Capítulo 19 - Anabela

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Consegui manter a cabeça concentrada no jogo mesmo depois de ver a Tatiana nas bancadas. Já não a via desde aquele dia em que ela veio buscar tudo o que tinha na minha casa. Ainda me lembro do que ela me disse:

"Eu queria te contar tudo, eu estava apaixonada por ti, nada do que passámos juntas foi mentira ou falsidade. Mas as coisas aconteceram com a Sónia. A atração que ambas temos uma pela a outra, não foi fácil de distanciar-se disso. Eu queria te contar. Juro que queria. Mas tinha receio que ela acabasse tudo comigo e eu ficasse sozinha. Que perdesse duas pessoas pelas quais sinto enorme amor."

"Por mim não sentes nada pelos vistos."

"Bela, por favor ouve-me. Eu nunca me irei perdoar por te magoar desta maneira. Gostava que as coisas fossem diferentes."

"Adeus Tati." E deixei-a sair pela porta da minha casa, da minha vida.

Não queria aceitar o convite da Joana para passar a tarde junto com elas as duas, mas ambas conseguiram convencer-me, e na verdade, estava aliviada por ter alguma distracção.

"Parabéns novata pela tua primeira vitória, jogaste muito bem, aliás ambas jogaram." Virei-me para as duas.

"Foi, não foi? Parecia que estava há anos na equipa."

"Vá vocês estão a ser demasiado simpáticas. Não foi nada de mais. Quer dizer, foi fantástico. Eu estava a jogar tão bem." Rimo-nos da franqueza dela. "E quero te agradecer Anabela, aqueles passes são a melhor coisa da vida para uma atacante, sabes perfeitamente ler a minha mente e corpo. Obrigada." Corei um pouco.

"Aqui a nossa Bela é a melhor passadora nacional por alguma razão. E saber ler as companheiras de equipa é muito mais importante do que a técnica."

"Vamos comer um gelado, antes que me arrependa de estar com vocês e dos vossos comentários melosos."

"Gelado!" Gritaram as duas ao mesmo tempo. Pareciam crianças atrás de um doce.

A tarde foi agradável, divertimo-nos muito as três. Decidimos que iamos jantar fora naquela noite, para celebrar esta primeira vitória.

O restaurante estava cheio quando chegámos, mas conseguimos uma mesa bem parto da janela.

"Esta vista é lindíssima, tivemos muita sorte em conseguir sentar nesta mesa. Pelos vistos isto é um restaurante muito requisitado." Disse a Joana.

"É mesmo Joana." Assustei-me ao ouvir a Sónia.

"Olá treinadora, também veio jantar aqui. Se quiser pode jantar connosco, para não jantar sozinha." Disse a Joana.

"Agradeço a oferta, mas estou à espera de uma amiga." Disse ela sem nunca olhar nos meus olhos. Eu pelos vistos também não devia estar com muito boa cara. A Rita deve ter reparado no mesmo, pela cara de preocupada com que olhava para mim. Ambas sabíamos com quem ela ia-se encontrar. Dei-lhe um ligeiro sorriso para ela perceber que eu estava a controlar-me bem.

"Fiquem bem meninas. Não se deitem muito tarde que amanhã temos autocarro bem cedo. Bom jantar."

Assim que ela saiu do nosso enlance, virei-me para as outras. "Acho que estou mal disposta. Desculpa. Jantem sem mim. Vou andando para o hotel. Aproveitem o jantar a dois." Precisava urgentemente de sair dali, não queria encontrar a Tatiana. Muito menos voltar a vê-las juntas.

"Podemos ir todas contigo, encomendamos comida." Disse a Rita.

"Não, fiquem. Aproveitem o vosso jantar. Eu estava a mais na mesma."

Entretanto chegou o empregado de mesa. Enquanto a Joana estava distraída a falar com ele, a Rita susurrou-me.

"Tens a certeza que queres ficar sozinha?"

Ao qual eu respondi. "Tenho."

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