26.0 Sara/Logan

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Quando eu saí da despensa, Dona Adélia já havia voltado. Ela viu Logan sair logo depois de mim, mas não comentou nada. Eu disse que ele estava apenas me mostrando como os alimentos eram separados e armazenados, ela pareceu acreditar, mas isso até Logan passar por nós sem dizer uma única palavra e sair irritado, pisando forte e bufando.

Nem dei muita importância. Cada um colhe o que planta. Ele não fez o que quis antes, sem pensar em ninguém a não ser nele? Agora que arque com as consequências.

Quando estava próximo ao horário do almoço, Sabina apareceu na cozinha. Era a primeira vez que eu a via naquele cômodo pra fazer algo além de comer. Notei Dona Adélia ficar tensa ao meu lado assim que a outra se mostrou presente. Aquilo me incomodou.

— Já vou avisando que Logan não vem almoçar. Meu noivo trabalha tanto, tadinho. Pensei em levar uma refeição pra ele, fazer um mimo... - Ela me olha com ar de provocação enquanto destila as palavras num tom muito sugestivo. - Quem sabe assim ele não me recompensa hoje a noite, ele tem estado tão fogoso...

Sinto um aperto no peito quando imagino os dois dormindo juntos na cama deles, no quarto ao lado do meu. Respiro fundo e mordo minha língua pra não rebate-la e dar essa satisfação a ela. Como eu não respondo nada e permaneço em silêncio, ela volta a falar, tentando ser mais ofensiva.

— Prepare logo alguma coisa pra eu levar. Por alguma razão que eu desconheço, Logan é fissurado na sua comida. Talvez você só sirva pra ser uma empregadinha doméstica mesmo. - ela sibila e eu não deixo escapar a conotação pejorativa, o nojo nas suas palavras.

Olho para expressão abatida e ofendida da Dona Adélia. Sinto raiva. Lembro dela me falando o quanto gostaria de ter estudado e ter feito uma faculdade, mas não pôde porque precisou vir para o trabalho com a mãe desde pequena e agora cuidar de uma casa é a única coisa que ela sabe fazer, por isso dá tanto valor pra educação do filho...

Sinto raiva da forma como Sabina fala as coisas com o único intuito de ofender as pessoas. Olho na sua direção e faço um tom de voz frio, mas tento não transparecer nada... Não quero mostrar que ela conseguiu me atingir ao magoar Dona Adélia.

— Primeiro, tenha mais educação e trate as pessoas com respeito. Ninguém te deve obrigação aqui então peça "por favor" quando quiser alguma coisa. E segundo, qual o problema em ser uma funcionária doméstica? Nenhuma profissão é um demérito, Sabina, nem mesmo a sua de garota de programa. - dou de ombros.

O ódio na sua expressão me dá um prazer indescritível. Eu ergo uma sobrancelha a desafiando a dizer mais alguma coisa. Ela bufa.

— Um dia eu ainda meto a mão nessa sua cara, garota.

Dona Adélia ofega assustada ao meu lado.

A forma como Sabina perde a compostura na mínima provocação me faz soltar uma risada de escárnio.

— Eu quero ver você tentar.

Ela bufa outra vez e estufa o peito como se tentando resgatar a própria dignidade, então nos dá as costas e sai irritada da cozinha.

Olho pra Dona Adélia pra conferir se ela está melhor e encontro uma expressão preocupada no seu rosto.

— Você não devia arrumar confusão com ela, menina. Ela é uma mulher muito difícil. - suspira com ar de tristeza e eu só consigo pensar no que Sabina já aprontou com ela.

Seguro na sua mão tentando passar calma e conforto.

— Não se preocupe com isso. Eu sei que ela costuma ser uma vaca, mas não é idiota. Ela sabe bem com quem está mexendo.

Meu Caos Nos Seus Olhos - Livro DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora