso falar com a treinadora e explicar a situação. De certeza que ela poderá deixar-te de fora do jogo." Ouvi a Joana dizer.
"Não sejas parva, eu não posso deixar o meu lado pessoal envolver-se com o meu profissional." Respondi-lhe rispidamente.
"Ok, tu é que sabes." Disse a Joana.
"Vou à casa-de-banho, acompanhas-me Anabela." Ouvi a Rita dizer.
Assim que caminhamos para a casa-de-banho, ela pergunta-me se estava realmente bem com a situação. Assegurei-lhe novamente que sim, que ela não tinha nada com que se preocupar, estava tudo bem. Pelo menos assim eu garanti a mim própria que sim.
"Ok, vou tentar acreditar nisso, mas sei o quanto as coisas com ela não ficaram completamente resolvidas. Precisas falar com..." Interrompi-a com um beijo que ela correspondeu sem protestar. Quando comecei a sentir o beijo a intensificar-se decidimos parar. Afinal a Joana ainda estava à nossa espera.
Assim que chegamos a casa, depois de deixar a Rita, deitei-me na cama a olhar para o vazio do tecto. Estava mais que exausta, tanto pelo jogo, como pela noite mal dormida. Sentia que alguma coisa estava a mudar em mim. E acima de tudo, não conseguia deixar de sorrir sem qualquer razão. Aliás, eu sabia a razão. Não queria era pensar nos problemas desse sorriso. O que poderei dizer à Joana? Será que ela vai perdoar-me? E pior, será que me vou magoar novamente? Este último pensamento fez-me as lágrimas virem aos olhos. Se calhar ainda não estava preparada. E a cima de tudo, como vou conseguir lidar com o próximo jogo, em defrontar a Tatiana como se nada tivesse acontecido.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Toque de Voleibol
General FictionAnabela encontra-se no auge da sua carreira desportiva. Capitã de voleibol pela equipa Nacional de Chaves há quase 6 anos, encontra-se focada e determinada em conseguir vencer o único título que lhe falta, o de campeã nacional. Tudo começa a correr...