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Matilde Rodrigues

O André abriu-me a porta do carro da parte de dentro. Apressei-me a entrar e a colocar o cinto. Cumprimentei-o e ele depressa começou a conduzir algures por Almada.

- Por momentos pensei que me fosses dar outra tampa. - Ouvi a sua provocação, o que me fez olhar para ele de sobrancelha arqueada.

- Esperava um "então como está a perna que quase parti?" - Fiz aspas com os dedos. - Mas obrigada pela preocupação lampião.

- De nada lampiã obcecada pelo Ederson. - Acabei por me rir e ele voltou a olhar para mim. - Mas estás mesmo melhor?

- Algumas dores mas nada de especial. - Encolhi os ombros e olhei em frente.

Comecei a lembrar-me das mensagens que lhe tinha enviado. Não sabia onde raio tinha ido buscar a coragem para o fazer. Aliás, até sei. Álcool. Não estava totalmente bebeda, mas também já não estava no meu estado normal.

- A pensar nas mensagens de ontem? - Arregalei os olhos e evitei olhar na sua direção. Mas este rapaz lia pensamentos?

- Que mensagens? - Tentei fazer-me de desentendida.

Ele não me respondeu e eu olhei para ele que me encarava como se fosse óbvio. Forcei um sorriso quando senti as minhas bochechas a arder e voltei a virar a cara.

- Não estava no meu estado normal, aliás podes apagar as mensagens!

- Porque raio faria isso?! Podes mandar sempre que quiseres!

- André! - Repreendi-o. - Daquilo que me lembro insinuaste que te estava a usar para ultrapassar o fim do meu namoro!

- Bom... Foi o que me pareceu, mas depois de ver que não estavas muito sóbria...

- Ah boa e hoje vais fazer o quê? Tentar embebedar-me num lanche para ver se acontece algo mais avançado que mensagens, é isso?

- Matilde estás-te a passar ou quê? - Fez uma travagem brusca, parando na beira da estrada.

- Tu queres mesmo acabar por me partir a perna com estas travagens, certo?

- Desculpa, nem sequer me lembrei! - A sua expressão mudou e eu virei-me para a janela.

- Claro que não. - Encolhi os ombros.

Leves segundos se passaram, nenhum de nós se pronunciou. O clima não era o melhor, começava a arrepender-me daquele lanche.

Nunca pensei que estar perto de um jogador do meu clube fosse tão estranho. O André continuou sem se pronunciar, deixando-me ainda mais confusa com a atitude. Também não tinha intenções de atacar, pelo contrário.

Só queria passar uma tarde fora de casa e com uma pessoa que gostava de conhecer melhor, por vários motivos. E também, queria um lanche grátis.

- Vais continuar a conduzir? Ainda quero lanchar à tua pala. - Quebrei o silêncio.

- Só porque quase te atropelei. 

Sorri-lhe vitoriosa, ouvindo-o a ligar o motor do carro novamente. Suspirei de alívio, por ter conseguido cortar a tensão entre nós.

Levantei o som da rádio, preferia ouvir música que os meus próprios pensamentos.

Até que um assunto surgiu na minha mente, levando-me a encarar o André. Não sabia se devia ou não perguntar, era algo que não me dizia respeito e que o meu lado adepta achava ser um assunto pessoal para ele.

- Porque me estás a olhar assim?

- Hum... Quero perguntar-te uma coisa, mas não sei como vais reagir.

Arqueou a sobrancelha, tirando os olhos da estrada para me encarar. Repreendi o rapaz, não só pelo que tinha em mente, mas por não estar concentrado na condução.

Explodiu em gargalhadas, talvez pelo meu pânico. Esperava que reagisse bem e calma, depois de saber que era mau condutor? Protestei com ele, levando com as suas provocações e gargalhadas até chegarmos ao local, o que ao fim de uns minutos, também já me fazia rir.

Antes de abordar novamente o assunto, fizemos os nossos pedidos e escolhemos uma mesa na esplanada, mesmo que o tempo não fosse o melhor.

- Vá, diz-me lá o que querias.

- Como é que reagiste quando soubeste que o Guedes ia sair do Benfica? - Arrisquei perguntar diretamente.

O André ficou surpreendido com a pergunta, apesar de ter mostrado uma feição animada. Sabia que tinham começado juntos e crescido juntos até à equipa principal.

A meu ver foi uma notícia difícil para ele, talvez mesmo para ambos. Até mesmo para mim, pois o Guedes estava a crescer muito.

- Foi estranho, mas fiquei feliz por ele. O miúdo merecia.

- Mas saiu numa altura má, porque era um grande reforço na equipa. O Gonçalo estava a crescer tanto. E até noto diferença sem ele. - Admiti. - Ele acelerava o jogo.

- Concordo contigo, mas temos muitos trunfos ainda. Só temos que saber quando e como usá-los.

- Lá isso é verdade. - Sorri-lhe. - O Ederson é o vosso maior trunfo.

- Tinha que vir, não era?

Soltei uma breve gargalhada, mostrando-lhe a foto que usava como proteção do ecrã de bloqueio do meu telemóvel. O André balançou a cabeça, acabando por se rir.

- Devias de ter essa obsessão por mim, já que te vou pagar o lanche.

- Experimenta pagar mais vezes, pode ser que desenvolva alguma coisa. Mas lembra-te de não me atropelares outra vez, Hortinha.

- Tão engraçadinha, até quando vais continuar com isso? - Encolhi os ombros e os pedidos chegaram.

- Até tem a sua piada.

- Ou então é um pretexto para me fazeres sentir mal e continuar a falar com uma adepta maluca. - Mostrou uma expressão misteriosa.

- Pelo menos está a resultar. - Respondi impulsiva.

Dei um gole no batido, acabando por ver o André a controlar a vontade de sorrir.

(...)

Onze capítulos e 900 e tal views!

Obrigada e espero que continuem a acompanhar a Trust

TRUST  ➛  ANDRÉ HORTAOnde histórias criam vida. Descubra agora