30.0 Sara

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Devo estar sentada há horas nessa janela do meu quarto, sentindo a brisa fria anestesiar meu corpo.

Eu já devia saber que o calor abafado que fez durante toda o dia era um indício de que o tempo viraria ao entardecer. A chuva agora parecia prestes a cair.

Há algo de muito reconfortante num dia cinzento e gelado. São os meus preferidos. Talvez por me lembrarem do meu último dia com Scot...

Scot.

Eu revivi cada segundo dos nossos últimos momentos quando Logan me contou sua história. A dor excruciante que eu podia ver nos seus olhos, era sentida ao mesmo tempo no mais profundo da minha alma. Era como se as minhas peças quebradas fizessem o encaixe perfeito nas próprias peças quebradas do Logan. Nossa dor se completava ao mesmo tempo que somava.

E aquilo foi demais.

Eu desabei.

A última vez que chorei daquela maneira, foi quando perdi Scot.

E mais uma vez, tudo se volta para aquele dia.

Queria tanto que ele estivesse aqui comigo agora.

Ele não tinha muita paciência para palavras de conforto, não eram seu forte. Mas ele teria uma pra esse momento, tenho certeza.

Pra falar a verdade, palavras nem seriam necessárias. Seus braços fortes ao meu redor já seriam o suficiente.

Se passaram três dias desde que Logan me contou sua história. Há três dias nada daquilo sai da minha cabeça. Nós passamos aquela noite juntos, não aconteceu nada demais, nós só precisávamos nos segurar e sentir o conforto do abraço do outro.

Na noite seguinte, Logan tinha perdido sua vaga na minha cama. Quando entrou no quarto, eu já estava com os meninos, os quatro amontoados e encaixados da maneira que dava. Eles perceberam que algo havia acontecido, já que eu estive perambulando por aí num estado de inércia por culpa das coisas que fiquei sabendo, e resolveram que dormiriam todos comigo como nos velhos tempos.

Logan fez uma cara de quem não havia aprovado aquilo, mas ele me conhece o suficiente pra saber que eu não tiraria os meninos dali só porque ele não gostou. Então ele não soltou nem uma palavra em reclamação, apenas nos desejou boa noite e foi embora.

Eu não gostei da sensação no meu peito quando ele foi para o seu quarto, dormir ao lado de Sabina. Mas tentei me distrair, afinal, eu o tinha mandado pra lá. Depois da conversa que tive com Logan, eu não via a hora dessa situação toda acabar pra que ele ficasse livre da noiva. Ele não soube me dizer quando isso aconteceria, mas seria em breve.

Eu achei estranho que o pai da Sabina desse as terras para ele apenas para ficar livre da filha. Logan não havia dito que o homem era obcecado pela linhagem masculina e ambiciosa que vinha de geração em geração na família? Não faz muito sentido ele dar uma propriedade para um homem de fora e sem nenhum grau de parentesco com ele, apenas para se livrar da filha. E a tal linhagem que ele queria preservar? Não havia nenhum sobrinho, primo ou qualquer outra pessoa?

Não consegui entender direito no momento em que ele me contou, muito menos agora, mas só sei que isso não sai da minha cabeça. Talvez pela ansiedade de ficar livre de tudo isso logo... Provavelmente.

Enfim começa a chover. Finos e leves pingos de água acertam o vidro da janela. Era tudo o que eu precisava, poder sentir o cheiro de grama e terra molhada, e o vento soprando meus cabelos.

Já tinha me desligado do tempo em que passei ali, até sentir lábios sendo depositados no topo da minha cabeça e braços fortes me circularem por trás.

Meu Caos Nos Seus Olhos - Livro DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora