34

1.8K 94 7
                                    

Matilde Rodrigues

Avistei a camisola do André, o que me obrigou a esticar para a agarrar. Vesti-a e sai da cama dele.

Prendi os meus cabelos num messy bun, visto que nada iria conseguir fazer deles hoje. Peguei no telemóvel, saindo do quarto. Tencionava fazer algo para o nosso pequeno-almoço.

Enquanto juntava leite aos cereais, pois estava demasiado preguiçosa para fazer algo mais complexo, ouvi uma pequena risada atrás de mim.

Esperava encontrar o André, apesar de encarar uma outra pessoa.

O rapaz levantou as chaves com o ar mais inocente possível, apesar da feição matreira que também apresentava.

Não era muito difícil adivinhar o que tinha acontecido, considerando o facto de usar a camisola do André e estar de roupa interior por baixo.

Nem sabia o que dizer.

- Tenho as chaves. - Murmurou, podia sentir à vontade de rir. - És a Matilde, a miúda da festa.

- Olá Ricardo. - Cocei a nunca, um ato nervoso e tímido.

- Se calhar volto mais tarde.

- O que estás aqui a fazer? - Ouvi a voz sonolenta do André, este que se dirigiu a mim. - Bom dia Matilde. - Inclinou os lábios em direção aos meus.

- Caso não tenhas reparado, o teu irmão está a olhar para nós. - Arqueei a sobrancelha, afastando-me.

Esfregou os olhos, voltando a encarar o irmão mais velho.

- O que fazes aqui?

- Combinamos almoçar... Já percebi que tens planos melhores, vejo-te mais tarde puto. - Sorriu matreiro, o que me deixou mais envergonhada.

- Podias ter dito! - Bati no peito do André, quando o Ricardo saiu. - Porra, que vergonha!

- A minha camisola fica-te bem.

Revirei os olhos, mas será que ainda estava a dormir? Enrolou os braços nas minhas ancas, esticando os lábios. Não o beijei, ouvindo-o reclamar.

Agarrou no meu queixo e num ápice, senti os seus lábios nos meus. Acabei a rir, tal como ele.

- Já podemos voltar para a cama?

- A sério? O Ricardo acabou de nos ver juntos! - Relembrei-o.

- Estou-me a lixar, não estamos a fazer nada de mal. - Encolheu os ombros. - É tranquilo com ele.

- Como é que estás tão calmo?

- Não é calmo, é cansado. - Piscou-me o olho e logo percebi a indireta. - Volta lá para a cama Matilde.

- És impossível! - Entrelaçou os dedos aos meus, puxando-me. - Não estás um bocado preocupado? Quer dizer... O teu irmão acabou de me ver nestas figuras, ficou demasiado óbvio.

- Nada que ele não faça com a namorada Matilde, relaxa. - Deitou-se e levou-me com ele. - Esquece o Ricardo, ele é inofensivo.

- Bem, obrigada pela ajuda. - Retorqui num tom sarcástico.

Senti os lábios do André na minha bochecha, onde deixou leves beijos. Aos poucos foi descendo pelos meus lábios, até ao meu pescoço.

Não tentava uma segunda ronda, apenas estava meloso. Deixei-me levar, fechando os olhos.

Rocei as unhas pelo braço dele, saboreando os beijos curtos pela minha pele. Acabei por sorrir, pois gostava do ambiente entre nós. Sentia-me calma e confortável perto dele.

Nem havia aquela insegurança.

- Os teus pais não te deram horas, pois não? - Neguei, virando-me para ele. - É que não vais sair daqui.

- Claro que não André, vais para a loja por mim? - Ironizei.

- Também não vou sair daqui!

Acabei por me rir, distribuindo leves beijos pelo rosto dele, tal como outrora havia feito comigo. Estava tão cansado, mal se mexia ou falava.

Enrosquei-me nos braços do André, na posição mais confortável.

Estava prestes a adormecer, assim como ele. Confesso que ir trabalhar não me cativava de momento.

Gostava do clima, do conforto.

- Não podes mesmo faltar?

- Ainda nem há um mês estou na loja, era logo despedida. - Bocejei, pegando no telemóvel do rapaz.

- Temos duas horas ainda, vou meter o despertador. - Ele assentiu.

- E estavas tu tão reticente.

- Reticente de quê?

- De estar comigo. - Sussurrou, a sua voz cada vez mais cansada. - Fizeste-te de difícil... Olha para ti agora. - Reparei no sorriso convencido.

- Ainda vou a tempo de mudar de ideias. - Aticei e ele soltou gargalhadas, o que me deixou confusa.

- Quero ver isso a acontecer.

Mesmo com aquela faceta convencida, não deixei de rir.

TRUST  ➛  ANDRÉ HORTAOnde histórias criam vida. Descubra agora