Na manhã seguinte, quando desperto ainda cedo e desço para o primeiro andar, encontro a casa vazia, com exceção de uma senhora que lavava algumas louças na cozinha, ela cantarolava com uma voz surpreendentemente bonita. Se apresentou como Sra. Suárez e me informou que Sabina havia saído para visitar o pai, que eu descobri ser o vizinho logo ao lado. Que Logan já estava pegando no batente, como sempre faz antes mesmo do dia clarear e que os meninos estavam ajudando os outros funcionários do lado de fora. Eu imaginei mesmo que, assim como eu, eles não iriam querer ficar parados vivendo de favor aqui.
Ela comentava tudo com um largo sorriso no rosto moreno, as rugas ressaltadas revelando uma vida bem aproveitada. Disse o quanto gostou de conhecer os três garotos, principalmente Declan, o mais "espevitado". Conhecendo ele como conheço, não duvidaria nada se tivesse passado uma cantada nela.
Dona Adélia, maneira como ela fez questão que eu a chamasse, insistiu em preparar pra mim algum prato que eu gostasse muito, como Logan havia pedido a ela, mas eu logo recusei educadamente. A última coisa que eu queria era dar trabalho e por isso, logo me ofereci para ajudá-la com os afazeres da casa. Não estava disposta a ficar ali vivendo feito uma madame enquanto uma senhora fazia todo o serviço sozinha.
Com muito custo, ela resolveu aceitar minha ajuda e nós passamos a manhã toda trabalhando juntas e conversando animadamente. Ela tinha muitas histórias pra contar e já havia passado por tanta coisa que eu fiz questão de permanecer em silêncio por bastante tempo, só escutando e absorvendo sua experiência. Comentou das longas décadas trabanlho nessa fazenda.
— Essa propriedade ainda não era da família da Sra. Sabina assim que vim trabalhar aqui com a minha mãe, quando eu ainda era uma criança. Pertencia aos pais do menino Bryan. - quando ela toca nesse nome, me lembro de tê-lo escutado antes.
— O amigo do Logan.
Ela me olha surpresa por eu conhecê-lo.
— Sim, ele mesmo. Um garoto tão bom... - ela sussurra pesarosa. - Os pais dele que passaram a infância nessas terras, mas quando já estavam adultos e casados, acabaram perdendo tudo e tiveram que procurar reconstruir a vida em outro lugar. Foi quando tiveram o único filho, Bryan, no Missouri.
Ela para e olha pra mim, conferindo se a estou acompanhando. Eu confirmo com a cabeça, interessada, e então ela continua.
— Obviamente o menino não cresceu aqui, mas ele vinha visitar as terras sempre que podia. Quando tinha folga daquele trabalho tão perigoso, ele vinha por alguns dias e nós passávamos horas conversando.
Eu penso sobre isso. A família se mudou para o Missouri porque acabou não tendo outra escolha. Não que o estado seja longe daqui, mas para alguém com a vida tão corrida devido ao trabalho que ele tinha, essas terras deveriam significar muito para o tal Bryan já que o faziam se deslocar todo o caminho até aqui...
Como se lesse meus pensamentos, Sra. Suárez volta a falar.
— Ele sempre dizia que os pais nunca se adaptaram no outro lugar, que o sonho deles era voltar para a terra natal, mas isso nunca foi possível. Acredito as visitas do garoto eram mais por conta dele querer recuperar a fazenda do que por saudade dessas terras mesmo, até porque como eu disse, o menino nem mesmo cresceu aqui.
Ela termina com um tom de voz chateado e então, volta a se concentrar no trabalho a sua frente. Eu também me distraio com os afazeres e fico então pensando que Logan deve ter conhecido Sabina através desse Bryan. Nessas vindas pra cá, Logan deve tê-lo acompanhado alguma vez, a conheceu e desde então estão juntos. Eu não o recrimino, Sabina de fato é bem bonita e elegante. Devia parecer uma modelo quando mais nova...
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Meu Caos Nos Seus Olhos - Livro Dois
RomansaTendo a mãe falecida e sem nunca ter conhecido o pai, Sara Castillo foge da casa dos avós em Cameron (Missouri) onde morou até seus 14 anos e vai viver nas ruas de Nova York. Por um longo ano ela teve que conviver com o perigo e a miséria, mas tamb...