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Matilde Rodrigues

- Desculpa ter demorado.

Sentei-me junto do André, este que estava a terminar a pizza. Encolheu os ombros, encarando-me.

Apoiei o rosto nas mãos, mantendo o olhar fixo no André.

Mesmo que me sentisse insegura em relação ao André, era alguém de quem não me queria afastar. A relação que ia estabelecendo com ele, deixava-me um tanto leve e animada.

Picardias atrás de picardias, era uma pessoa que me deixava confortável, que me fazia sentir bem.

Desde que terminei o namoro com o João que não consegui processar o que aconteceu ou derramar uma lágrima ou outra pela humilhação.

Isso deve-se ao André, que me ajudou a ultrapassar a situação, pelo facto de ter algo mais que pensar.

Não da forma que pensou ao início.

Jamais teria coragem de usar uma pessoa para esquecer outra. Ele apenas deu-me algo a que me pudesse agarrar, conhece-lo e dar-me a conhecer. Sabia que podia confiar nele.

Apesar de ser algo difícil para mim de momento e após o nosso envolvimento, algo que não devia de ter acontecido no momento em que aconteceu.

Não que tivesse arrependida, pois partiu de mim. Podia ter negado, o que não fiz na festa.

Podia ter evitado, o que não fiz após os meus pais aparecerem.

- Vais continuar a olhar para mim?

- Ficas sexy a comer. - Brinquei, menos mal humorada e nervosa. - Devias de ir comprar mais e continuar.

- Fico sexy a fazer várias coisas... - Deu os últimos goles na bebida.

Arqueei a sobrancelha.

- Estás mais simpática. - Mencionou, sabia ao que se referia. - Queres dizer-me o que te deixou assim?

- Sei lá André, ando a pensar demais. A minha cabeça não para.

- Nem me fales disso.

- Então?

- A tua confusão, deixa-me confuso. As tuas incertezas, deixam-me receoso. És uma miúda imprevisível. - Abriu o jogo com imensa facilidade.

- Aconteceu tudo tão rápido André, não tive tempo para assimilar.

Manteve-se em silêncio.

- Preciso de desacelerar ou vou acabar por estragar as coisas contigo, tal como já comecei a fazer.

- Não há nada para estragar. - Arqueei a sobrancelha. - Foram só beijos, não te pedi para assumir nada. - Confesso que as palavras foram... Rudes.

- Também não disse que o fizeste, mas obrigada pela notificação.

Respondi-lhe irónica.

Se ele achava que se podia aproveitar de mim e quando começasse a sentir as coisas temidas, saltar fora, enganava-se pois não iria compactuar.

Depois do que aconteceu com o João, ele só me dava motivos para começar a recuar e perder a confiança.

- Acabei de dizer que não queria estragar as coisas, mas estás a facilitar tudo André.

- Pensa como quiseres.

- Sabes o que aconteceu com o João e ainda me das motivos para não confiar em ti? Sinceramente... Nem sei como é que isto podia resultar.

- O que queres dizer com isso? - Ficou um tanto pensativo.

- Fui traída André! Fui traída e ainda assim dei-te confiança, sabendo que as coisas se podiam repetir!

- Desculpa? Estás a insinuar o quê?

- O João não era ninguém e foi capaz de me trair, tu és um jogador cobiçado por várias... Quem me garante que não aconteça o mesmo?

- Só podes estar a gozar comigo. Como te disse uma vez, não me vais pintar da forma que queres.

Levantou-se, verificou se tinha tudo nos bolsos e virou-me costas. Caminhei atrás dele pelo Almada Fórum. Entrou no elevador, tal como eu. Rapidamente percebi que o chateou.

Como estavam algumas pessoas no elevador, não fui capaz de pronunciar e continuar a conversa. Quando as portas de abriram, ambos saímos.

- Não me vires as costas!

Agarrei no braço dele, impedindo que continuasse a afastar-se.

- Foda-se Matilde, o que queres?

Soltou-se com alguma agressividade, o que me levou a recuar uns passos. Após respirar fundo, desculpou-se.

- Estás a dar-me a volta à cabeça! - Ele aproximou-se num ápice.

Levou as mãos ao meu rosto.

- Porque tem que ser tudo tão oito ou oitenta contigo? - Murmurei baixo, um pouco mais calma.

- Não quero que gozem com a minha cara! Da mesma forma que me cobiçam como dizes, também me usam. Mesmo que pensas o contrário.

- Desculpa André. - Pousei a mão no rosto dele também. - Jamais te ia fazer algo do género.

- Como também não te ia trair.

- Estava de cabeça quente, não medi as minhas palavras.

- Mas é isso que pensas.

- Claro que não! Mas aquilo que disseste fez-me sentir uma qualquer na tua vida e não gostei.

Suspirou, acabando por se afastar.

Ficamos em silêncio por longos minutos. Acabei por ajudar a procurar o carro do André, visto que não sabia o lugar onde havia deixado.

Demoramos uns dez minutos, até que o encontramos. Acabou por destrancar as portas e fez sinal para entrar.

Algo que não fiz, pois não queria que a conversa fosse em vão.

- Não posso André.

- Deixa-me levar-te ao teu carro.

- Está no primeiro andar. - Impedi que continuasse a divagar. - Desculpa, mas não vou arriscar magoar-te.

Assentiu, compreendo o que dizia. Ele voltou a aproximar-se.

- Preciso de pensar, ok?

- Tudo bem. - Beijou o topo da minha cabeça, começando a afastar-se. - Vejo-te em breve.

- Quem sabe no marquês! - Uma fraca de tentava de atenuar.

- É... Quem sabe.

TRUST  ➛  ANDRÉ HORTAOnde histórias criam vida. Descubra agora