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Matilde Rodrigues

- Não sei o que te dizer, a não ser desculpa por não te ter respeitado. - Os meus ouvidos estavam a sangrar.

Como é que podia desculpar-se com a naturalidade com que fazia? Parecia até estar a divertir-se com a situação, como se tivesse orgulho no que fez.

Já nem conseguia chorar, mesmo que o tenha feito quando o enfrentei.

Foi apenas mais uma chapada.

Nas fases mais estremecidas da nossa relação, a minha forma de pensar não foi a melhor. Acreditei que era normal entre casais, visto que cada relação sofre altos e baixos.

Quis agarrar-me a essa esperança. Que fosse uma fase, não falta de sentimento e necessidade de terminar.

No entanto, agarrei-me em vão. Bastou uma viagem de trabalho para receber a notícia que o meu fiel namorado estava com a língua noutra boca.

Para além de ter recebido imagens da traição em primeira mão.

Pelo menos sabia que tinha alguém fiel comigo, que não hesitou em contar-me o que se andava a passar.

Mesmo que tivesse sido inesperado, a maior bomba a cair-me em mãos, sabia que nunca iria permitir que regressasse e voltasse para o João.

Encarei como uma forma de proteção, pois impediu que vivesse iludida, sendo alvo de risadas. A humilhação não era a maior, pois tinha terminado. Caso não o fizesse... Era o cúmulo.

As pessoas iriam saber que estava com uma pessoa desonesta.

- Nunca pensei que fosses capaz. Duas semanas foram suficientes para apagar um namoro de dois anos? - Balancei a cabeça, pegando na mala.

- Não sei o que aconteceu, nunca tive a intenção de te trair. Acredita, eu nunca te faria uma coisa assim.

- Nem estou a acreditar no que dizes.

Forcei uma gargalhada, apesar de me sentir cada vez mais frágil. Como é que tem a coragem de dizer que jamais iria trair-me, quando o fez?

Era preciso ser muito incoerente ou então estava a gozar comigo. Tal como achava, a divertir-se .

- Não vou perder mais tempo.

- Matilde... Desculpa, mas não sei o que aconteceu, no que pensei.

- É escusado dizer que acabou, certo? A mensagem ficou clara. - Apontei para o rosto dele.

Assim que me abriu a porta, confrontei o rapaz com as fotos.

Ainda teve a coragem de negar, tentou convencer-me que não era ele nas fotos e que nunca me traiu. Não pensei duas vezes antes de lhe bater.

No mínimo tinha admitido o cobarde que era e sido sincero comigo. De nada lhe serviu tentar mentir.

Como já nada tinha para dizer, virei-lhe costas e sai do seu quarto.

Nem me despedi da mãe dele, pois sentia novamente a vontade de chorar de raiva pelo que aconteceu. Ainda não tinha caído bem em mim ou assimilado o que estava a acontecer.

As lágrimas dificultavam a minha visão, só queria chegar ao meu carro e conduzir até Almada.

Atirei-me para a estrada, confiante que não havia qualquer movimento. Porém, tinha que estar errada. Nem tive reação de momento, fiquei estática.

A travagem a fundo e a dor que invadiu a minha perna após o choque.

Deixei de sentir força no meu corpo, acabando por cair no chão. Ouvi vozes diferentes à minha volta.

Estava agarrada à minha perna, atirada no meio da estrada. Os passos estavam cada vez mais próximos de mim, o que me fez levantar a cabeça. Reconheci as feições preocupadas.

- É melhor chamar os bombeiros, pode ter partido alguma coisa.

- Mas que merda, Horta! Onde é que tens a cabeça? - Procurei a segunda voz que aparentava repreender.

- Ela apareceu do nada! - Defendeu-se a terceira e última voz.

TRUST  ➛  ANDRÉ HORTAOnde histórias criam vida. Descubra agora