Matilde Rodrigues
Tinha acabado de chegar á taberna.
Caminhava pelo espaço pequeno, contornando as mesas ocupadas pelos clientes habituais.
Não havia qualquer adolescente no local e duvido que algum jogador fosse marcar um encontro numa taverna, só mesmo o André Horta.
Se a intenção dele era conquistar-me, já começava a meter os pés pelas mãos e ainda nem tinha chegado.
Por um lado compreendia o porquê da escolha, visto que era Sexta e corríamos o risco de ser vistos.
No dia seguinte era a minha folga da Adidas, sendo esse o motivo da saída com ele. Festejar o meu novo emprego e afogar as mágoas do empate contra o Paços de Ferreira de ambos.
Sentei-me num banco ao balcão.
Pedi uma cerveja, claro que a princesa estava a prolongar o atraso.
Dei dois goles na mesma, pousando no balcão novamente. Tirei o telemóvel do bolso, pronta para reclamar. Porém, os meus olhos foram tapados.
- Uau André, que romântico. - Gozei e ele sentou-se ao meu lado.
Pousou um snickers no balcão e um sorriso cresceu no meu rosto. Acabava de pedir uma cerveja, quando enrolei o braço no pescoço dele e puxei-o para lhe dar um beijo no rosto.
Nada melhor que snickers, nem mesmo as rosas vermelhas. Ouvi-o a soltar uma breve gargalhada, fazendo com que me sentasse em condições.
- Estás mais feliz pelo chocolate, que por estares comigo. - Protestou, levando-me a concordar.
- Só aqui estou pelo suborno. Já viste ao ponto em que chegaste? Subornar as miúdas para estarem contigo? - Ri-me com a minha lógica.
- Se quisesses só o chocolate, já tinhas saído da taverna e voltado para casa. O chocolate é só um pretexto.
- Estamos cheios de confiança.
- Vais negar-me isso? - Murmurou num tom de voz mais calmo.
Os nossos olhares cruzaram-se, vi-me refletida nos olhos castanhos dele. Não queria prender-me no seu olhar, apesar de ter dificuldade em desviar.
A forma como me olhava, a expressão no rosto dele... Tudo me impedia de ser engraçadinha como sempre.
O André tinha as suas vertentes e hoje, estava especialmente sedutor. A forma calma com que falava, o facto de seguir os meus lábios quando respondia e até quando gargalhava...
Tudo nele era uma armadilha.
Devia ter ficado em casa, tal como a minha mãe havia insistido. O André era uma pessoa... Estranha.
O tipo de estranho que cativa, que era assustador ao início e tão bom após uns dias de convivência. Ser do Benfica, um jogador por quem tenho um carinho só ajuda a cativar-me.
Começou por se mostrar arrogante, mas a minha opinião mudou depois do lanche que tivemos.
E agora, após umas seis cervejas e longos minutos de conversa, começava a mudar novamente. Desisti de beber, o carro não se conduzia sozinho.
- Acho melhor ir para casa. - Murmurei baixo, devido à proximidade.
- Acompanho-te ao carro?
Assenti, pagando as cervejas. O André pagou as duas que havia bebido e só ao ver a diferença de bebidas, percebi que tinha falado imenso.
Provavelmente nunca mais me queria ver na vida, agora que precedeu o quão desinteressante sou.
Destranquei as portas do carro.
- Estás um bocado alterada, deixa-me levar-te a casa.
- E arriscares a ser visto comigo? - Ele arqueou a sobrancelha. - Pensas o quê? Que não percebi a tua ideia?
- Não sei do que estás a falar.
- Era isto que querias? Sair com uma rapariga e impedir que as tuas paginas de fãs soubessem? - Forcei uma risada e encostei-me ao carro.
- Vou ignorar o que estás a insinuar e levar-te a casa. - Murmurou, fechando a porta do meu carro.
- Não quero que me leves.
- Deixa de ser parva! Só combinei aqui para que tivéssemos privacidade.
- Privacidade para falar da minha vida desinteressante? Podíamos falar sobre isso pelo instagram.
O rapaz revirou os olhos.
Aproximou-se de mim, para me levar para o seu carro. Porém, não deixei que o fizesse. Voltei a abrir a porta do carro e a entrar no mesmo.
Procurei a chave na ignição e ouvi as gargalhadas do André, que segurava as minhas chaves.
- Vais dar-me isso?
Negou com a cabeça e sorriu-me.
- Não tens outra taberna para estar? É melhor não te atrasares.
- Tens sempre que estragar o ambiente entre nós. És inacreditável. - Revirou os olhos, chateado.
- Desculpa, era um segredo?
Provoquei e ele baixou-se ao meu nível, pousando um dos joelhos no banco. Ele estava perigosamente próximo de mim, comecei a sentir a tensão.
Deixou cair as chaves para o chão, levando ambas as mãos ao meu rosto, o seu olhar encontrou o meu.
- Achas mesmo isso de mim?
- Não te conheço, mas sei que vais dar-me um beijo e isso comprova.
Após as minhas palavras, o rapaz suspirou frustrado e começou a querer levantar-se.
Porém, levei as mãos ao casaco dele.
- Não disse que não podias.
- Desculpa Matilde, mas não quero essa fama para mim. - Encolhi os ombros de uma forma desanimada. - Vens comigo, chamas alguém, decide.
- Vou chamar alguém. - Comecei a cair em mim. - Desculpa André.
- Espero mesmo que chames.
E com isto, trancou o meu carro com a porta aberta e foi-se embora. Ou ficava trancada ou chamava alguém, era a única forma de sair dali.
Observei o André a entrar no carro e a acelerar pela estrada.
Parabéns Matilde, só fazes merda.
(...)
Nada impulsiva esta Matilde
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TRUST ➛ ANDRÉ HORTA
FanfictionOnde Matilde Rodrigues quase é atropelada pelo número 8 do Benfica