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Matilde Rodrigues

Descia as escadas, quando a voz do meu pai e do André se fizeram ouvir. A minha mãe também lá estava.

Percebi que estavam animados, apesar do André soar bastante cansado. O que raio lhe passou pela cabeça? Aparecer á minha porta alcoolizado? No entanto, o André teve coragem.

Coragem de vir falar comigo, não virou costas e esqueceu o que aconteceu. Pelo contrário, tomou iniciativa. Mesmo que não fosse da melhor forma.

Ele estava ali, aceite pela minha família, o que me deixou aliviada. Se os meus pais estavam a falar com o André, se não estavam chateados, quem era eu para me chatear? Tudo o que queria era resolver as coisas com ele.

Dei os bons dias ao entrar na cozinha, ouvindo um silêncio repentino. Percebi a timidez do benfiquista.

O ar divertido dos meus pais.

Coloquei duas fatias de pão na torradeira, tirando um copo do armário e logo, o sumo do frigorífico. Após fazer as torradas, sentei-me.

- Bem, eu e a tua mãe temos um programa hoje. Não esperes para jantar e não mates o rapaz.

O meu pai exclamou, levantando-se.

- Já agora, levanta a mesa. - Piscou-me o olho, acabando por se rir.

A minha mãe despediu-se de mim e depois do André, tal como o meu pai. O homem, Ainda deixou um tenham juízo e não estraguem nada no ar.

Revirei os olhos, levando o copo aos lábios. Assim que a porta fechou, olhei para o moreno à minha frente.

Este não sabia o que dizer, quebrava os olhares que se cruzavam.

- Lembraste de alguma coisa?

- Lembro-me. Não estava assim tão fora de mim. - Murmurou baixo, num tom bastante calmo. - E tu? Lembraste do que te disse?

- Claro que me lembro. - Voltei a tentar prender o olhar dele no meu. - Não tive coragem para te responder.

- Porque não?

- Estavas bêbedo Andre. E os meus pais estavam a assistir, não achas?

- Já não estou bêbedo e os teus pais já saíram. - Arrastou a cadeira para perto, pousando a mão na minha perna. - Vais dizer alguma coisa?

Levei a mão ao rosto dele, vendo os seus olhos fecharem ao meu toque. Confesso que quis beija-lo no momento.

- Sabes que também gosto de ti.

- Não tenho duvidas do que quero, nem sei o que me passou pela cabeça.

- Também gostava de saber. Estávamos tão bem André. Quando me convidaste, apresentaste aos teus amigos no jantar do Tetra, pensei que tinhas certezas. E depois... Afastaste-te.

- E tinha certezas. Aliás, nem pensava no que fazia. Apenas fazia, porque me sentia bem contigo.

- Parece que não foi suficiente.

- Claro que foi! Só que depois... Quando me rotulei de teu namorado, comecei a pensar em tantas coisas... Que ignorei o que mais importava.

O rapaz levou ambas as mãos ao meu rosto, encostando lentamente os nossos lábios.

Produziu um pequeno sim, beijando as minhas bochechas depois.

- Quero uma relação Matilde, mesmo.

- Tens a certeza?

- Sim! Porra, desculpa o que aconteceu, por me ter afastado. Precisei de pensar, não é assim tão fácil. Sabes que vou ter os jogos, as viagens...

- Não tens que pensar nisso agora. Aliás, apoio-te a cem por cento, quero fazer parte do que te faz feliz. Jamais te faria abdicar de algo que faz parte de ti André. E lembra-te que sou do Benfica, só quero jogos à pala.

Brinquei, tentando atenuar a tensão que se formulava aos poucos. Ouvi um pequeno riso, o que me fez suspirar de alívio.

Toda aquela tensão estava a matar-me por dentro. Vê-lo tão desanimado, não facilitava as coisas.

- Namora comigo e tens todos os jogos que quiseres à pala Matilde.

Arregalei os olhos.

Acabei por esboçar um sorriso, seguido por uma gargalhada. Ele estava a fazer chantagem comigo e ainda, a pedir-me em namoro.

Originalidade sempre. Balancei a cabeça, percebendo que estava a deixar o rapaz nervoso.

- Mas vais aceitar ou não?!

- Sim André, não abdico de jogos. - Ele revirou os olhos, acabando a sorrir.

- És tão difícil!! Tanta coisa para acabares a namorar comigo.

- Até parece que já não era óbvio! Tu é que és uma menina! - Gozei, sentindo o rapaz a abraçar-me.

- Foda-se, finalmente!

TRUST  ➛  ANDRÉ HORTAOnde histórias criam vida. Descubra agora