A tensão entre nós dois foi tão absurda que quando ouvi a porta dos fundos se abrindo num rompante às minhas costas, eu saltei como se tivesse sido pega fazendo o que não devia.
— Que susto, cacete! - me viro rapidamente pra reclamar com Declan, mas o encontro olhando fixamente além de mim.
— Quem era ele? - seus olhos semicerrados e o cenho franzido me fazem virar em direção ao motivo do seu questionamento.
Quando olho de volta para o cowboy, percebo que ele já está no fim do corredor, virando a esquina.
— Ah... ele? - aponto para o lugar onde o cara estava há segundos atrás. - Na verdade, eu não sei.
E então eu percebo que durante todo aquela torta de climão eu não sabia nada sobre ele, nem mesmo o nome, somente que não era daqui.
— Como assim "não sabe"? Você estava quase voando no pescoço do cara parecendo uma sanguessuga.
Me viro de volta para ele com uma expressão entediada.
— Só estava agradecendo por ele ter me ajudado com um cara inconveniente que estava me incomodando.
Ele me olha de rabo de olho como se soubesse que eu não estava agradecendo porcaria nenhuma, talvez provavelmente sendo grossa com o homem.
— Mas pra que essa cara? - desvio a atenção de mim.
Ele continua olhando com uma expressão de dúvida para o final do corredor.
— Eu achei que já tivesse visto esse cara antes. - ele dá de ombros. - Mas não consegui ver direito por culpa do chapéu e da iluminação horrorosa desse lugar.
— Também tive essa impressão.
— Deve ser algum amigo do Frank. - ele volta a me olhar. - E a senhorita estava sozinha com ele aqui nesse breu!
Eu bufo e dou as costas a ele, saindo do corredor e indo de volta para a parte movimentada do bar.
— Não enche meu saco, eu sei me virar.
Sigo em frente sem olhar pra trás, ouvindo seus resmungos atrás de mim enquanto me acompanha.
[...]
Nós estávamos cogitando encerrar a noite ali mesmo porque a tal noiva estava marcando em cima. Declan ficou fugindo o tempo inteiro. Toda vez que ela se aproximava da gente pra perguntar por ele, Frank se encolhia um pouco por culpa da voz fina dela, a mulher parecia que grasnava ao invés de falar.
Dylan já tinha perdido a paciência fazia tempo. E quando, numa das vezes que ela deu o ar da graça e ele soltou alguma coisa como: "Tá falando mais que puta na chuva heim, minha filha!", ela ficou ofendida e não voltou mais.
Frank tentou ensinar que o verdadeiro ditado era: "Falando igual pobre na chuva", mas Dylan achou que "puta" combinava mais com a ruiva.
Os meninos estavam começando a tomar ranço dela. Homem, quando se trata de mulher grudenta, é tudo igual.
Eu só assistia, me abstive de me meter. Pra falar a verdade, pensei que ela só queria uma diversão de uma noite, mas parece que a desavisada ficou gamadinha mesmo. Como diria o Declan, ela não resistiu ao "amorzinho gostoso" que ele faz.
Eu perdi a conta de quantas garrafas de cerveja eu tomei, só sei que não vi mais o peão moreno que conheci no corredor do banheiro.
Na verdade, sendo sincera, o motivo de tanta bebida foi acabar de vez com qualquer possibilidade de pensar ou sonhar com aquele homem, coisa que eu tinha certeza que aconteceria assim que eu depositasse minha cabeça sóbria no travesseiro. Então, procurei no fundo de cada garrafa vazia encontrar o bendito esquecimento... e consegui.
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Meu Caos Nos Seus Olhos - Livro Dois
RomanceTendo a mãe falecida e sem nunca ter conhecido o pai, Sara Castillo foge da casa dos avós em Cameron (Missouri) onde morou até seus 14 anos e vai viver nas ruas de Nova York. Por um longo ano ela teve que conviver com o perigo e a miséria, mas tamb...