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Matilde Rodrigues

Ao contrário do que tinha prometido à minha mãe, ali estava eu a saltitar pelas bancadas animada.

Segurava o cartaz bem alto, chamando a atenção de uma câmara.

Ou pelo menos, era o que pretendia.

"Não era crente até encontrar Deus na baliza do Benfica. Com o nr um, Ederson Moraes
D'outro mundo"

Provavelmente era a frase mais previsível que podia ter escolhido, mas não deixava de ser verdade. Guardião a ser cobiçado por inúmeros clubes, algo assustador para mim.

E acredito que para toda a equipa, visto que a maior parte das vezes é quem nos garante a vitória.

Deus no céu, Ederson na baliza.

A câmara finalmente focava o cartaz que segurava há minutos. Foi o homem ao meu lado que me avisou, levantando também o seu cachecol.

- Provavelmente vou levar com o cinto quando chegar a casa.

Referia-me aos saltos.

Ainda não estava recuperada, visto que sentia uma dor ligeira, ao apoiar-me na perna magoada.

Esperei que a equipa entrasse para treinar, aplaudindo. Como as dores não atenuaram, decidi sentar-me. Estavam a treinar no lado oposto, não iria fazer nada levantada.

Dobrei o cartaz, colocando-o encostado à cadeira da frente.

Tirei o telemóvel do bolso, reparando que tinha duas instadirect. Reparei que eram do André, pois o meu pai estava a olhar para o sítio errado e não hesitou a lançar um comentário.

Arqueei a sobrancelha, dando-lhe um murro leve no braço. O homem repetiu o gesto, fazendo-me rir.

- Desde quando é que falas com ele?

- Não falo, deve ser uma conta falsa. - A pior desculpa possível.

Ele arqueou a sobrancelha. Conforme desviou o olhar para cumprimentar um amigo, decidi ler a mensagem. O Horta mencionou o meu cartaz.

Instadirect - andrehorta10

@andrehorta10: Dito e feito! Mulher de palavra, muito bem
@andrehorta10: Não te quero deixar nervosa, mas todos vimos o cartaz, com todos estou a incluir o Ederson

@matildesofia: Estás a gozar?! 😅

Os jogadores voltaram para o balneário pouco depois, o que me aumentou toda a ansiedade para o jogo.

Tirei o cachecol do pescoço e levantei-me, esticando os braços. Era a altura de cantar o Hino, um dos momentos mais intensos e vibrantes.

Em poucos minutos a bola já rolava no campo e os cânticos já se ouviam.

- GOLO!!!! - Gritei, voando do banco.

Arrependi-me no segundo seguinte, ao ouvir um som estranho da minha perna na zona da rótula.

Tentei ignorar a dor, celebrando o golo do André Almeida. Estávamos somente nos doze minutos de jogo e já tínhamos aberto o marcador.

Sentei-me após gritar pelo número trinta e quatro do Benfica, encolhendo e esticando a perna.

Não queria que o meu pai percebesse, dai ter sido discreta.

No final da primeira parte, o marcador não se alterou. Continuávamos com um único golo. Era perigoso, um deslize e o resultado podia alterar.

Apesar de ter confiança plena no nosso guardião, o que tranquilizava.

No início da segunda parte, tivemos a possibilidade de marcar o segundo golo e desta vez, Mitroglou.

Cinquenta e dois minutos de jogo.

Estava concentrada no Ederson, este tão concentrado no jogo. Um remate do Belenenses para a defesa do guardião, o que me fez saltar novamente.

No entanto, fui mais cuidadosa e apoiei o peso na perna oposta.

- EDERSON!

Gritei, exibindo novamente o cartaz.

Aos sessenta minutos, o Salvio aumentou a diferença de golos. Benfica a ganhar três a zero.

Os adeptos estavam ao rubro, já mal se aguentavam nas cadeiras.

A última substituição feita pelo Rui Vitória, deixou-me um tanto sorridente e surpreendida. Avistei o número vinte e um a deixar o campo, levantando-me para o aplaudir.

Sabendo que o conheci há uns dias, só me deixava mais animada. Para ocupar o lugar do Pizzi, André Horta.

Fixei-me nele durante o jogo.

Relembrava o facto de se sentir incapaz de ajudar a sua equipa.

Porém, ele continuava um bom jogador aos meus olhos. Era a primeira época, a exigência era maior. Sem mencionar as dificuldades derivadas da lesão.

Ainda aos noventa e um minutos, os adeptos voaram das cadeiras. Foi Jonas a marcar o quarto golo.

A forma como o André sentiu aquele golo, deixou-me com um sorriso. Aliás, a forma como todos sentiram. A união entre eles era igualável. Deu-se o fim do jogo na Luz.

Levantei-me a aplaudir a minha equipa que liderava o campeonato.

Antes de deixar o estádio, levantei uma segunda vez o cartaz. Depois, ainda me lembrei de dizer algo ao André.

Instadirect - andrehorta10

@matildesofia: Espero que não voltes a sentir-te desmotivado. Conquistaram mais três pontos importantes. Estão de parabéns 👏🏼❤️

TRUST  ➛  ANDRÉ HORTAOnde histórias criam vida. Descubra agora