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Matilde Rodrigues

Caminhava pelo Terreiro do Paço.

A Carolina segurava a câmara fotográfica e abstraia-se com facilidade, enquanto eu tirei apenas uma foto com a vista nas histórias do Instagram e um boomerang da Carolina.

Esta havia feito o mesmo, visto que me apanhou desprevenida. Sentei-me num dos bancos de pedra junto da muralha, assim como a lagarta.

Trocamos algumas opiniões, até que a Carolina mencionou o André. Ponderei, acabando por avisa-lo.

Disse apenas que estávamos no Terreiro, recebendo resposta segundos depois. Informou-me que já sabia, pois conseguia ver-me.

Rapidamente olhei em redor, apesar de não o encontrar facilmente.

Porém, Ricardo acenou-me.

Após encarar o André, senti um arrepio e uma sensação estranha na barriga. As palavras fugiram da minha boca, assim como as ações do corpo. A Carolina, ao perceber, apresentou-se.

Não conseguia deixar de olhar para o André. O tom de pele mais moreno, um brilho exagerado no olhar.

Era como se nada tivesse acontecido e que ele era um estranho. Acabei por me obrigar a desviar o olhar. O André fez o mesmo, apresentando-me ao irmão e à cunhada formalmente.

Ficamos longos minutos a falar, ainda caminhamos pelas ruas de Lisboa mais perto do Terreiro. Evitava mostrar que não estava confortável.

Entretanto, o Ricardo decidiu para num pequeno bar. Ocupamos as mesas da esplanada.

- Sinto-te nervosa. - O André sussurrou, visto que estava sentado ao meu lado. - Vai parecer mal, mas quero mesmo falar contigo.

- Não os vamos deixar...

Antes de terminar, o André levantou-se e agarrou na minha mão.

Avisou a Carolina que não íamos demorar e puxou-me ligeiramente para caminhar ao lado dele.

Levou-me para uma rua pouco movimentada, encostando-se à parede, ainda a segurar a minha mão. Como se não fosse o bastante, entrelaçou os seus dedos nos meus.

Repetiu o mesmo gesto com a outra mão, dando-me um leve puxão. Soltou uma das mãos, levando-a ao meu rosto, acariciando-o lentamente.

- André... Era suposto falar.

- Não quero falar Matilde, estou farto de falar e nada dizer. - Logo se inclinou e juntou os lábios aos meus.

Recuei, antes que o beijo começasse a desenvolver. Não pretendia apagar este tempo que ele precisou, visto que podia voltar a acontecer o mesmo. Queria ter a certeza, que ele a tivesse.

De imediato, a sua expressão trancou e o brilho que tinha no olhar desvaneceu num ápice após a rejeição. Era provável que não tivesse à espera.

- Como é que estás tão calmo?

- Não estou calmo Matilde, estou nervoso e não sei o que dizer. Por mais tempo que diga precisar, vai acontecer sempre a mesma coisa.

Mantive-me em silêncio, apenas a olhar para um André nervoso.

- Vou acabar a pensar em ti.

Tentei desviar o olhar, afastando-me um pouco mais dele. Eram sentimentos e emoções misturadas, aquilo que senti ao ouvir o que tinha a dizer.

Como se estivéssemos a voltar aos primeiros momentos em que trocamos palavras mais íntimas.

Porém, havia tanta coisa impossível de apagar desde então.

- E a querer estar contigo,

- Não consigo acreditar em ti André, és uma pessoa instável no que dizes sentir por mim...

- Instável? Sempre disse que gostava de ti. Nunca foi essa a questão.

- Não entendes, pois não?

Franziu a sobrancelha, o que me levou a ser sincera e direta. Aquele ambiente, o vai não vai, tinha de acabar. E se não era por iniciativa dele, teria de ser feito por mim.

- Fui traída André, como é que achas que isso me deixa em relação a ti? - Foi fácil deixá-lo desconfortável.

- Pensei que já tivéssemos falado sobre isso. Eu não sou o João.

- Não tiveste culpa, obviamente. Claro que não és o João, mas preciso daquilo que não és capaz de dar. - Levei a mão ao cabelo, receosa.

- E o que é isso?

- Segurança suficiente para me deixar levar numa relação. Não consegues ter algo sério comigo André.

- Claro que consigo. E quero! Raparigas são sempre oito ou oitenta. Foda-se, são só vocês que podem ficar inseguras? És só tu que tens direito a isso?

- Não foi isso que disse!

- É o que demonstras! - Mostrou-me um pouco irritado, até o tom de voz se alterou ligeiramente.

- Não vires isto contra mim! Sempre te disse aquilo que sentia!

- Fiz o mesmo. Nunca te fiz passar por parva ou aproveitei-me de ti. Foda-se, e ainda consegues apontar-me o dedo? A meu ver, estás a ser injusta.

Suspirei, tentando percebe-lo.

- A única coisa que te pedi foi espaço para pensar! Queria ter certezas para te dar a segurança que precisas.

Mantive-me em silêncio, começava a sentir-me um tanto frágil. Nunca vi um André tão transparente. Pensei que não fosse capaz de dizer o que sentia, agora que estávamos frente à frente.

O que me surpreendeu bastante, pois o rapaz esclarecia cada dúvida que nestes dias fui levantando.

- O que é que foste logo pensar? O mais fácil. Há outra pessoa.

- Mudaste de atitude!

- E tem logo que existir outra pessoa? Ó Matilde, por favor. Nunca pensaste que não eras a única com receios?

- No momento não, não pensei. - Olhei para o André. - Porque uma pessoa não perde os sentimentos à toa! E foi nisso que me foquei, admito.

- Nunca perdi os sentimentos, foda-se, tens tanta consideração...

Ironizou, novamente chateado.

- Vou voltar para o bar, não tenho mais para te dizer. Sinceramente, pensei que me conhecesses melhor.

(...)

O que me dizem em relação a estes dois?

Tenho que começar a arranjar forma de terminar a história, não tinha ideia que ia sair algo tão... Desenvolvido.

TRUST  ➛  ANDRÉ HORTAOnde histórias criam vida. Descubra agora